sexta-feira, 28 de junho de 2019

ENTRE O PENSADO E O IMPOSSÍVEL


Entre o pensado e o possível,
Invento o infinito,
Abraço o inesperado.

Sei que nada é dado,
Tudo é devir...

O vento visita a hora
Enquanto me fala o espaço
E meu corpo acontece
como coisa entre coisas.

Estou sempre em movimento
No meio da paisagem.
Estou sempre reinventando
O possível e o pensado.

quarta-feira, 26 de junho de 2019

O ESTRANGEIRO COMO SOMBRA

A consciência é a sombra de um estrangeiro na concretude do vivente em sua corporeidade. Existir, afinal, é ser um corpo. Este é o nosso acontecimento, nossa presença em um mundo de planos e diversidades.

Cada existência é uma micro geografia que extrapola a linguagem, que recusa o estrangeiro que na ignorância do corpo captura a consciência. 

Mas tudo é corpo no dentro e no fora de nós mesmos. Mesmo quando o corpo é prisioneiro deste estrangeiro antropológico que se insinua na consciência.

sexta-feira, 21 de junho de 2019

A HISTÓRIA PELO AVESSO


Fatos e documentos não ensinam o tempo,
Apenas alimentam ilusões historiográficas.
Já o devir não é humano,
Não é teleologia.
É a imprecisão do múltiplo,
Da natureza e das pulsões.
A história não está nos arquivos
Que sacramentam silêncios
Em banal iminência.
Ela está no corpo que definha,
na paisagem que passa,
Inventando vestígios
E alimentando imaginações.
A história é a impertinência do intempestivo.
É o que dura
E o que através de nós persiste.
É tudo aquilo que não é humano
Mas através do homem existe
No virtual da memória e do porvir.

terça-feira, 18 de junho de 2019

GAIA CIÊNCIA



A terra crua e  enfeitada de verde,
Não se conforma  a radiografia dos mapas,
As analises dos especialistas.

Ela é senhora do seu corpo
E dona de sua poesia.

Sua carne é fronteira
Entre o orgânico e o inorgânico,
É movimento, ciclo,
Transformação e multiplicidade de planos,
Texturas e experiências.

A terra viva  inventa tudo aquilo
Que para nós é definido como natureza.
Dela depende tudo aquilo que se inventa,
Todas as nossas ilusões de humanidade
E todas as possibilidades da filosofia.


INSIGNIFICÂNCIA




Tão profundo é o nada,
O efêmero e o pequeno.

Como é nobre a insignificância,
Grande a indiferença,
O anonimato e o alheamento!

Quero ter a consciência de uma formiga,
Ser inteiramente o ambiente
E intensamente na nudez da vida.

PRECARIEDADE EXISTENCIAL




Entre sucatas contemplo a fragilidade da vida,
Apreendo a precariedade das coisas.

Sou corpo dentro de corpos,
Entre corpos,
Na paisagem viva
Que transcende a ilusão do rosto.

A meio caminho do orgânico e do inanimado
Componho atos, inercias
E acontecimentos mudos.

Há quem diga que existo.

Eu, pessoalmente duvido disso.

A MISÉRIA DA MEMÓRIA

Afinal, o que define o tempo é a memória e não o suceder de fatos e deslocamentos de nossa experiência cotidiana.

O amanhã é pleno de ontem. Há muito passado no nosso futuro. 

O passado não para de crescer realizando a brutalidade do esquecimento. 

O tempo é um modo do não ser.

sábado, 15 de junho de 2019

O ABISMO DO CONHECIMENTO



O conhecimento é um aprendizado de queda e vertigem.
Conhecer é cair profundamente de si mesmo,
É mergulhar no abismo do mundo,
Desaparecer no fundo da linguagem,
Tornar-se impuro,
Descrente,
Inimigo de toda verdade.


O conhecimento só é possível a uma consciência selvagem que não se limita as grades de qualquer saber.

domingo, 9 de junho de 2019

EXPERIÊNCIA URBANA

Na geografia urbana cada um de nós é apenas um ponto em deslocamento . Mas cada ponto realiza a paisagem na invenção de um território. 

A cidade é experimentação e movimento, deslocamento constante. Ela respira através dos seus fluxos. 

A cidade é um labirinto de cenários vivos.

sábado, 8 de junho de 2019

ESTRANGEIRISMO E IDENTIDADE

A experiência do outro é a experiência do estrangeiro. E o estrangeiro está em todas as partes quando nos confundimos com uma identidade.


O lugar do nós define o não lugar do outro, o vazio de si. Buscamos o familiar,  o autoritário plano da igualdade. 

Exigimos do mundo a semelhança, o abrigo da homogeneidade,  para torna-lo seguro, habitável. 

Nunca nos damos conta de que somos também um estrangeiro e que não há identidade que não nos desconstrua na invenção de subjetividades. A diferença nos incomoda pelo simples fato de ser alheia, fora de nós.

O temor do desconhecido é um dos instintos mais primitivos.

SEM PRECONCEITOS

Gosto de experimentar cada acontecimento do lado de fora do pensamento.


Procuro saber as coisas sem recorrer as pré definições, valores, e certezas ditadas pela imaginação social.

Tudo para mim é um pouco inclassificável, inconclusivo.
Não tento domesticar este grande absurdo que é a existência.

quinta-feira, 6 de junho de 2019

PASSADO



O passado escapa a lembrança...
Foge a identidade,
Ao fatos e interpretações.

Ele só pode existir através do agora.
É como um sonho,
Quase uma sombra,
De qualquer impossível porvir.

O passado dilui-se no devir.
Quase não é memória.
É presença, marca,
Vestígio...


segunda-feira, 3 de junho de 2019

A ARTE DE OLHAR


Poder olhar livremente,
Pensar sem o peso do dizer a verdade,
É a grande virtude do niilismo.

Toda convicção não passa de um ardil,
De um jogo moral,
Que nos escraviza a qualquer identidade
e ponto de vista.

Enxergamos quando o olhar não tem necessidade de ver,
Quando não há vontade de descrever.

A visão ultrapassa o limite dos olhos.

sábado, 1 de junho de 2019

VIDA E SONORIDADES


Existe uma sonoridade que define a ambientação, nosso modo de estar entre as coisas. 

Sonoridade sempre corporifica uma ação. Há sons de trabalho, de alegria, de tristeza, de presença, de alimentação. Toda atividade tem sua própria expressão sonora. 

Por isso a música não nos comunica um estado de espírito, mas uma ação. Musicalidade é uma estética do movimento.