From fairest creatures we desire increase...
Que diferença existe
entre a vida
e a morte
no movimento de ser?
A vida é em si
essencialmente
memória,
um quase acontecer
nas ilusões dos atos
e fatos.
Este Blog é destinado ao exercicio ludico de construção da minima moralia da individualidade humana; é expressão da individuação como meta e finalidade ontológica que se faz no dialogo entre o complexo outro que é o mundo e a multiplicidade de eus que nos define no micro cosmos de cada individualidade. Em poucas palavras, ele é um esforço de consciência e alma em movimento...entre o virtual, o real, o simbolo e o sonho.
quinta-feira, 3 de janeiro de 2008
quarta-feira, 2 de janeiro de 2008
SHAKESPEARE E CHAUCER
Segundo o grande crítico literário Harold Bloom, existem em Shakespeare apenas três influências literárias significativas: Marlowe, Chaucer e a Bíblia Inglesa. Falando especificamente sobre a influência de Chaucer, talvez a mais decisiva, sirvo-me aqui de alguns apontamentos de Bloom:
“... Mais do que Marlowe ou mesmo do que a Bíblia Inglesa, Chaucer foi o principal precursor de Shakespeare por ter proporcionado ao dramaturgo a referência crucial que conduziu à sua maior originalidade: a representação da mudança ao mostrar os indivíduos ponderando sobre o próprio discurso e modificando-se mediante essa consideração. Julgamos banal, e até mesmo natural esse modo de representação, porém não é possível encontrá-lo em Homero ou na Bíblia, nem em Eurípides ou em Dante.”
(Harold Bloom. Abaixo as Verdades Sagradas: Poesia e crença desde a Bíblia até nossos dias. Tradução de Alpío Correa de França Neto e Heitor Ferreira da Costa. SP: Companhia das Letras, 1993, p. 68)
Desta originalidade de corre o seguinte:
“Shakespeare foi um deus mortal ( como Victor Hugo aspirou a ser), porque sua arte não era, de forma alguma, uma mimese. Um modo de representação que sempre está à frente de qualquer realidade que se desenvolva no plano histórico por força nos contem mais do que somos capazes de contê-la.” ( Idem p.81)
Shakespeare realmente vai além do princípio ficcional da narrativa literária, ele cria vida na complexidade cognitiva e originalidade de seus personagens. O realizar-se em linguagem que os faz singularmente “autônomos” e “inconscientes” na arquitetura de suas escolhas é a essência da genialidade única e atemporal do autor, aquilo que o torna tão familiar e essencial a nossa sensibilidade contemporanea.
“... Mais do que Marlowe ou mesmo do que a Bíblia Inglesa, Chaucer foi o principal precursor de Shakespeare por ter proporcionado ao dramaturgo a referência crucial que conduziu à sua maior originalidade: a representação da mudança ao mostrar os indivíduos ponderando sobre o próprio discurso e modificando-se mediante essa consideração. Julgamos banal, e até mesmo natural esse modo de representação, porém não é possível encontrá-lo em Homero ou na Bíblia, nem em Eurípides ou em Dante.”
(Harold Bloom. Abaixo as Verdades Sagradas: Poesia e crença desde a Bíblia até nossos dias. Tradução de Alpío Correa de França Neto e Heitor Ferreira da Costa. SP: Companhia das Letras, 1993, p. 68)
Desta originalidade de corre o seguinte:
“Shakespeare foi um deus mortal ( como Victor Hugo aspirou a ser), porque sua arte não era, de forma alguma, uma mimese. Um modo de representação que sempre está à frente de qualquer realidade que se desenvolva no plano histórico por força nos contem mais do que somos capazes de contê-la.” ( Idem p.81)
Shakespeare realmente vai além do princípio ficcional da narrativa literária, ele cria vida na complexidade cognitiva e originalidade de seus personagens. O realizar-se em linguagem que os faz singularmente “autônomos” e “inconscientes” na arquitetura de suas escolhas é a essência da genialidade única e atemporal do autor, aquilo que o torna tão familiar e essencial a nossa sensibilidade contemporanea.
META IDENTIDADE
Sou somente
Meu próprio esboço
No fato de cada ato,
Palavra e gesto.
Sou o imperfeito
E incompleto esforço
De buscar a mim mesmo
Na definição de um rosto
Cada vez mais
Distante.
Meu próprio esboço
No fato de cada ato,
Palavra e gesto.
Sou o imperfeito
E incompleto esforço
De buscar a mim mesmo
Na definição de um rosto
Cada vez mais
Distante.
domingo, 30 de dezembro de 2007
CRÔNICA RELÂMPAGO XVII
Apreendemos o passar dos anos de modo muito diferente de como faziam nossos avós. Nos marcos cronológicos que interiorizamos já não codificamos ou vislumbramos uma sequência linear condicionada a realização de planos, metas e projetos biográficos. Hoje em dia, os anos são descartáveis e indignos de um lugar definido nos arquivos falhos da memória. Vivemos cada vez mais em um eterno presente no episódico permanecer no mundo. O fim de um ano se faz uma mecânica troca de calendário e o futuro nos interessa cada vez menos...
REVEILLON
terça-feira, 25 de dezembro de 2007
NEMETON...
O sol aberto em azul
Parece vestir o vento
Que me cobre o corpo
E a alma.
Sou parte da paisagem
Viva em verde
Onde provisoriamente
Não existo
No sentimento vivo do
Vasto espaço
Onde me escapo.
Rendo-me
Ao silêncio
De uma metafísica natureza
E, por um segundo,
Quase acredito
Na realidade do mundo.
Parece vestir o vento
Que me cobre o corpo
E a alma.
Sou parte da paisagem
Viva em verde
Onde provisoriamente
Não existo
No sentimento vivo do
Vasto espaço
Onde me escapo.
Rendo-me
Ao silêncio
De uma metafísica natureza
E, por um segundo,
Quase acredito
Na realidade do mundo.
META VERDADE OU MUITO ALEM DO PRINCÍPIO DA REALIDADE
O saber científico, tal como o conhecemos, é um legado de fins da idade média. Pode-se dizer que, em primeira mão, ele se apresenta no ocidente através do nominalismo britânico de Duns Scot e Ockham que estabelece uma diferenciação entre ciência e teologia...
Apesar disso, entretanto, a desconstrução da referência de verdade é uma aventura pós-moderna, um esforço, ainda em movimento, de destruição das mais certas esperanças de um mundo ordenado e possível de explicação e sentido a luz do intelecto e da razão. Poder-se-ia dizer: uma recusa de qualquer fé, seja laica ou metafísica, na afirmação da incerteza como inspiração de nossas diversas imagens e linguagens possíveis de mundo e realidade, é ainda um desafio a ser respondido. Por enquanto, ele é apenas um método exótico para escapar as armadilhas do real...
Apesar disso, entretanto, a desconstrução da referência de verdade é uma aventura pós-moderna, um esforço, ainda em movimento, de destruição das mais certas esperanças de um mundo ordenado e possível de explicação e sentido a luz do intelecto e da razão. Poder-se-ia dizer: uma recusa de qualquer fé, seja laica ou metafísica, na afirmação da incerteza como inspiração de nossas diversas imagens e linguagens possíveis de mundo e realidade, é ainda um desafio a ser respondido. Por enquanto, ele é apenas um método exótico para escapar as armadilhas do real...
sexta-feira, 21 de dezembro de 2007
JOHN LOCKE E OS LIMITES DA TOLERÂNCIA
Carta Sobre a Tolerância é um bom texto para um primeiro contato com o pensamento do célebre filósofo inglês John Locke ( 1632-1704), considerado o maior teórico do empirismo e do liberalismo, muito embora o conceito de liberal seja uma invenção do séc. XIX.
Tal obra foi originalmente escrita em latim, por volta dos anos de 1685 à 1689, durante o exílio do autor na Holanda. Foi editada no mesmo país anonimamente em 1689 recebendo, ainda em 1689, uma tradução para o inglês e uma edição na Inglaterra.
Cabe observar que, na época, o tema da tolerância encontrava-se no primeiro plano da pauta de discussões dos homens de letras na Holanda, muitos inclusive, tais como Locke, exilados. Tal peculiaridade encontra-se diretamente relacionada as traumáticas guerras religiosas que assolaram a Europa ao longo dos séc. XVI e XVII.
Basicamente, a tese central defendida na comentada epistola, é a distinção elementar entre o domínio do político e o domínio da fé. Mas essa laicização ou autonomia do político frente o religioso não implica necessariamente na irrestrita liberdade de consciência, coisa realmente impensável para o imaginário do séc. XVII. Para Locke, o princípio da tolerância, que é antes de tudo um principio legislativo, possui alguns limites. Ele não se aplica por exemplo aos católicos que em função dos laços políticos com o papa procuram influenciar o Estado e submetê-lo ao papismo. Também estão excluídos os ateus que, segundo ele, atentam contra os laços morais indispensáveis a uma comunidade política.
Seja como for, os limites estabelecidos por Locke em seu tempo para o principio da tolerância. É bom dizer, com o único objetivo de garantir a segurança da sociedade política, me faz naturalmente pensar a atualidade do tema em nossa complexa sociedade de inicio de milênio.
Em um mundo definido tanto pela cada vez mais dinâmica diversidade cultural, quanto pelo renascimento dos fundamentalismos e particularismos de toda espécie, é pertinente questionar os limites e o papel da tolerância que hoje em dia extrapola em muito a mera questão religiosa. Indo um pouco mais longe, adotando uma perspectiva pós-moderna, como estabelecer a tolerância quando a própria idéia de sociedade política e a fórmula estado-nação foram deslocadas ou ofuscadas por novas modalidades de vinculo social que, na falta de uma palavra melhor, chamaria de sociabilidades?
Talvez qualquer referência ao principio da tolerância pressuponha também o reconhecimento dos seus limites em um sentido diferente daquele percebido por Locke. Isso por que para nós o mais decisivo é a aceitação da divergência e do conflito como inerente a aceitação da pluralidade e que um consenso mínimo limita-se a mera definição das regras do jogo que, diga-se de passagem, são cada vez menos claras e evidentes.
Tal obra foi originalmente escrita em latim, por volta dos anos de 1685 à 1689, durante o exílio do autor na Holanda. Foi editada no mesmo país anonimamente em 1689 recebendo, ainda em 1689, uma tradução para o inglês e uma edição na Inglaterra.
Cabe observar que, na época, o tema da tolerância encontrava-se no primeiro plano da pauta de discussões dos homens de letras na Holanda, muitos inclusive, tais como Locke, exilados. Tal peculiaridade encontra-se diretamente relacionada as traumáticas guerras religiosas que assolaram a Europa ao longo dos séc. XVI e XVII.
Basicamente, a tese central defendida na comentada epistola, é a distinção elementar entre o domínio do político e o domínio da fé. Mas essa laicização ou autonomia do político frente o religioso não implica necessariamente na irrestrita liberdade de consciência, coisa realmente impensável para o imaginário do séc. XVII. Para Locke, o princípio da tolerância, que é antes de tudo um principio legislativo, possui alguns limites. Ele não se aplica por exemplo aos católicos que em função dos laços políticos com o papa procuram influenciar o Estado e submetê-lo ao papismo. Também estão excluídos os ateus que, segundo ele, atentam contra os laços morais indispensáveis a uma comunidade política.
Seja como for, os limites estabelecidos por Locke em seu tempo para o principio da tolerância. É bom dizer, com o único objetivo de garantir a segurança da sociedade política, me faz naturalmente pensar a atualidade do tema em nossa complexa sociedade de inicio de milênio.
Em um mundo definido tanto pela cada vez mais dinâmica diversidade cultural, quanto pelo renascimento dos fundamentalismos e particularismos de toda espécie, é pertinente questionar os limites e o papel da tolerância que hoje em dia extrapola em muito a mera questão religiosa. Indo um pouco mais longe, adotando uma perspectiva pós-moderna, como estabelecer a tolerância quando a própria idéia de sociedade política e a fórmula estado-nação foram deslocadas ou ofuscadas por novas modalidades de vinculo social que, na falta de uma palavra melhor, chamaria de sociabilidades?
Talvez qualquer referência ao principio da tolerância pressuponha também o reconhecimento dos seus limites em um sentido diferente daquele percebido por Locke. Isso por que para nós o mais decisivo é a aceitação da divergência e do conflito como inerente a aceitação da pluralidade e que um consenso mínimo limita-se a mera definição das regras do jogo que, diga-se de passagem, são cada vez menos claras e evidentes.
NÃO ROMANTISMO
Hoje não busco mais
Amores perfeitos
Para enganar
A imperfeição do mundo
E o trágico abraço
Da discreta loucura humana.
Procuro apenas
Os lábios e a alma
De uma mulher que saiba
O intenso caos sereno
De toda a vida,
Vislumbrando comigo
Horizontes passantes
No ato do fazer conjunto
De amanhães provisórios
Sem segredo de futuro
E acasos de passado.
Sonho qualquer ant sacramento
No mágico da natureza
Em pura afirmação da vida.
Amores perfeitos
Para enganar
A imperfeição do mundo
E o trágico abraço
Da discreta loucura humana.
Procuro apenas
Os lábios e a alma
De uma mulher que saiba
O intenso caos sereno
De toda a vida,
Vislumbrando comigo
Horizontes passantes
No ato do fazer conjunto
De amanhães provisórios
Sem segredo de futuro
E acasos de passado.
Sonho qualquer ant sacramento
No mágico da natureza
Em pura afirmação da vida.
quarta-feira, 19 de dezembro de 2007
CRÔNICA RELÂMPAGO XVI
O vagar dos anos e o conseqüente sentimento do tempo dentro de nós, quando tomado como objeto de devaneios e reflexões não ultrapassa a o constelar de uma consciência do devir como lugar e horizonte do acontecer da vida de um modo geral.
Tudo passa no transformar-se de todas as coisas, no acontecer impreciso e imprevisível de nossas precárias biografias imersas no caótico fazer-se do mundo.
Mas o que somos, qual sentido damos a nossas vidas, são questões que convenientemente aprendemos a descartar da pauta de nossas preocupações imediatas e cotidianas. Tais questões permanecem, entretanto, presentes como espectros a assombrar nossas mais íntimas e obscuras emoções e sentimentos de mundo imediatamente dado.
Mesmo que o “sentido da vida” tenha se tornado hoje um clichê inofensivo e banal, que no fundo já não tenhamos se quer um lugar preciso em nosso próprio mundo, ainda somos parcialmente existências em movimento tentando reter de si a própria essência no tempo onde nos escapamos em metamorfoses múltiplas de realidades, aparências e essências.
Tudo hoje em dia é uma questão de momento...
Tudo passa no transformar-se de todas as coisas, no acontecer impreciso e imprevisível de nossas precárias biografias imersas no caótico fazer-se do mundo.
Mas o que somos, qual sentido damos a nossas vidas, são questões que convenientemente aprendemos a descartar da pauta de nossas preocupações imediatas e cotidianas. Tais questões permanecem, entretanto, presentes como espectros a assombrar nossas mais íntimas e obscuras emoções e sentimentos de mundo imediatamente dado.
Mesmo que o “sentido da vida” tenha se tornado hoje um clichê inofensivo e banal, que no fundo já não tenhamos se quer um lugar preciso em nosso próprio mundo, ainda somos parcialmente existências em movimento tentando reter de si a própria essência no tempo onde nos escapamos em metamorfoses múltiplas de realidades, aparências e essências.
Tudo hoje em dia é uma questão de momento...
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