domingo, 5 de maio de 2019

A SEGUNDA METADE DA VIDA OU A POESIA DO CREPÚSCULO


O aforismo 610 de Humano, demasiadamente humano, de Nietzsche é um convite a qualquer sabedoria de crepúsculo:

" Os seres humanos como maus poetas-  Assim como na segunda metade do verso, os maus poetas buscam o pensamento que se ajusta a rima, na segunda metade da vida, tendo se tornado mais receosas, as pessoas buscam as ações, atitudes e situações que combinem com as de sua vida anterior, de modo que exteriormente tudo seja harmonioso: mas sua vida já não é dominada e repetidamente orientada por um pensamento forte; no lugar deste surge a intenção de encontrar uma rima."

Na segunda metade da vida buscamos continuidades impossíveis, manter a rima de nossos atos e atitudes onde já não há mais do que uma sombra de quem fomos.

Mas sem forças para carregar o tempo acumulado no corpo, optamos pelo teatro de velhas posturas para que tudo pareça bem, pelo menos exteriormente.


Não nos aceitamos. Negamos a vida a poesia  do crepúsculo celebrando um sol que já não é mais radiante como na manhã da infância.

C G Jung consagrou sua psicologia analítica a este período da vida onde somos confrontados  com a finitude, com a fragilidade do ego e das certezas cotidianas.

É neste último período do ciclo biológico que o cuidado de si se faz uma exigência da existência e cada  um é desafiado pelo seu próprio abismo.

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