Este Blog é destinado ao exercicio ludico de construção da minima moralia da individualidade humana; é expressão da individuação como meta e finalidade ontológica que se faz no dialogo entre o complexo outro que é o mundo e a multiplicidade de eus que nos define no micro cosmos de cada individualidade. Em poucas palavras, ele é um esforço de consciência e alma em movimento...entre o virtual, o real, o simbolo e o sonho.
Sei que o futuro nos olha na exata medida em que o miramos mergulhados e náufragos entre os vazios do tempo presente...
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A essência do futuro é o sonho...
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A gramática da imaginação dos horizontes inventa-nos futuros no lirico espaço do devir de nosso intimo sentimento de individualidade...
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O tempo presente, normalmente, opõe-se mais ao futuro do que ao passado...
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O futuro do presente ou o futuro do passado são tempos verbais que traem nossa ingênua representação linear do tempo vivido e perdido...
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Viver radicalmente o tempo presente é um modo de habitar futuros potencias através do que nos transcende como virtual experiência de codificação de mundo..
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Em sua concretude, o tempo é tudo aquilo que me mata...
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O único verdadeiro futuro é a morte como limite absurdo de nós mesmos enquanto codificação do real...
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Quem disse que a temporalidade faz algum sentido? Inventamos historiografias para lidar com isso...
Ouso afirmar sem qualquer pudor que “The Beatles: the stories behind the songs” by Steve turner , poeta britânico , foi definitivamente o melhor livro sobre Beatles que li até agora e que se converteu em uma referencia constante para minha sensibilidade musical.
No prefácio que faz a sua magnífica obra, a qual dedico discaradamente um discurso apologético, o autor assim define sua proposta:
“O que tentei fazer foi simplesmente contar a história de como cada canção surgiu. Pode ter sido uma inspiração musical, como tentar escrever ao estilo de Smokey Robinsson. Pode ter sido uma frase que ficou na cabeça, como “poos of sorow, waves of joy” , verso que compeliu John a escrever “Across the universe”. Ou pode ter sido um incidente, como a morte do rapaz Tara Browne, da alta sociedade , que levou a composição de uma parte de “ A Day in The Life”.”
( Steve Turner. Prefácio in The Betles: A História por trás de todas as canções;tradução de Alyne Azuma. SP: Cosac Naify, 2009; p. 6 )
Esta idéia simples materializou-se em uma narrativa envolvente e fragmentada onde a história da maior banda de rock de todos os tempos, se me permitem a subjetividade, gradativamente vai se fazendo através da “micro-historia” de composição e significados de cada canção e álbum.
Em outro plano, trata-se aqui também da “historia” pessoal de nossas vivencias de cada canção no contexto de nossas lembranças e sentimentos.
Afinal, como observa o próprio autor:
“Quase quarenta anos depois dos Beatles terem parado de tocar juntos, suas canções ainda significam muito para nós. Para aqueles que cresceram com eles, são como antigos amigos que nunca cansamos de encontrar. Como iluminaram a nossa vida e talvez tenham até nos ajudado a despertar nossa curiosidade intelectual e espiritual, nossos sentimentos em relação a eles são sempre afetuosos. Descobrir de onde vieram nos ajuda a descobrir de onde nós mesmos viemos.”
( idem, p. 15)
Definitivamente “The Beatles: the stories behind the songs”, é uma obra que, embora distante das codificações de tempo e memória dessacralizados inerentes ao discurso historiográfico, nos apresenta um modo de construir ou inventar a história onde, paradoxalmente, a objetividade do discurso é capaz de acordar afetividades e solidariedades em sua repercussão social. Esta é uma curiosa peculiaridade da Historia social do rock and rool...
“O homem que jaz doente na cama descobre por vezes que geralmente esta doente de seu emprego, de seu negócio ou de sua sociedade e que por meio deles perdeu todo conhecimento racional de si próprio: tira essa sabedoria do ócio, a que sua doença o obriga.”
F. Nietzsche. Humano, demasiadamente humano.tradução de Antônio Carlos Braga; SP: Editora Escala ( coleção Grandes Obras do Pensamento Universal- 42)
Toda doença é um insólito deslocamento involuntário do mundo vivido, um modo de REdescobrir a si mesmo nas inércias de personas no mais profundo acontecer do corpo e descoberta das gramáticas de si mesmo...
Em poucas palavras, estar doente é um modo de REINVENTAR a si mesmo, contra os lugares comuns do cotidiano socialmente inventado e estabelecido pelo inferno de todos os outros organizados em sociedade ...
Em seu clássico ensaio “SINAIS: RAÍZES DE UM PARADIGMA INDICIÁRIO”, o historiador Carlo Ginszburg, a partir da trípice analogia entre a critica de arte desenvolvida por Morelli, a psicanálise freudiana e a técnica investigativa utilizada pela personagem de Sherlock Holmes, traça um original esboço do novo paradigma que, segundo ele, afirmou-se no século XIX, mais precisamente na década de 1870-80.
Trata-se do método indiciário inspirado pelo modelo cognitivo fornecido pela semiótica medica, mas cujas raízes são demasiadamente arcaicas e remetem aquele que, segundo o autor, talvez seja o mais antigo gesto da história intelectual do gênero humano: “o caçador agachado na lama, que escruta as pistas da presa”.
Em suas próprias palavras,
“Por milênios o homem foi caçador. Durante inúmeras perseguições, ele aprendeu a reconstruir as formas e movimentos das presas invisíveis pelas pegadas na lama, ramos quebrados, bolotas de esterco, tufos de pêlos, plumas emaranhadas, odores estagnados. Aprendeu a farejar, registrar, interpretar e classificar pistas infinitesimais como fios de barba. Aprendeu a fazer operações mentais complexas com rapidez fulminante, no interior de um denso bosque ou numa clareira de ciladas.
Gerações e gerações de caçadores enriqueceram e transmitiram esse patrimônio cognitivo. Na falta de uma documentação verbal para se pôr ao lado das pinturas rupestres e dos artefatos, podemos recorrer às narrativas de fábulas, que do saber daqueles remotos caçadores transmite-nos às vezes um eco, mesmo que tardio e deformado.”
( Carlo Ginszburg. Sinais: Raízes de um paradigma Indiciário in Mitos, Emblemas e Sinais. SP: Companhia das Letras, p. 151)
Esta verdadeira gramática dos pormenores construída por gerações e gerações de caçadores, encontra-se difundida em todo o mundo como uma forma milenar de conhecimento que, parafraseando o autor, une estreitamente o animal homem às outras espécies animais.
Seguindo os passos de Ginsburg, ouso afirmar que na época moderna tal modalidade de conhecimento ganhou um novo alento e significado com a decadência do pensamento sistêmico a partir do sec. XVIII, na medida em que se tornou possível, no plano do saber erudito, formular juízos sobre o homem e a sociedade a partir de sintomas e indícios.
Cabe observar que o paradigma indiciário ou semiótico, tal como afirma nosso autor, “penetrou nos mais variados âmbitos cognoscitivos, modelando profundamente as ciências humanas”, tanto quanto foi amplamente utilizado ao longo do séc. XIX para elaboração de “formas de controle social sempre mais sutis e minuciosas”.
Em ambos os casos trata-se de uma redefinição do status do conhecimento na época moderna a partir do desenvolvimento de novas formas de saber “tendencialmente mudas”, no sentido de que suas regras não se prestam a formalização ou a transmissão de procedimentos pré determinados, já que utiliza em sua essência o imponderável da intuição.
Se o historiador encontra-se familiarizado com tal paradigma indiciário através da chamada micro- história, o grande publico não raramente depara-se com ele através da ficção, seja personificada pelo clássico universo de historias de detetive, que nos remete mais do que qualquer outro aos casos e aventuras do oitocentista Sherlock Holmes, criado por Sir Arthur Conan Doyle, ou, mais recentemente, através de séries de TV como CSI ou House MD.
O médico Gregory House, uma espécie de Sherlock Holmes da medicina, representa, ao meu ver, a mais complexa tradução do arquétipo do homem de ciências orientado por uma racionalidade indiciária. Sua vida resume-se ao seu oficio, ao ethos definido pela cotidiana instrumentalização do seu saber, que é também uma codificação da realidade e do mundo.
A suposta falta de ética de House, sua aversão a autoridade e aos protocolos sociais, bem como sua inadequação á convencional persona do medico, são estratégias de distinção e individuação em uma sociedade de massas, onde os vestígios individuais tendem a ser empalidecidos ou apagados pelo existir coletivo, onde o micro universo do efêmero e do particular é mais revelador sobre a realidade do humano do que os discursos e conceitos articulados pelos lugares comuns do trato social, dos diagnósticos convencionais da medicina mais ortodoxa, opções morais, valores ou sistemas de pensamento.
Em outro momento já tive a oportunidade de comentar um ensaio do físico Alan Lightman publicado na coletânea O FUTURO DO ESPAÇOTEMPO ( THE FUTURE OF SPACETIME) do físico Alan Lightman intitulado O FISICO COMO ROMANCISTA. Desta vez, gostaria de, retornando a mesma coletânea, remeter a um outro ensaio de autoria do jornalista norte americano Timothy Ferris sobre a popularidade do saber científico, questão que considero crucial para consolidação do fecundo e complexo universo simbólico que define a contemporaneidade, apesar de todas as resistências modernas e de substratos tradicionais ainda influentes.
Em poucas palavras limitar-me-ei aqui ao conceito de analfabeto cientifico tal como apresentado pelo autor recorrendo as suas próprias palavras . Por sua evidente relevância, o fragmento seguinte fala por si:
“ Todos os anos lemos notícias nos jornais sobre o que se denomina “analfabeto político”. Elas nos dizem, por exemplo, que quase a metade de todos os norte-americanos não acredita que os seres humanos tenham evoluído a partir de outras espécies animais, que a maioria desconhece que o sistema solar está localizado na galáxia que se chama Via Láctea e que apenas a quarta parte ouviu falar que o universo está em expansão. Essas notícias são lamentáveis, e mais lamentável ainda é o fato de serem muito poucos os que entendem a ciência como um processo.
Não faz muita diferença para mim que um estudante saiba ou não quantos são os planetas do nosso sistema solar. Em primeiro lugar, porque os próprios astrônomos continuam a discutir se Plutão merece ou não o nome de planeta. Em segundo lugar, porque os estudantes podem receber a resposta “certa” da maneira errada. Podem aprender em um livro que o Sol tem nove planetas, ou ouvir que um cientista, na televisão, divulga essa informação com voz autoritária. Aprender fatos científicos dessa maneira tem a mesma profundidade com que um cortesão fica repetindo, como um papagaio, as palavras do rei, ou com que um professor prega que o processo não existe porque outros, como Nietzsche e Schopenhauer, assim o disseram. O analfabetismo cientifico denunciado pelos jornais- como no casoem que a televisão entrevistou universitários no dia de sua formatura e descobriu que muitos deles não sabiam o que causa as estações do ano- é preocupante como sintoma de um problema maior, que é eles não terem aprendido como é que se investigam as coisas. Em última análise, o que você pensa é menos importante do que como você pensa.”
( Timothy Ferris. Da popularidade do saber cientifico. In O futuro do Espaço Tempo. Stephen W Hawking... Et all: introdução Richard Price; tradução de Jose Viegas Filho, SP: Companhia das letras, 2005, p. 164-165)