quinta-feira, 16 de maio de 2019

PÓS FILOSOFIA DA HISTÓRIA DO PRESENTE


Vivemos  no tempo do que não tem tempo,
Na intensidade e agonia do simples momento.
Já não existem fatos. Apenas informações, opiniões  embriagadas de afetos abstratos, ancoradas em absurdas disputas por significações absolutas.
Mas a mudança já não transforma.
O acontecimento transcendeu a memória. Quem lembra não mais se recorda. Enfim, nos perdemos do eterno retorno através do absurdo da ideia de história.
Mas Hegel, entretanto, finalmente está morto.
Tudo é o deserto do  agora onde imperam urgências, apetites e velocidades, em meio às áridas paisagens em ruinas das civilizações contemporaneas.
As lembrancas não nos definem identidades.
A vida é apenas um filme ruim em uma tela de  360 gráus. A imagem respira...
Mas que filme, afinal, é esse?!...
Não há sentido em saber quem eu sou.
Amanhã sera tarde demais.
Mas o hoje é pra sempre. Mesmo que eu morra essa noite.
O mundo não tem mais tempo. O tempo é a mão de saturno. O Instante é tão impreciso, que nunca acontece.
O passado não diz mais a história.

ESGOTAMENTO


Esgotamento não é apenas sinônimo de indiferença ou de qualquer forma de evasão. É antes de tudo uma recusa. É não querer viver um mundo de verdades, certezas e triunfos, tal como aquele em todas as partes simulado e propagado. 

É recusar a grande ficção do social, dizer não  a obrigação de levantar da cama todos os dias, reproduzir rotinas impessoais  com as quais não estamos realmente comprometidos. Tudo em nome da busca por um sucesso duvidoso.

Esgotamento é o prenuncio de um desaparecimento, é viver deslocamentos motivados pela recusa de um cansaço funcional. É quando já não há mais nada a dizer ou ser feito, É quando o pensamento encontra seu limite, ou quando só resta estar de partida, sem direito a qualquer despedida.

quarta-feira, 15 de maio de 2019

A CONSTRUÇÃO DA REALIDADE

A realidade não é um dado objetivo. Mas um conjunto de práticas cotidianas, um amálgama de representações e condicionamentos culturais que formatam nossa experiência imediata das coisas. 


A realidade é o circunstancial de uma construção histórica. Ela  é efêmera, perecível. A realidade é um efeito mental.

terça-feira, 14 de maio de 2019

A CORPORIZAÇÃO DA PALAVRA


Detesto a palavra que apenas se ocupa com informação, com a comunicação corriqueira, mecânica, onde o que é dito precisa ser reconhecido como mensagem corriqueira. Falo da palavra destinada a circulação, a troca e a barganha diária daquilo que não diz nada, que precisa reduzir tudo a um nome ou a uma explicação.

Esta palavra aprisionada pela razão,  serve sempre a um eu vaidoso que inventa objetos, que diz o que é e o que não é e tem a pretensão de reduzir o mundo a condição de um texto quase infinito onde tudo é compreensível.    

Já a palavra que me procura é quase imagética, não diz as coisas, é movimento, ritmo, expressão afetiva e sensações. Ela é espaço, campo de significações e invenções quase ilimitadas. Em suma, corporificações de pensamentos contra toda tradição logocêntrica.    

segunda-feira, 13 de maio de 2019

SER CORPO



Sou um corpo que respira,
Que come, mija e se conserva vivo.
Sou um corpo que envelhece,
Que morre todos os dias.
Mas também sou um corpo que fala,
Que se comunica com outros corpos,
Que não existe por si, nem para si.
Sou um corpo reduzido ao mundo,
Escravo da linguagem que inventa a realidade,
Esta prisão dos corpos despidos de natureza.

SOBRE O DESLOCAMENTO DO EU


A posse de um eu já não nos determina. Nossas vidas são invisíveis. As multidões nos ultrapassam impondo o ritmo do impessoal, do padrão universal de consumo, dos modos de vida que já não cabem na existência de ninguém, mas a todos definem.

Nossos afetos são comuns, banais. Não nos tornam especiais. As biografias são descartáveis, variantes de enredos sociais pré definidos. Cada um de nós se tornou previsível, transparente para a organização normativa do real.

O que um eu ainda significa quando nosso comportamento deixou de ser criativo? Somos versões diferentes de um ego virtual pré concebido, apenas o conteúdo de um rótulo, de uma classificação. Nos reduzimos a qualquer tipologia social.

sexta-feira, 10 de maio de 2019

O NÃO SER DO TEMPO

Há um certo ponto no tempo, onde o próprio tempo, de tão intenso, já não persiste.


Mas não se trata da eternidade. É um instante tão ínfimo que não tem fundamento. Nele só ha a potência do que é virtual.

Só bem compreende isso, quem é capaz de duvidar da própria existência. Afinal, o que nos garante, que o Ser não passa de uma grande alucinação?

segunda-feira, 6 de maio de 2019

NIETZSCHE E OS PENSAMENTOS QUE ANDAM



Segundo Nietzsche, em um aforismo das Máximas e Flechas que abrem o   Crepúsculo dos Ídolos, apenas os pensamentos andados tem valor. Trata-se de uma crítica ao escrever sedentário, estático e contemplativo, que cala o corpo e carece de vida, na afirmação dos modernos intelectualismos, da moral, das normas e leis que ferem os espíritos livres que não se detém diante de nenhum princípio. 


É preciso arrancar os olhos para enxergar, encontrar a felicidade em uma meta. Uma meta que é a própria vida como destino. Não a fábula do mundo verdadeiro tão cara aos sábios de todo mundo. A vida é inimiga da sabedoria. Ela está nos pés descalços que procuram a terra fértil e provam sua irregularidade, seus desafios ao frágil equilíbrio dos escribas da verdade. Quantos de fato entre nós realmente aprenderam a andar?  O "homem" é um animal que não sabe andar, que não tem onde ir.

domingo, 5 de maio de 2019

SOBRE A ARTE DE DESENHAR


Não gosto de linhas. Prefiro desafiar minhas inércia inventando curvas. Nunca estou partindo de um ponto em busca de outro. Estou sempre buscando o vazio.

Talvez eu me torne refém de um círculo, retornado sempre de novo ao mesmo lugar. Como se isso fosse possível...

O plano ensina a indeterminação do ponto, a soberania do vazio sobre o traço. O desenho foge a geometria, inventa um campo, quase um quadro.

A SEGUNDA METADE DA VIDA OU A POESIA DO CREPÚSCULO


O aforismo 610 de Humano, demasiadamente humano, de Nietzsche é um convite a qualquer sabedoria de crepúsculo:

" Os seres humanos como maus poetas-  Assim como na segunda metade do verso, os maus poetas buscam o pensamento que se ajusta a rima, na segunda metade da vida, tendo se tornado mais receosas, as pessoas buscam as ações, atitudes e situações que combinem com as de sua vida anterior, de modo que exteriormente tudo seja harmonioso: mas sua vida já não é dominada e repetidamente orientada por um pensamento forte; no lugar deste surge a intenção de encontrar uma rima."

Na segunda metade da vida buscamos continuidades impossíveis, manter a rima de nossos atos e atitudes onde já não há mais do que uma sombra de quem fomos.

Mas sem forças para carregar o tempo acumulado no corpo, optamos pelo teatro de velhas posturas para que tudo pareça bem, pelo menos exteriormente.


Não nos aceitamos. Negamos a vida a poesia  do crepúsculo celebrando um sol que já não é mais radiante como na manhã da infância.

C G Jung consagrou sua psicologia analítica a este período da vida onde somos confrontados  com a finitude, com a fragilidade do ego e das certezas cotidianas.

É neste último período do ciclo biológico que o cuidado de si se faz uma exigência da existência e cada  um é desafiado pelo seu próprio abismo.