quinta-feira, 31 de janeiro de 2019

AUTO RETRATO


Sou apenas uma pessoa viva
Falante e falada,
Afetante e afetada,
Perdida na paisagem.
Os usos do mundo me escapam
Através dos atos.
Existo profundamente
Onde não sou.
Tudo é intenso e diverso
Na intuição de um caos imenso.
A vida me ultrapassa através de cada palavra.

sexta-feira, 25 de janeiro de 2019

PALAVRA E SILÊNCIO



Gosto da palavra que nada informa.
Dos versos e frases que nada ensinam,
Que dispensam a farda da verdade,
E brincam com o ser das coisas
Em franco desatino.

Um pouco de confusão, por favor,
E alvoroço de letras dispersas.
Quero esconder minha voz na sensualidade das paisagens,
Inventar meu corpo dentro da cidade.

Gosto de palavras que visitam silêncios,
Que transbordam caladas de experiências.


INTENSIONALIDADE E TELEOLOGIA


Mesmo aqueles que buscam um destino ou um objetivo fixo não sabem o que vão encontrar através do caminho, se permanecerão fies ao seu objeto ao longo de sua busca e da invenção de suas narrativas e confissões de verdade.

Afinal, a experiência de viver é sempre imprevisível e todos os arranjos existenciais são provisórios e incertos. Dogmas e certezas podem nos definir um rosto, qualquer identidade. Mas não esclarecem este complexo fluxo de realidades que nos definem como um corpo através do mundo.

Habitamos processos e descobertas na medida em que socialmente inventamos a realidade. O chão sempre se move sob nossos pés. A questão é saber se mudamos com as coisas, ou mudamos as coisas, ou, ainda, se a própria mudança é este processo de encontro com as coisas mediante movimentos espirais de criação e recriação constante de formas de existência. Neste ponto confrontamos grandezas impessoais que nos atravessam e, ao mesmo tempo, nos configuram.


quinta-feira, 24 de janeiro de 2019

HIPERMODERNIDADE


Na hipermodernidade tudo é hybris,
tudo é exagerado,
Tudo transborda.
Tudo é excessivo.
Só há simulacro.
Onde há sentido
Existe o vazio.
Acontecem silêncios
Diante de um abismo pós moderno.

segunda-feira, 21 de janeiro de 2019

O CORPO NA NUDEZ DOS SIGNIFICADOS

O corpo não diz o eu. Ele é seu oposto.  Se o eu é um viver para si, o corpo é um viver para falta, para tudo que lhe transcende como conceito, para tudo que ele não é mas é através dele. Um sem número de bactérias e vermes definem um corpo. Ele é um arranjo múltiplo e provisório do mundo. 

O corpo transcende a linguagem. 

O corpo é mudo....

CORPO, MUNDO E SUBJETIVIDADE


É através do corpo que habitamos o mundo, que inventamos a nos mesmos mediante diversas estratégias de internalização do exterior. A subjetividade se produz neste processo que pressupõe sempre a pluralidade de um eu e de um outro. O próprio corpo afirma sua identidade móvel, múltipla, na medida em que se nutre de mundo, que é ele mesmo uma diversidade de coisas em uma unidade de arranjos provisórios, de interações permanentes. O subjetivo é sempre dialógico e condicionado a impessoalidade da linguagem, da circulação de signos e símbolos, dos seus arranjos de significado que sempre remetem a uma exterioridade.

Essa composição entre o corpo que  sou no movimento de estar contido e conter em si mesmo o mundo como experiência de si mesmo é o grande paradoxo que inventa a subjetividade em sua prossessualidade.

quinta-feira, 17 de janeiro de 2019

ESBOÇO DE UM TEXTO IMPOSSÍVEL


Pretendia apenas o vazio de uma incoerência textual que inventasse uma narrativa nômade estabelecendo uma moldura para o silêncio. Queria produzir através da linguagem um dizer que não pudesse ser reduzido a informação, a prisão de qualquer discurso disciplinar, normativo ou racional.

Trata-se aqui da busca do relato de um mundo nu, sensorial e imediato. Um mundo que de tão vasto é, ao mesmo tempo, particular, intimo. Um mundo que habita subjetivamente outros mundos em estado de indeterminação e mutação permanente.


Um mundo que é palavra, mas acontece nas entranhas da terra como experiência abstrata de tudo aquilo que experimento no plano orgânico e inorgânico da imaginação.

Este mundo que é o próprio corpo envolto pelo ambiente. Que estabelece um dentro e um fora coincidentes como um se fazer mudo e ilegível, mas que guarda as intensidades, plasticidade e movimentos de uma melodia. Esse mundo é a própria vida irredutível a si mesma, indiferente a tudo que é vivo. Mas isso é apenas linguagem.... A vida não esta no se fazer destas linhas.

AMBIENTAÇÕES


Gosto de dias de chuva,
De frio,
De paisagens antigas,
De vento, verde e de mar.

Gosto da casa desarrumada e vazia,
Do silêncio que atravessa os objetos
Quase gritando meu nome.

Gosto da cama desfeita,
De livros e discos.

Gosto do que parece sonho,
De ambientes que embriagam.


quarta-feira, 16 de janeiro de 2019

CARTOGRAFIA AFETIVA



Sei meu corpo no mundo e o mundo em meu corpo.
Tudo é em um só momento dentro e fora.
Paisagem e passagem
Sempre movimento.

Atravessa o corpo
O múltiplo em dispersão.

Há muitos tempos,
Inúmeras errâncias,
Pulsando como meu coração.

Desertos dispersam no vento
No vertiginoso  fluxo
Que define tudo.

A EDUCAÇÃO COMO PROBLEMA


O otimismo iluminista (ou socrático) de que a educação pode nos conduzir ao melhor dos mundos ou, seja, a emancipação ou maioridade da própria humanidade, ainda frequenta nosso imaginário contemporâneo. Talvez isto se deva ao fascínio pela “verdade” que orienta desde os gregos a chamada civilização ocidental. A mitificação do saber e do conhecimento, da razão, seja como traço divino no homem, como na Idade Media, ou como instrumento de transcendência da natureza, como na época moderna, nos conforma a modos de vida profundamente influenciados por uma suposta autoridade ou superioridade do conhecimento sobre a vida. O viver, o bem viver, não é tido como um valor, como uma estratégia pessoal de auto desenvolvimento.  A introjeção de  saberes formais, canônicos e hierarquizados é o parâmetro para definição daqueles cuja fala é ou não é pertinente em termos sociais.  Desta forma, a educação se reduz a um mecanismo de seleção e adequação a norma, a "verdade", e ao conformismo social. Ela não nos proporciona qualquer potencial emancipatório, como propagado pelas narrativas dominantes. 

segunda-feira, 14 de janeiro de 2019

ENTRE O EU E O MUNDO

Internalizar o mundo e saber a existência através das coisas define a vida. A consciência é sempre um deslocamento, um modo de escapar a si mesmo  através de cada gesto, de cada abstrato ato de pensamento. Quem sou eu é uma pergunta que não faz sentido. Não passo de um vazio que se inventa na fronteira incerta entre o eu e o mundo.

A VIDA DO PENSAMENTO


Não cabem “invenções” no plano do pensamento. As formulações apenas se propagam, se replicam. Possuem um movimento próprio, uma intensidade, que lembra as ondas do mar. No plano do pensamento a intuição, o sentimento e percepção das questões de  uma época, definem a possibilidade de transcendência de uma época anterior, estabelecem seus próprios limites e desafios.


domingo, 13 de janeiro de 2019

A AVENTURA DO PENSAMENTO

Vivemos presos à uma persona, a um nome próprio. É nosso lugar e nossa prisão. Evito usar o conceito de identidade. Nunca nos adequamos inteiramente aquilo que "somos", ao modo como nos vemos e somos vistos, ao nosso padrão de fala e questões vivências. Há sempre um outro inconformado dentro de nós mesmos, uma tendência ao além do dizível, dá verdade como experiência gramatical. É essa ruptura interna com nós mesmos, as metamorfoses de ser, que torna a existência uma aventura, uma busca constante. O pensamento sempre remete a uma errática aventura, ao deslocamento da fronteira de ser.

sábado, 12 de janeiro de 2019

A PATOLOGIA DA VERDADE

Ao longo de séculos a busca pela verdade e a razão se cristalizou no ocidente como a arche (princípio) do conhecimento. Está meta física da norma racional nos impôs o pensar através de modelos, de valores, através da recusa do mundo como imanência e diversidade.  A razão se tornou sinônimo de controle gramatical da vida, uma aposta ingênua contra o caos. A unilateralidade da cultura ocidental é sua maior patologia. Somos socialmente incapazes de lidar com a vida como um acúmulo descontínuo de mudanças espontâneas.

sexta-feira, 11 de janeiro de 2019

SABERES E PRISÕES


Saberes são como prisões. Nos fazem ver, fazer e dizer, segundo significados que inventam mundos, que estabelecem a normas e o erros. Dentro dos seus limites existe apenas o possível, o exprimível. Tudo é previsível e classificável. Nada pode escapar. Mesmo que os saberes não comunguem dos mesmos códigos, que se contradigam, sempre  impõem uns aos outros o mesmo valor de verdade, a mesma consensual mentira que sustenta o brilho do exercício da linguagem.


quinta-feira, 10 de janeiro de 2019

O QUE NÃO PODE SER DITO


A palavra porta uma urgência, uma vontade,
De dizer a vida em toda sua intensidade.

Ela tem gosto de impossível,
Guarda signos de sonhos perdidos.
Quase comunica...
                                        
Mas insiste sempre de novo.
É sempre outra....

Algo sempre está por ser dito,
Algo que sempre se cala,
que não encontra motivos,
e sempre retorna.


quarta-feira, 9 de janeiro de 2019

DO EU E DO MUNDO


O mundo, esta vastidão que se inscreve no diverso,
Contem em segredo todas as possibilidades de mim.
Mas não reconhece este que sou,
Pois me sabe outros no tempo e no espaço.

Confesso: tenho medo do mundo.
Sei que sua imprevisibilidade será um dia minha ruína.
Por outro lado, não existe distancia que me permita fugir dele.
O mundo sempre está onde sou.


terça-feira, 8 de janeiro de 2019

O VALOR DA VIDA

Nas sociedades contemporâneas é cada vez mais difícil para o indivíduo reconhecer-se como sujeito da sua existência e não como o joguete de forças impessoais ou determinações exteriores a ele mesmo é totalmente fora do seu controle. 


Afinal, o que pode para nós ainda tornar a vida um valor, um ato criativo? É no plano afetivo e do relacionamento com o outro que , mesmo com ceticismo, ainda buscamos algum vislumbre de autenticidade, de uma beleza de viver.

Mas não é suficiente. Nem para nós, nem para os outros. O que nos transforma ainda não tem nome.... É um apagar-se nas coisas vividas, uma compreensão sublime e estética de nossas experiências e ambientação em um dado tempo e espaço.

A descoberta e construção de um território existencial, comunicacional, onde o eu e o outro inventem o diverso, talvez seja nosso maior desafio no tempo presente.

LABIRINTO E VERTIGEM NA CONTEMPORÂNEIDADE



Na mitologia grega o labirinto de Creta construído por Dédalo pala alojar o lendário Minotauro parece ter estabelecido para nós o conceito de uma estrutura física formatada por desenhos de encaixes desordenados, seja voltados para um centro ou para varias saídas.  Mas o aspecto que quero ressaltar é que a imagem de labirinto esta mais  associada a uma experiência espaço sensorial de vertigem e desorientação do que propriamente a uma edificação prisional. Podemos vincula-la a experiência do vagar sem rumo, tema que é muito mais amplo. Desta forma, o gosto pela experiência labiríntica é presente tanto na arte quanto na narrativa mítico religiosa de iniciação para caracterizar imagens mentais onde o indivíduo é confrontado com algum tipo de estado de busca e desorientação. Por tal característica a experiência de labirinto é sempre solitária.

Embora vinculado tradicionalmente a busca por alguma experiência de verdade, o fato é que podemos hoje vincular a imagem do labirinto a uma fuga da própria verdade. Tal imagem pode representar no mundo contemporâneo a recusa das segmentações e coletivismos que nos definem a vida comum. Ela pode dizer a condição dos loucos e desajustados, convertendo-se em um símbolo de contra cultura.

   

NOTA SOBRE A DECADÊNCIA DA ARTE DA FOTOGRAFIA


A fotografia pode ser considerada a mais descartável de todas as artes. A banalização do olhar mecânico, a facilidade do registro digital, apagou qualquer vestígio de dignidade desta arte relativamente recente e típica do século XX.

Interpretar a realidade e inventar a vida através de  registros fotográficos tornou-se uma prática tão massificada, algo tão banal no nosso cotidiano, que nosso olhar foi demasiadamente poluído pela imagem como simulacro. As fotografias tornaram-se apenas poemas ruins e impublicáveis.

segunda-feira, 7 de janeiro de 2019

SOBRE PENSAR

Produzir pensamento é criar subjetividade. É um acontecimento coletivo,múltiplo, que tem o ritmo variado de uma canção. 

Pensar é também sentir, é natureza. É estar presente na paisagem que para nós se reduz a experiência de mundo.
O que somos nós além disso?

sexta-feira, 4 de janeiro de 2019

CONTRA A LITERATURA

Não estamos em busca de respostas, de certezas novas e conformismos gramaticais. 

Buscamos no nada do ser da  linguagem o povoado vazio de nossas imaginações.

Não é o dizer que nos liberta, mas a geografia virgem que ele revela na alienação das palavras.

Estamos em busca de novas perguntas contra todas as nossas certezas. Isso é o que foi a literatura. Isto é o que se tornou a anti literatura.... e tem gosto de Blanchot e Foucault....

O DIZER COMO NÃO SER


Meu discurso não busca santidade,
Não é o testemunho de um mundo verdade,
Nem mesmo intenciona o ilusório prazer
De qualquer dizer perfeito,
exemplo de sanidade.

Ultrapasso em cada palavra
A chancela do bem e do mal,
Do certo e do errado.

Eu digo!
E quantas alternativas,
Curvas, buracos e desvios
Existem neste pequeno dizer!

Que nada seja inequívoco.
Que tudo seja a decomposição do eu,
Esta fantasia do pensamento e dos sentidos.



VIDA


A vida não é objeto de definição.
Não é aquilo que nos assujeita.
Ela acontece em tudo o que é manifesto,
mas é basicamente potência.
Somos e não somos através dela.

Ser é, antes de tudo, uma incerteza,
Um perder-se na existência.