Alguns depoimentos que integram a coletânea Mate-me Por Favor nos permitem vislumbrar o impacto simbólico do modo singular de se vestir introduzido pela cultura punk no cenário dos anos 70, então dominado pelos hippies.
É o caso do depoimento Mary Harron, ex-escritora de matérias para revista Punk
“Tive discussões terríveis com as pessoas durante todo aquele tempo que fiquei na Inglaterra, com todos os meus velhos amigos. No começo do punk todo mundo pensou- sem dúvida quando o punk inglês começou, e até mesmo o punk americano-, todo mundo pensou que fosse uma coisa horrível de direita nazi-violenta, racista e contra a todas as boas coisas da vida.
Eu era a favor do punk instintivamente, mas tive que me guiar pelo meu gosto instintivo, por causa dos símbolos.
Levei um tempo pra elaborar isto, porque agora é banal que as pessoas usem símbolos de maneira irônica. Mas na época hippie, modos de vestir ou símbolos não eram usados ironicamente. Era tipo:”Isso é o que você é; você tem cabelo comprido; você veste isso; você é uma pessoa de paz.” Por isso, se você usava suásticas, você era um názi.
E de repente, sem nenhuma transição, sem ninguém dizer nada, surge um movimento, e estão usando suásticas e não tem a ver com aquilo; é uma roupa e é uma agressão. Tem a ver com alguma coisa completamente diferente- tem a ver com encenação e tática de choque. Meio que percebi isto instintivamente, mas não tive como articular por muito tempo. Só há alguns anos que de fato consegui sentar e escrever uma análise. Mas é isto que fez a coisa ser tão interessante, você não conseguia escrever uma análise, você não sabia que porra estava acontecendo, estava acontecendo muito rápido.”
(Legs McNeil e Gillian McCain; tradução de Lucia Brito. Mate-me Por Favor Volume II. Porto Alegre: L&PM, 2007, p.33)
Já o seguinte depoimento de legs McNeil, nos fornece uma interessante pista para o impacto sociocultural do surgimento do Punk no início dos anos 70:
“O punk foi assim: isso é novo, isso é agora, dapoteótico, poderoso. Mas não foipolitizado. Quer dizer, talvez isto seja um lance político. O que quero dizer é que o grande lance do Punk foi não ter nenhum compromisso político. Teve a ver com liberdade verdadeira, liberdade pessoal. Teve a ver também com fazer qualquer coisa que ofendesse um adulto. Ser simplesmente tão ofensivo quianto possível. O que pareceu delicioso, simplesmente euforizante. Ser quem a gente realmente era. Adorei aquilo, sabe?
Lembro-me que meu programa noturno favorito era ficar bvêbado e caminhar pelo East Village chutando latas de lixo. A noite, simplesmente. Apenas a noite. Apenas uma questão de esperar que fosse noite de novo. E você pudesse sair, sabe? Parecia simplesmente glorioso. E você ficava cantarolando aquelas canções maravilhosas e qualquer coisa podia acontecer, e geralmente era muito bom. Você pegava alguma mina. Tinha uma aventura. Vivia uma fantasia que nunca tinha vivido antes.”
( idem p.96)
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