sexta-feira, 29 de setembro de 2017

A AVENTURA DE ESCREVER

Escrever é transcender o mundo fechado dos significados e dos significantes, é ir além da gramática sedentária da representação.

Escrever é uma forma de despersonificação, de buscar o fora de si como discurso através da vertigem das impressões,  articulando novos planos  de subjetivização e materialização de imanências.

Escrever é auto revelar-se como devir,

É um ato de criação não vinculado a qualquer construção de identidade, mas ao simples fluxo da imaginação e suas codificações e recortes da experiência de sentido.

sexta-feira, 22 de setembro de 2017

APRENDENDO COM OS SOFISTAS

Aprendi com os sofistas que a verdade é apenas uma intenção discursiva, uma pretensão de nossos enunciados. O ser é um efeito do dizer; a pedra só é pedra quando assim a reconheço através da palavra pedra. Mas as palavras, em seu significar das coisas, apenas nos oferecem a experiência do devir, uma estruturação do silêncio. A vida é um simulacro onde nos inventamos no fluxo de signos e símbolos. Eis o nosso modo natural de perceber a realidade como um artifício estruturante da própria consciência.


quarta-feira, 20 de setembro de 2017

MUSICA E PENSAMENTO

Não penso meus pensamentos.
Apenas os escuto
Como uma musica
Que me anima o corpo
Enquanto o mundo
Inventa silêncios
Me apartando dos outros.

Cada ideia tem seu ritmo,
Seu timbre e seu silêncio.
Mas somos todos

Péssimos músicos....

POR UMA VIDA NÃO FACISTA, PELA VIDA COMO OBRA DE ARTE!

É preciso libertar toda ação política de toda forma de paranoia e fórmulas totalizantes, ligar o desejo à realidade, apostando no múltiplo, na diferença, nos fluxos, nos agenciamentos móveis em relação aos sistemas.

Tudo que é produtivo é nômade e não sedentário, assim como o pensamento não confere a prática política qualquer valor de verdade. O indivíduo, por sua vez, é produto do poder, sendo inútil a afirmação de direitos, tal como tradicionalmente preconizado pela filosofia. É preciso desinvidualizar o individuo através da diversidade dos agenciamentos que tornam o grupo uma instância de  multiplicação e deslocamentos. É preciso tornar a própria vida uma obra de arte contra as artimanhas e seduções do poder politico, contra toda estilística fascista e constrangimentos institucionais. A liberdade é sempre movimento informe e incerto a ser construído como prática cotidiana de si mesmo e dos outros.

Quando Foucault, no paradigmático prefácio que fez a edição americana do Anti-Édipo, de Deleuze e Gatarri, nos convida a tomar esta obra, hoje clássica e essencial, como um tratado sobre ética, como uma crítica aos fascismos cotidianos e contemporâneos, ele também nos provoca a pensar a politica como estilo de vida e busca por novas técnicas de existência. Assim, a política se coloca como uma linha de fuga em relação ao jogo do poder, como a construção de uma estética ou cuidado de si. Nada mais atual em tempos em que a ação politica foi deteriorada pela afirmação vazia e normativa das ideologias.



terça-feira, 19 de setembro de 2017

A ARTE DE PENSAR

O pensamento não pode nos defender da instabilidade da existência ou da finitude. Ele não é uma resposta à vida e muito menos a solução para qualquer problema prático ou existencial. O pensamento é mais uma espécie de passa tempo, de jogo, onde inventamos subjetividades, onde criamos a nós mesmos como enunciados.

Existe uma distancia entre falar e pensar que é definida pelo modo como damos formas aos enunciados. A oralidade é mais teleológica do que a escrita, pois se encontra prisioneira do superficial da comunicação. Já o pensar encontra corpo na escrita, cuja construção não sofre pressão imediata de um destinatário da mensagem. Nem mesmo o pressupõe, pois se dobra sobre si mesma. Ou seja, o texto busca o próprio texto.

Pensar não é mais do que isso, inventar e costurar enunciados como quem uma tapeçaria. Os conceitos lhe proporcionam estampas, detalhes e lhe organizam. Mas tal atividade não possui qualquer outro fim que não seja ela mesma.


DÚVIDA

Talvez eu não seja
Inteiramente aquele que digo,
Ou que pensa,
Ou que sente,
Deseja e representa.

Talvez eu seja
O outro e a sombra.
A única conclusão

É o vazio.

segunda-feira, 18 de setembro de 2017

MAQUINAS DE GUERRA E PENSAMENTO NÔMADE



A virtualidade imanente da forma estado na filosofia de Deleuze e Gattari, inspirando-se na noção de guerra primitiva da etnologia de Pierre Clastres, nos oferece o conceito de maquina de guerra  nos provocando com desconcertantes  estratégias de pensamento e ação politica.

A maquina de guerra, em suas linhas de fuga, em seu nomadismo,  representa a recusa da forma-estado e mesmo da identidade como principio de oposição. A maquina de guerra é devir, não tem a guerra como seu objetivo. Quando aqui me refiro a “linhas de fuga” me reporto a  uma “vitalidade não orgânica”.

Em Deleuze , filosofia critica é ontologia, um lugar entre um devirmesmo e um devir- outro que já não reivindica o ser ou o acontecimento em seu sentido fenomenológico. Filosofia é, neste sentido, desterritorização na geografia de um novo campo de experiências definido por agenciamentos e devir. Filosofia é imanência.... A própria filosofia é um agenciamento.

A noção de maquinas de guerra propõem uma exterioridade em relação ao Estado, mesmo que passiveis de captura. Tal noção expõe uma tensão e um conflito constante entre o nômade do social e o sedentário normativo e hierárquico do Estado. A exteriorização que se busca na fuga  é atingir o ponto em que o controle já não disciplina os corpos. É preciso escapar a todas as estratégias de assujeitamento.


DEFINIÇÃO DE MUNDO

O mundo é puro e absurdo devir de micro realidades justapostas. Não funcionamos como um organismo, mas como uma massa densa e informe. O mundo, enquanto totalidade é simples abstração, ilusão cognitiva. Ele é aquilo que me informa enquanto individuo, enquanto apêndice de enunciados, signos e símbolos. O mundo é a abstração que nos define.


sexta-feira, 15 de setembro de 2017

CÉTICO

Minha voz é pequena.
Quase não me escutam.
Minhas palavras não servem
Aos meus desconhecidos
E nem impressionam meus amigos.
Tenho, aliais, muito pouco a dizer
Entre tantos e tantos discursos
Que nos estraga a vida.
Definho no meu silêncio
E na minha essencial descrença

Na força de todos os enunciados.

quinta-feira, 14 de setembro de 2017

POEMA PÓS ESTRUTURARISTA

Entre o ato e o fato
Habita o desejo,
Este abstrato e cego impulso,
Este absurdo impulso
Em direção a um objeto
Que só existe no querer
E nunca se define inteiramente
Como coisa.
Afinal, entre o ato e o fato

Não existe sujeito.

O CORPO

Estou condenado a ser este corpo.
Ele existe mais do que eu.
É coisa concreta,
Realidade dinâmica,
Em tempo e espaço.

O corpo tem seus lugares,
Seus silêncios e gritos.
As vezes é divertido.
Mas tento apaga-lo
Afirmando o eu contra o corpo.
Como se fosse possível ser

Algo mais do que um corpo.


terça-feira, 5 de setembro de 2017

PEDRAS DE SILÊNCIO

Atirei nos telhados da humanidade
Algumas pedras de silêncio.
Escutei um eco caindo,
Correndo contra o infinito.
Mas ele era ilegível.
Era, naturalmente,
Apenas o barulho

Do meu próprio silêncio....

CUIDADO DE SI E SUBJETIVAÇÃO

O cuidado de si, tal como entende o último Foucault, é um ética baseada no voltar-se para si mesmo, para o mundo e para o outro, estabelecendo uma estética da própria existência. Trata-se de um conceito que remonta a antiguidade grega. Como afirma Foucault em Hermenêutica do Sujeito, o cuidado de si é uma relação “singular, transcendente, do sujeito em relação ao que o rodeia, aos objetos que dispõe, como também aos outros com os quais se relaciona, ao seu próprio corpo e, enfim, a ele mesmo”.

O sujeito emerge, assim, como produto objetivo dos sistemas de saber e poder, como uma trama genealógica de subjetivação, onde poder é tanto poder sobre si mesmo quanto sobre outrem, mas onde a sujeição é transcendida pela subjetivação ética, pela construção de uma “ética do eu” em termos modernos. Falo da construção de formas de resistência as sujeições impostas pelas racionalidades modernas.




A TAGARELICE DO SILÊNCIO



Estamos perdendo  a capacidade de produzir e significar enunciados. Não que nossas gramaticas tenham se degradado. Mas por que os discursos se banalizaram. Se tornaram um objeto definido pelo corpo morto dos livros. É realmente difícil dizer qualquer coisa hoje em dia que não se reduza a banalidade da simples informação.

Significar o mundo já não passa pela capacidade de inventar novos enunciados, de codificar a realidade de um modo singular e único que, por sua irreprodutividade se consagre como obra aberta ou monumento gramatical. Somos cada vez mais prisioneiros da tagarelice do silêncio e não há muito a se falar sobre isso.