Dentre as variações estilísticas que compõem o complexo cenário do rock contemporâneo, o heavy metal é certamente a mais intensa e polêmica, tendo estado durante os anos 80 e 90 na linha de frente das tensões culturais envolvendo a identidade social moldada pelo rock and roll e a cultura tradicional. No caso norte americano tal polêmica chegou até mesmo aos tribunais, onde promotores públicos responsabilizavam musicas de Ozzy Osborne e Judas Priest por suicídios e assassinatos. Para não falar nas tentativas do próprio governo americano para influenciar a industria fonográfica a censurar e restringir as vendas de álbuns de heavy metal.
Segundo Ian Christe,
“Por sua própria natureza, o heavy metal sempre ameaçou o status quo, oferecendo uma alternativa aos shopping centers e às lanchonetes da região central dos Estados Unidos. Desde o Black Sabbath, as letras de heavy metal investigam os cantinhos do inconsciente, e, de Judas Priest a Metallica, todos tiravam suas trevas e maldições direto das páginas de escritores como Goethe e Nietzsche. Naturalmente, os jovens que analisavam as grandes questões de Deus e o diabo acabavam sendo levados ao heavy metal- esses músicos eram os únicos adultos que respeitavam sua curiosidade.”Eu sempre considerei meu público muito mais inteligente do que a maioria das pessoas pensa”, conta Ronnie James Dio.”Nós fazíamos musica com muito mais fibra do que a maioria que já tinha ouvido e acho que os jovens eram espertos o suficiente para entender”.
Mesmo quando figuras do heavy metal visitavam o Congresso na década de 1990 para pedir por uma reforma na lei eleitoral, eles ainda estavam sob a influência dos efeitos anteriores das audiências dos censores do PMRC, em Capitol Hill, na década de 1980. A caça às bruxas do heavy metal ainda estava voltada para a paisagem cultural dos estados Unidos, alimentada pelos cristãos fundamentalistas, para quem os demônios e as bruxas eram tão reais quanto as enchentes e a fome. Levados por muitos dos mesmos grupos religiosos que organizavam fogueiras para queimar discos nos anos 70- quando líderes religiosos juntavam todos os álbuns de heavy metal que haviam pertencido a seus fiéis para conflagração noturnas-, a cruzada antimetal foi travada durante a década de 1990 em uma nuvem de acusações e denuncias assustadoras.”
( Ian Christe. Heavy Metal: a História Completa. Tradução Milena Durante e Augusto Zantoz; SP: Arx, Saraiva, 2010, p.368-369)
Cabe ainda acrescentar que
“ Quando apareceram pela primeira vez, as pessoas envolvidas no universo heavy metal ocasionalmente se encontravam estigmatizadas de maneira injusta, alvos de algo que lembrava um complô caseiro contra o heavy metal. Em diversos graus de intensidade, havia três níveis básicos de ataques a headbangers: discriminação individual, processos ou queixas em nível local e movimentações de grande amplitude em torno da legislação, cujo objetivo era reprimir o heavy metal em todo o país.
O tipo mais comum de ataque aos headbangers era ser “culpado por usar camisetas pretas”, uma estigmatização informal de pessoas marcadas como aberração em virtude de suas roupas e cabelos compridos. Esses conflitos variavam desde o tácito preconceito socialmente aprovado, como ser cuidadosamente observado por donos de lojas, até ataques diretos aos headbangers, como ser repetitivamente indicados como responsáveis por qualquer problema em uma comunidade, simplesmente por usar preto. Os problemas geralmente tinham conclusões felizes, levando a batalhas inofensivas entre regras escolares para roupas que baniam as consideradas desrespeitosas das salas de aula. Tais casos não surpreendiam- o atrito da liberdade de expressão veio com a escolha pessoal de vestir-se de preto. Muitos metaleiros se deleitavam com os confrontos, como pode ser testemunhado pelo aumento de piercings no rosto e cabelos tingidos de preto na década de 1990.”
( idem p. 374)
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