Tenho a vida aberta
em todas
as direções do mundo,
vontades, sonhos
e sombras
me ensinam labirintos
no perder-se na alma das coisas.
Tenho tudo que busco
no vazio de mim mesmo.
Este Blog é destinado ao exercicio ludico de construção da minima moralia da individualidade humana; é expressão da individuação como meta e finalidade ontológica que se faz no dialogo entre o complexo outro que é o mundo e a multiplicidade de eus que nos define no micro cosmos de cada individualidade. Em poucas palavras, ele é um esforço de consciência e alma em movimento...entre o virtual, o real, o simbolo e o sonho.
terça-feira, 11 de setembro de 2007
VERDADE,MITO E COTIDIANO VIVIDO
O comportamento arcaico da personalidade total em cada ser humano, aquela tonalidade imagética e afetiva, que nos faz coletiva e individualmente sentir que a existência realmente existe, é o alfa e o ômega de todo fenômenologia cultural. Assim sendo, o sentimento de que alguma coisa é real, seja uma árvore, uma cadeira ou uma abstração lingüistica como o Estado ou qualquer conceito filosófico, ocorre em nós do mesmo modo que se estabelece no homem das sociedades arcaicas a convicção de que um deus habita uma árvore ou se manifesta mediante determinados fenômenos atmosféricos.
Tudo o que é concebido ou imaginado, não importa se em bases racionais ou intuitivas, é real na medida em que configura um fenômeno psíquico. Mesmo os espíritos mais leigos não tem dificuldades para admitir que por detrás da consciência, esta realidade cognitiva sobreposta aos cinco sentidos e condicionado a um relacionamento com o mundo exterior, existe um infindável e obscuro universo de fenômenos e processos cuja natureza pouco conhecemos ou somos até mesmo incapazes de conceber com a devida justeza. Nada me impede de identificar nestas regiões sombrias da psique algo daquilo que poderíamos tomar como sendo nossa “herança arcaica”, os imperativos da história viva da natureza. Sem sombra de dúvida, as representações do sagrado, de modo mais preciso do que qualquer outra variante da vida cultural, traduzem as impressões ou “revelações” deste “além” meta- psicológico. Não foi por mero capricho que desde as épocas mais remotas o homem viu-se através da experiência religiosa de algum modo envolvido, na condição de sujeito e objeto, por personificações intuitivas das mais profundas e misteriosas modalidades do ser projetadas no mundo material e em seus próprios processos vitais. A moderna psicologia profunda hoje nos oferece a possibilidade de desbravar o continente ainda maioritariamente virgem da inconsciência humana, descobrir novos modos de ler a história no homem e o homem na história, traduzindo, em termos modernos, o conhecimento intuitivamente psíquico de si e do mundo acumulado por um sem número de crenças e imagens do sagrado. Talvez elas digam mais sobre nosso atos, hábitos e pensamentos mundanos, do que a vida moderna permite imaginar.
Tudo o que é concebido ou imaginado, não importa se em bases racionais ou intuitivas, é real na medida em que configura um fenômeno psíquico. Mesmo os espíritos mais leigos não tem dificuldades para admitir que por detrás da consciência, esta realidade cognitiva sobreposta aos cinco sentidos e condicionado a um relacionamento com o mundo exterior, existe um infindável e obscuro universo de fenômenos e processos cuja natureza pouco conhecemos ou somos até mesmo incapazes de conceber com a devida justeza. Nada me impede de identificar nestas regiões sombrias da psique algo daquilo que poderíamos tomar como sendo nossa “herança arcaica”, os imperativos da história viva da natureza. Sem sombra de dúvida, as representações do sagrado, de modo mais preciso do que qualquer outra variante da vida cultural, traduzem as impressões ou “revelações” deste “além” meta- psicológico. Não foi por mero capricho que desde as épocas mais remotas o homem viu-se através da experiência religiosa de algum modo envolvido, na condição de sujeito e objeto, por personificações intuitivas das mais profundas e misteriosas modalidades do ser projetadas no mundo material e em seus próprios processos vitais. A moderna psicologia profunda hoje nos oferece a possibilidade de desbravar o continente ainda maioritariamente virgem da inconsciência humana, descobrir novos modos de ler a história no homem e o homem na história, traduzindo, em termos modernos, o conhecimento intuitivamente psíquico de si e do mundo acumulado por um sem número de crenças e imagens do sagrado. Talvez elas digam mais sobre nosso atos, hábitos e pensamentos mundanos, do que a vida moderna permite imaginar.
MARIE LOUISE von FRANZ E O ESTUDO DOS CONTOS DE FADA
A investigação científica dos processos psíquicos autônomos ou inconscientes, as interconexões e sobreposições dos significados das imagens arquétipicas, é uma tarefa irrealizável sem a devida consideração de nossas reações pessoais e afetivas.
Não podemos absolutamente excluir arbitrariamente do campo do entendimento nossos condicionamentos e pré disposições subjetivas sob o pretexto de sermos “acadêmicos” ou “objetivos” em nossas formulações.
Parafraseando MARIE LOUISE VON FRANZ, colaboradora de C.G.Jung durante longas décadas, assim como não se pode estudar as plantas sem situar o solo onde elas crescem e um bom jardineiro possui necessariamente um conhecimento do solo tão bom quanto as plantas, em mitologia, nós somos o solo dos temas simbólicos e não podemos ignorar, portanto, a base humana a partir da qual estes temas florescem.
Quero, neste capítulo, ocupar-me especificamente da interpretação dos contos de fada, assunto que mereceu de VON FRANZ uma atenção muito especial dentro do conjunto de suas pesquisas. Para ela os contos de fadas são
Não podemos absolutamente excluir arbitrariamente do campo do entendimento nossos condicionamentos e pré disposições subjetivas sob o pretexto de sermos “acadêmicos” ou “objetivos” em nossas formulações.
Parafraseando MARIE LOUISE VON FRANZ, colaboradora de C.G.Jung durante longas décadas, assim como não se pode estudar as plantas sem situar o solo onde elas crescem e um bom jardineiro possui necessariamente um conhecimento do solo tão bom quanto as plantas, em mitologia, nós somos o solo dos temas simbólicos e não podemos ignorar, portanto, a base humana a partir da qual estes temas florescem.
Quero, neste capítulo, ocupar-me especificamente da interpretação dos contos de fada, assunto que mereceu de VON FRANZ uma atenção muito especial dentro do conjunto de suas pesquisas. Para ela os contos de fadas são
“...a expressão mais pura e mais simples dos processos psíquicos do Inconsciente Coletivo. (...) Eles representam os arquétipos na sua forma mais simples, plena e concisa. Nesta forma pura, as imagens arquétipas fornecem-nos as melhores pistas para compreensão dos processos que se passam na psique coletiva. Nos mitos, lendas ou qualquer outro material mitológico mais elaborado , atingimos as estruturas básicas da psique humana através de uma exposição do material cultural. Mas nos contos de fada existe um material cultural consciente muito menos específico e, consequentemente, eles espelham mais claramente as estruturas básicas da psique.” (
FRANZ, Marie Louise von A Interpretação dos contos de Fada. SP: Ed Paulinas, 1990. pg.9)
A simplicidade dos contos de fadas, seu caráter intelectualmente elementar, proporcionam uma exposição singularmente clara e precisa dos fatos psíquicos. Tal material é encontrado nas sociedades de todo o mundo justamente entre as pessoas simples, como camponeses e índios, constituindo uma parcela significativa daquilo que denominamos como o folclore de um país ou de uma região. Seja sob a forma de sagas locais ou de contos de fadas genuínos como os que encantam a imaginação de nossas crianças, certas histórias ou relatos são incorporados ao patrimônio cultural de uma coletividade e se convertem em expressão de sua identidade e memória social. As imagens e símbolos estruturantes destas narrativas apresentam padrões elementares e arcaicos que permitem sua leitura como expressão de um “pensamento simbólico” ou de fantasia. Diante dele o intelecto acadêmico mostra-se medíocre em seu estilo de formulação destinado quase sempre a sustentar verdades absolutas motivado pela sede de prestígio, vontade de poder ou insegurança.
O estudo dos mitos e, especialmente dos contos de fadas, exige certo desprendimento mental ou sensibilidade para o objeto, ele pressupõe uma renuncia a necessidade de compreender e explicar do complexo egoico. O intelecto, quando indiferenciado de suas raízes instintivas torna-se destrutivo ao cristalizar uma atitude segundo a qual “isso é apenas isso” ou “esta é a verdade” inibindo assim outras possibilidades de expressão e percepção. Em outros termos, no meio acadêmico tradicionalmente o intelecto transcende seu próprio domínio de operações convertendo-se em um monstruoso impulso de maquinação arguta que se impõe unilateralmente a consciência e a matéria observada.
No estudo dos mitos e símbolos defrontamo-nos com um material que não comporta opiniões e interpretações unívocas, que não pode ser esgotado por nenhuma leitura ou significação possível. Neste sentido, o método analógico associativo, originário do campo da psicologia profunda, é apenas uma referência que me permite construir um determinado discurso sobre a natureza da matéria mitológica da qual participo tanto intelectualmente quanto emocionalmente.
Tomar a psique como objeto é, entre outras coisas, saber que uma parte dos conteúdos inconscientes permanece irremediavelmente inconsciente enquanto outra submete-se a capacidade discriminadora ou diferenciadora da consciência. Os vários motivos e figuras de um conto de fadas são um testemunho da realidade humana em sua forma mais elementar. Muitos conteúdos que hoje tomamos como parte integrante da personalidade consciente nestas antigas histórias apresentam-se ainda vinculados ao inconsciente estando projetados de modo autônomo através de certas situações ou personagens. A figura do herói nos contos de fadas, por exemplo, representa geralmente, um modelo ou padrão arquétipo que visa uma dada modalidade comportamental associada a algum aspecto do Si-mesmo psicológico associado a construção do ego humano.
WALTER BENJAMIM E O CONCEITO DE HISTÒRIA
“ Uma pintura de Klee intitulada “Angelus Novus” mostra um anjo que parece estar prestes a se afastar de alguma coisa que encara fixamente. Seus olhos estão arregalados, sua boca está aberta, suas asas estendidas. O anjo da história deve ter o mesmo aspecto. O seu rosto está voltado para o passado. Onde percebemos um desencadear de acontecimentos, ele vê apenas uma única catástrofe, que não para de acumular destroços sobre destroços, e depois os atira a seus pés. O anjo gostaria de ficar , despertar os mortos, e reconstruir o que foi destruído. Mas uma tempestade sopra do Paraíso ; e o vento bate em suas asas com tamanha violência , que o anjo não consegue mais fecha-las. Essa tempestade o empurra inexoravelmente em direção ao futuro, para o qual as suas costas estão voltadas, enquanto a pilha de destroços sobe ao céu. Essa tempestade é o que chamamos de progresso.”
Walter Benjamim in, Teses sobre o conceito de história .
A 9º tese sobre o conceito de história de Walter Benjamim, inspirada pelo Angelus Novus de Paul Klee, e influenciada por um poema do seu amigo, o historiador Gerson Scholem, pode ser definida, em linhas gerais, como uma breve narrativa alegórica sobre a tensão entre o passado e o futuro que condiciona toda consciência do presente.
Trata-se de uma crítica a noção de progresso, tão cara a cultura pós-iluminista, e uma original “leitura negativa” do processo histórico. Tal constatação não escapa, naturalmente, nem mesmo ao leitor mais desatento e desenformado, que ignore o contexto em que o texto foi concebido: a caótica Europa de 1940,ano de guerra no qual o nefasto pacto Hitler/Stalin atentava contra as mais sinceras esperanças da civilização ocidental frente o espectro concreto da barbárie. Estou inteiramente de acordo com Robert Alter quando diz que:
Walter Benjamim in, Teses sobre o conceito de história .
A 9º tese sobre o conceito de história de Walter Benjamim, inspirada pelo Angelus Novus de Paul Klee, e influenciada por um poema do seu amigo, o historiador Gerson Scholem, pode ser definida, em linhas gerais, como uma breve narrativa alegórica sobre a tensão entre o passado e o futuro que condiciona toda consciência do presente.
Trata-se de uma crítica a noção de progresso, tão cara a cultura pós-iluminista, e uma original “leitura negativa” do processo histórico. Tal constatação não escapa, naturalmente, nem mesmo ao leitor mais desatento e desenformado, que ignore o contexto em que o texto foi concebido: a caótica Europa de 1940,ano de guerra no qual o nefasto pacto Hitler/Stalin atentava contra as mais sinceras esperanças da civilização ocidental frente o espectro concreto da barbárie. Estou inteiramente de acordo com Robert Alter quando diz que:
“ Não faz diferença se tomamos o anjo da maneira que Benjamim o apresenta, como uma alegoria geral da inflexibilidade com que se deve acompanhar o desenvolvimento da história- “Onde percebemos um desencadear de acontecimentos, ele vê apenas uma única catástrofe”- ou se vemos nele, como sugeriu Rolf Tiedemann num ensaio circunspecto, uma representação do materialismo histórico. O que importa é que a tensão entre o passado e o futuro, que, como já vimos, ocupa um lugar fundamental no pensamento de Benjamim, atinge o seu clímax aqui, ameaçando desmantelar todo o raciocínio que ele estava tentando montar sobre o objeto e o caráter do processo histórico. Esta imagem da história como uma pilha de destroços que atinge o céu e como uma catástrofe contínua reflete, obviamente, o momento que Benjamim vivia: a primavera de 1940, quando a maior parte da Europa estava sob a sombra da suástica, e Stalin e Hitler tinham se unido num pacto assassino. No entanto, o terrível estranhamento em relação a um passado harmonioso, que tinha suas bases , em última análise, na velha história hebraica da expulsão do Éden, era um componente importante do pensamento de Benjamim desde a década de 1920.É difícil deixar de entender a última frase , “ Essa tempestade é o que chamamos de progresso” , como uma amarga ironia, apesar do lado marxista e messiânico de Benjamim provavelmente procurar ver nela um sentido mais positivo. De qualquer maneira, o anjo, uma espécie de refugiado atônico do mundo do simbolismo religioso, não se encontra em um eixo vertical entre o celestial e o terrestre, como no poema de Scholem, mas sim num eixo temporal entre o sonho da origem paradisíaca e o prospecto inconcebível – ou seria ele um pesadelo? – daquilo que se encontra no fim da longa catástrofe da história.”(Robert Alter, Anjos necessários: tradição e modernidade em Kafka, Benjamim e Scholem; pg.149-150. )
O passado, como construção e apropriação contínua de um presente, como rememoração e “relâmpago”, sugerido pela 5º tese, parece desfazer-se na 9°, onde o anjo, enquanto alter ego mítico do historiador, denuncia a impossibilidade trágica de qualquer leitura “positiva” da história, pois enxerga apenas um tempo sem nenhum “agora” ou qualquer outra possibilidade que transcenda a inexorável tragicidade do progresso, do devir, contra toda permanença e realidade dada. Já não é possível despertar os mortos ou reconstruir o que foi destruído. A tempestade do progresso nos afasta cada vez mais da origem, do “paraíso”, nos esvaziando de todo significado, de toda tradição. Desta forma, o anjo da história de Benjamim, “este refugiado atônico do mundo dos símbolos”, é um mito moderno que anuncia a barbárie, um desenraizamento radical, que nos obriga a uma ruptura nunca antes possível, a um reinicio absoluto, frente ao pesadelo da razão e da própria vida contemporânea, cada vez mais esvaziada de significados.
Todo o universo de imagens, crenças e experiências que correspondem ao mundo pré- moderno da tradição, permanecem, entretanto, vivos como forças subterrâneas no imaginário contemporâneo. Apenas nossa consciência diferenciada do inconsciente já não é mais capaz de percebe-las ou vivência-las como antigamente.
segunda-feira, 10 de setembro de 2007
DELIRIO E RISCO
Tento um pulo no infinito,
tento a vida e a morte
em apostas azuis e líricas
de nítidas noites.
Tento o tudo ou nada
de ser em finitude;
de saborear limites e dores
até a realização mais profunda
da carne da minh'alma.
tento a vida e a morte
em apostas azuis e líricas
de nítidas noites.
Tento o tudo ou nada
de ser em finitude;
de saborear limites e dores
até a realização mais profunda
da carne da minh'alma.
LITERATURA INGLESA VI
Robert Louis Stevenson ( 1850-1894) foi, sem dúvidas, um dos mais expressivos e imaginativos autores da Inglaterra Vitoriana. Mesmo quando não associadas, em um primeiro momento, ao seu nome, suas obras estão profundamente enraizadas em nosso imaginário ficcional ou a doces lembranças dos tempos idos de infância. Basta citar seus dois romances de aventura mais consagrados: A Ilha do Tesouro e o Médico e o Monstro.... Basta tal menção para atestar a familiaridade do autor em nosso mias íntimo imaginário.
Mas o que mais interessa nas histórias e ensaios de Stevenson é a amoralidade de suas aventuras. Elas não nos impõem qualquer lição de moral ou teleologia racional... Apenas nos fala de risco e aventura na construção de nossas individualidades, na emoção das descobertas que reinventam o mundo dentro da gente.
Mas o que mais interessa nas histórias e ensaios de Stevenson é a amoralidade de suas aventuras. Elas não nos impõem qualquer lição de moral ou teleologia racional... Apenas nos fala de risco e aventura na construção de nossas individualidades, na emoção das descobertas que reinventam o mundo dentro da gente.
quinta-feira, 6 de setembro de 2007
DESLOCAMENTO
A vida amarrotada e suja
me faz tocar a alma das coisas,
a fantasia de cada objeto,
pensamento e imagem
onde existo.
Tento brincar no caos do mundo
até o infinito do espelho do outro
que não sou....
Invento um nada,
qualquer ordem,
no vento
que me espalha
sobre tudo
até o limite
de descrer em mim...
e saber mil mortes,
milhões de vozes
em existência
de pessoas, coisas
e além...
me faz tocar a alma das coisas,
a fantasia de cada objeto,
pensamento e imagem
onde existo.
Tento brincar no caos do mundo
até o infinito do espelho do outro
que não sou....
Invento um nada,
qualquer ordem,
no vento
que me espalha
sobre tudo
até o limite
de descrer em mim...
e saber mil mortes,
milhões de vozes
em existência
de pessoas, coisas
e além...
PAUL ZUNTHOR: BABEL E O INACABAMENTO
Um dos mais singulares e ricos escritos historiográficos que conheço é certamente Babel e o Inacabamento do historiador medievalista Paul Zunthor.... Esta é sua última obra... aquela onde o poeta ofusca o historiador em um derradeiro grito frente ao inacabamento ontológico contra o qual se debate toda escrita da história.
Escrever sobre o mito de babel era um projeto antigo, mas sempre adiado pelo autor Seu editor Francês, Thierry Marchaisse em sua nota à edição francesa do livro, nos fala sobre o signo do inacabamento sob o qual se construiu a narrativa de babel:
“A ideia do meu livro, confiava ele ao seu irmão, Louis Zunthor, durante a última conversa telefônica entre os dois, é um pouco o negativo da eternidade... Decerto que o não acabarei... Bem vistas as coisas, talvez seja melhor assim...” E é legítimo pensar que ele cogitava então ( depois de tantos inacamentos sucessivos e puramente contingentes) nessa outra forma de inacabamento, necessário e essencial, que o seu título anunciava e que ele entendia, aliais, “de maneira dinâmica, processo e não tanto um fim absoluto”. De facto, se o “inacabamento” é o outro nome de Babel, como poderia este livro acabar melhor do que permanentemente inacabado? E é seguramente assim que se deve compreender uma nota não datada redigida no hospital e encontrada após a sua morte ( 11 de janeiro de 1995), a qual indica que, até o fim, ele terá hesitado sobre a última frase deste livro e até mesmo ponderado deixar a outros o cuidado de a completar:
“ Babel
Refazer última frase:
...e esta centelha que aos 80 anos se lançou para ir ter
ao seu próprio foco talvez, o haja falhado por um nadinha.
E em nota, se eu morrer antes da publicação:
P.Z. Morreu no dia...1995.”(Paul Zunthor. Babel ou o Inacamento: Reflexões sobre o mito de Babel. Tradução de Germiniano Cascais Franco; Lisboa: Editora Bizâncio, 1998; p. 10 et seq. )
O último parágrafo do livro complementa este ultimo fragmento:
“Escrevo isto de todos nós. Num outro teclado, escrevo-o de mim. Eis-me, no momento em que componho estas linhas, chegando aos oitenta anos; a idade, como sói dizer-se, de balanço. Como havia de o fazer? A vida foi demasiadamente longa e demasiado breve; nada ainda me anuncia o fim dela com urgência. E porquê, céus! O “fim”? A cada quebra de ímpeto, voltamos a arrancar; e reanima-se o desejo de ser; de saltar o muro, de correr ao encontro de...quê? É assim que se existe, e que nada jamais de acaba; a própria morte não será decerto outra coisa senão a queda derradeira dessa centelha que, agora, volta de vez ao seu foco.”
(Ibidem; p. 227 et seq. )
A cidade e a torre de Babel servem de alegoria ao malogro do esforço civilizacional, expressam nossa angustia diante do inútil esforço de viver contra o tempo que a tudo devora e diante do qual sucumbimos sempre e de novo no esboço permanente do humano..
terça-feira, 4 de setembro de 2007
ROTINA E POESIA
LADO ESQUERDO
Ao lado esquerdo
de mim mesmo
há noites e luas
a procura de estrelas
Há sonos de infância
e cansaços de mundo
no perder e ganhar destinos
em cada ato diurno.
Ao lado esquerdo
de mim mesmo
sofrem alegrias
no riso de madrugadas,
vive um encanto
de outras e possíveis
existências
que de mim se perderam
na ofuscação dos dias.
de mim mesmo
há noites e luas
a procura de estrelas
Há sonos de infância
e cansaços de mundo
no perder e ganhar destinos
em cada ato diurno.
Ao lado esquerdo
de mim mesmo
sofrem alegrias
no riso de madrugadas,
vive um encanto
de outras e possíveis
existências
que de mim se perderam
na ofuscação dos dias.
SEXTA FEIRA
A sexta feira decora as paredes de casa
e se deixa em cada coisa
como um perfume de diversão e ócio,
talvez como minimo tempo de mim mesmo...
ou avesso de corpo
no mais profundo do físico
sentimento de todas as coisas
em um vento de pensamento...
Quem sabe ainda
apenas paz de certeza nervosa
de VIDA...
A sexta feira quase não existe...
O TEMPO E O DIA....
INTUIÇÃO DE TEMPOS EM VENTOS
Um arbitrário
e desordenado ensaio
de atos e fatos
compõe uma fantasia
de tempos idos,
imaginação sem sentido
de um mais perfeito
mundo de todos os dias.
Visita-me o infantil desejo
de amanhãs em cores vivas
e todas as ausências transmutam-se
em um suspiro inútil
que refaz o fatigado da tarde
em que me perco em pensamentos.
MANHÃ ABERTA
As vezes o céu nos diz bom dia
na sua ilegível presença
em paisagens de mundo.
As vezes a manhã nos afaga
no gratuito das coisas e gestos
do ser e estar em cotidiano.
Saboreamos limitados
a mera existência em corpo
alem de todo pensamento
sabendo o gosto profundo
de cada acontecimento.
Assinar:
Postagens (Atom)