quarta-feira, 8 de agosto de 2007

SOBRE O MITO DE MERLIM....




Em 1950 Jung erigiu em sua casa em Bollingen, Suiça, um monumento de pedra que expressa, de modo singular, o significado da construção desse espaço material e animico de existência, o sentido profundo deste lugar pessoal no mundo, em que para ele foi possível encontrar-se, criar a si mesmo como indivíduo, vivendo “ in modest harmony with nature”.
O significado da pedra confunde-se com a finalização da construção de uma torre e, em suas próprias palavras, é assim descrito:
“A pedra se acha fora da torre e é como que uma explicação desta. É uma manifestação de seu morador, mas continua incompreensível para os homens. Sabem o que pretendia gravar na parte de trás? O grito de merlim! Pois o significado dessa pedra me sugere as manifestações de Merlim, saindo da floresta, quando já desaparecera deste mundo. Os homens ainda ouvem ouvem o seu chamado, diz a lenda, mas não podem compreende-lo ou interpretá-lo.
Merlim representa a tentativa, por parte do inconsciente medieval, de estabelecer uma figura paralela a de Percival. Percival é o herói cristão, e Merlim, filho do diabo e de uma virgem pura, é seu irmão sombrio. No sec. XII, quando nasceu a lenda, não se dispunha das condições necessárias para compreender o que ela representava. Assim, acabou no exílio; daí, o grito de Merlim, que ressoa ainda na floresta, depois de sua morte. Esse chamado, que ninguem pôde compreender, mostra que ele continua a viver, como uma forma não redimida. No fundo sua história não foi terminada e ele vaga ainda, até hoje, nas redondezas. Pode-se dizer que o segredo de Merlim continuou na alquimia, principalmente na figura de Mercúrio. Depois foi recolhido por minha psicologia do inconsciente, mas até hoje continua incompreendido! Para a maioria dos homens, com efeito, a vida com o inconsciente é completamente incompreensível. Saber o quanto tudo isso é estranho ao homem é uma das minhas experiências mais indeléveis.” (JUNG, C.G. Memórias, Sonhos e Reflexões. RJ: Editora Nova Flonteira 20º ed, s/d, p.200)

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