quarta-feira, 2 de janeiro de 2008

SHAKESPEARE E CHAUCER


Segundo o grande crítico literário Harold Bloom, existem em Shakespeare apenas três influências literárias significativas: Marlowe, Chaucer e a Bíblia Inglesa. Falando especificamente sobre a influência de Chaucer, talvez a mais decisiva, sirvo-me aqui de alguns apontamentos de Bloom:

“... Mais do que Marlowe ou mesmo do que a Bíblia Inglesa, Chaucer foi o principal precursor de Shakespeare por ter proporcionado ao dramaturgo a referência crucial que conduziu à sua maior originalidade: a representação da mudança ao mostrar os indivíduos ponderando sobre o próprio discurso e modificando-se mediante essa consideração. Julgamos banal, e até mesmo natural esse modo de representação, porém não é possível encontrá-lo em Homero ou na Bíblia, nem em Eurípides ou em Dante.”

(Harold Bloom. Abaixo as Verdades Sagradas: Poesia e crença desde a Bíblia até nossos dias. Tradução de Alpío Correa de França Neto e Heitor Ferreira da Costa. SP: Companhia das Letras, 1993, p. 68)

Desta originalidade de corre o seguinte:

“Shakespeare foi um deus mortal ( como Victor Hugo aspirou a ser), porque sua arte não era, de forma alguma, uma mimese. Um modo de representação que sempre está à frente de qualquer realidade que se desenvolva no plano histórico por força nos contem mais do que somos capazes de contê-la.” ( Idem p.81)

Shakespeare realmente vai além do princípio ficcional da narrativa literária, ele cria vida na complexidade cognitiva e originalidade de seus personagens. O realizar-se em linguagem que os faz singularmente “autônomos” e “inconscientes” na arquitetura de suas escolhas é a essência da genialidade única e atemporal do autor, aquilo que o torna tão familiar e essencial a nossa sensibilidade contemporanea.

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