segunda-feira, 11 de fevereiro de 2019

O CAMINHO


A PALAVRA PELO AVESSO


Meu objetivo é dessacralizar a palavra, transcender o verdadeiro e o falso, no ato abstrato da expressão. 

Sei que dizer é inventar a mim mesmo como experiência de mundo na intuição do por vir.

Por isso sou em todos os tempos da minha experiência descontínua de existir, sou onde não existo, na simultaneidade sincrônica da manifestação de todas as coisas.
A vida me ultrapassa em potência e sonho. A palavra não dá conta do pensamento. As palavras desenham imagens no simulacro de arquétipos. Dizer já não importa. O corpo fala e desenha silêncios dentro de um livro.

domingo, 10 de fevereiro de 2019

CARTOGRAFIA DE SI E ESTÉTICA


O encontro entre o "eu" e o"ele" que nos habita é um desafio cotidiano do pensamento.

Descobrir-se como exterioridade, como parte do mundo em sua intensidade de afetos e texturas, é compreender a superfície como o mais profundo das coisas. É adquirir uma sensibilidade de pele, de contato, que embaralha todos os sentidos.

É isso que torna possível o exercício gratuito de uma cartografia de si mesmo, a invenção cotidiana de uma estética da existência que dispensa qualquer fundamento, qualquer referencia intologica.

DIVERSIDADE

Aquele que não deseja ser um outro jamais será ele mesmo, nunca saberá a maestria do anonimato. Suas palavras íntimas serão colhidas na boca de todos.

É preciso perder o rosto, tocar a pluralidade, para inventar-se como singularidade. Ser um através dos outros é um longo trabalho de linguagem.

Sair da multidão informe é da forma a diversidade. É saber o "ele" que reinventa o "eu".

quarta-feira, 6 de fevereiro de 2019

A VIDA DAS PALAVRAS


As palavras tem vida própria.
Elas criam seu próprio destino,
Suas questões, buscas e combinações.

Por isso  o texto sempre nos ultrapassa,
Seja como autores ou leitores.


A escritura é uma aventura que se inventa,
Que foge, engana e transforma.
Tudo é sempre questão de interpretação.

Não tenha a pretensão de ser um escritor
ou um bom leitor.

terça-feira, 5 de fevereiro de 2019

ÉTICA E FORMA DE VIDA





Eudaimonia significava para os gregos “ser habitado por um bom daimon”. A expressão descreve um estado de bem estar ou felicidade bem personificado pela máxima estoica de “viver de acordo com a natureza”. É neste mesmo sentido que ela figura na Ética de Nicômaco de Aristóteles para o qual o caminho da felicidade é a virtude. Pensada como eudaimonia a felicidade não é um mero estado de consciência associado à experiência egóica. É um viver bem através dos preceitos da razão. 

Espinosa redimensionou o conceito de eudaimonia em sua Ética ao incorporar às paixões e os afetos a reflexão ética. O gnosiológico e o afetivo se complementam na teoria dos afetos exposta na terceira parte de sua Ética. Mas foi Foucault que, em seu retorno aos gregos, redescobriu a ética como uma estética da existência, como a construção de formas ou modos  de vida. Nesta nova perspectiva a ética não é a conformação a razão e a verdade, mas a disciplina inerente a criação e a expressão plena de nossos corpos, um afetar e ser afetado, através de técnicas de  cuidado de si e dos outros. A ética, nesta perspectiva, é antes de tudo o exercício da amizade no plano da vida pública e cotidiana a margem da busca por qualquer experiencia logocentrica e exterior de verdade.  

Inspirando-me nas pesquisas do "último Foucault", o que aqui me parece pertinente questionar é até que ponto a ética é uma busca abstrata pela felicidade através do bom exercício da razão, tal como afirma a tradição filosófica. Talvez em nossos dias ela possa ser pensada como um modo de inventar a si mesmo, uma forma de ser criativo, ou um prazer ou vivência estética de si. Em outras palavras, a ética hoje esta associada a produção da subjetividade como criação social de formas de vida coletivas e singularidades. Não se confunde com a meta abstrata de uma felicidade incorpórea que realiza um ethos, mas a própria plenitude do corpo e da vida,ou, a possibilidade de um voltar-se para si, um tomar a si mesmo como obra de arte além do bem, do mal, e do assujeitamento de um ideal impessoal de felicidade.

É este voltar-se para si que Foucault resgatou entre os antigos gregos através do cuidado de si que torna hoje a ética uma questão tão essencial em nossos dias enquanto estrategia de reinvenção de nós mesmos. 
Diante dos limites do tempo presente é sempre pertinente questionar o que podemos ainda nos tornar no devir da existência... E esta, ao meu ver, é o novo horizonte de uma reflexão ética ainda possível.

O TEMPO DA MINHA EXISTÊNCIA


Não sou responsável por quem sou,
Nem por aquele que me torno.
Sou culpado por existir,
Por resistir,
Reinventando em segredo um outro mundo.

Tudo para mim é por vir
E habitar em um único segundo
Ontem eu sei que me farei outro,
Pois nasci futuro.

segunda-feira, 4 de fevereiro de 2019

PALAVRA IMAGEM



A palavra inventa uma imagem,
Um lugar de vida,
No fundo da minha imaginação.
Ela acorda uma paisagem arcaica,
Fora do tempo,
Mas que tem gosto forte de existência.

A imagem é um lugar que me habita
E fala em silêncio.
Ela me afeta,
Desperta intensidades e sonhos.
Ela é o fora que me revela por dentro.


sexta-feira, 1 de fevereiro de 2019

SOBRE O CORPO DO TEXTO



Existem pequenas curvas na trajetória das frases encadeadas. É verdade que quase não percebemos isso através do ritmo das palavras, das vírgulas e pontos, ou das escolhas secretas que inventam o sentido que extrapola o significado. Mesmo assim existem desvios, combinações abortadas, censuras, cuidados, escolhas e muitos silêncios.... a maior parte de um texto é definida pelos seus silêncios. o texto é povoado por muitos eus.

O que é dito é sempre pouco diante da riqueza do que foi escrito, de todas as interpretações, alucinações anônimas, que o próprio texto inventa para fugir ao autor que ele mesmo criou.
Por isso todo texto é inacabado e não comporta a ilusão de um livro.

Todo texto é labirinto...

CONSIDERAÇÕES NIETZSCHEANAS SOBRE O HOMEM DE PENSAMENTO


O homem de pensamento, desde Platão, mantem a cabeça nas nuvens. Evita a terra, o cheiro da vida. Julga-se qualquer aberração além de sua elementar animalidade. Sonha mesmo uma elevada ordem universal que aprisiona toda natureza e tudo que é manifesto.

O homem de pensamento possui máximas e formulas para tudo. O artificio moral lhe proporciona todas as armas necessárias a defesa de sua sagrada verdade.
Ele é  como cadáver do verdadeiro, escravo de gramáticas e abstrações.

Quase não enxerga o corpo que é, evita as artes...

Homens de pensamentos são definitivamente criaturas patéticas e sem alma.