BROCKMAN, John. Einstein, Gertrud Stein, Wittigenstein e Frankteim: Reinventando o Universo. SP: Companhia das letras, 1988.
Publicado originalmente em 1987 nos Estados Unidos, este curioso livro não apresenta nenhuma tese realmente inovadora. Na verdade apenas parte da idéia, hoje relativamente corrente nos meios acadêmicos, de que a realidade é uma construção ou invenção humana, para estabelecer um panorama das tendências contemporâneas do saber cientifico.
Merece especial menção a quinta parte da obra, muito apropriadamente intitulada “O Universo Heterodoxo”, dedicada as teorias e pontos de vista de “pesquisadores heréticos”, ou seja, não legitimados ou reconhecidos pelo status quo da comunidade científica. É especialmente nestas páginas onde mais nos damos conta do quanto no final das contas a ciência e a construção do conhecimento científico não é isenta de juízos de valor e, ousaria dizer, de uma boa dose inconsciente de imaginação que poderíamos apelidar paradoxalmente de “loucura da realidade”, esta estranha vocação humana, demasiadamente humana, originária da “vontade de saber” que inventa todo possível conhecimento do mundo.
A gênese desta saborosa brochura encontra-se em uma interessante experiência realizada pelo autor nas décadas de 70 e 80 do último século: O Clube da Realidade.
Brockman o apresenta aos seus leitores da seguinte maneira:
“ O Clube da Realidade é uma associação informal que organizei durante os anos 70 para explorar a ideia de que a maneira mais interessante de chegar ao limite do conhecimento do mundo é procurar as mentes mais complexas e sofisticadas, colocá-las na mesma sala e fazê-las perguntar umas as outras as questões que fazem a si mesmas. No decorrer desses anos, em Nova York e São Francisco, em quartos de hotel, restaurantes chineses, salas de aula de universidades e em casas particulares, convidei numerosas pessoas para falar de seus trabalhos e ideias para um grupo de pares em reuniões abertas ao público, deixando claro que elas seriam ser desafiadas. A condição de membro é limitada a pessoas que com seu trabalho e suas idéias reinventaram o universo.
(...)
Nas reuniões do Clube da Realidade, frequentemente terminavamos em discussões duras e descorteses. Este nível de discussão, a intensidade com que transmitiamos nossas ideias uns aos outros, surpreende-me como não sendo inconsistente com a maneira com que inventamos o universo. Todos temos na mente uma imagem de um universo de vastidão inimaginável com uma existência histórica de muitas eras. Mas ele é assim mesmo? Afinal de contas existe mesmo o universo? É uma entidade a priori que existe no espaço, no tempo, com um passado e um futuro, algo para ser descoberto, decsodificado, e seus mistérios desvendados? Ou os cientistas estão só examinando as próprias cabeças, criando suas próprias invenções por meio de palavras e ferramentas?
Meu ponto de vista, que transmiti talvez com demasiada frequerncia aos colegas do Clube, é que nós criamos o mundo e o universo é a criação de nossa linguagem, de nossas percepções.” (BROCKMAN, John. Einstein, Gertrud Stein, Wittigenstein e Frankteim: Reinventando o Universo. SP: Companhia das letras, 1988, p. 261 et seq.)
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