domingo, 11 de outubro de 2015

BALZAC E O CÓDIGO DOS HOMENS HONESTOS: UMA BREVE INTRODUÇÃO AO EGOÍSMO

O Código dos Homens Honestos ou a arte de não se deixar enganar pelos larápios é uma obra de juventude de Balzac escrita  em 1825.
Trata-se aqui de um manual de sobrevivência para a França oitocentista e frente a industriosidade da extorsão que define o cotidiano e as relações humanas em uma sociedade em que o bolso se torna a medida de todas as coisas.
Uma determinada passagem desta obra me parece essencial a sua apresentação:

“Um homem honesto deve estar sempre atento e em guarda, pois os camaleões, cujas cores e formas tentaremos captar, apresentam-se sob seu melhor aspecto. São amigos, parente e até-  o que é sagrado em París-conhecidos. Atores deste pequeno drama, golpeiam diariamente no coração, comovem a sensibilidade, os sentidos, deixam o amor próprio imerso em cruel perplexidade, e sempre acabam por vencer as mais heroicas resoluções.
Para proteger-se desta chuva de pedidos legítimos , lembre-se sempre de que o egoísmo tornou-se uma paixão, uma virtude nos homens; que poucas almas dele estão isentas, e que pode apostar cem contra um que vocês são vítimas, vocês e seus bolsos, dessas belas invenções, dessas efusões de generosidade, desses complôs honestos a que somos inclinados a pagar tributo.
Lembre-se sempre desta frase incisiva de um pensador:’ Meu amigo, não há amigos’”

 Honore de Balzac. Código dos Homens Honestos ou a arte de não se deixar enganar por larápios. Tradução: Lea Novaes 1º Ed. RJ: Nova Fronteira, 2005, p. 80-81

A sociedade institucionaliza o roubo de forma sutil através da micro economia de nossas relações pessoais e com instituições que ao oferecer qualquer serviço nos leva um pouco mais do que o devido pelo mero prazer do lucro fácil.
Este manual de Balzac ainda diz muito sobre a nossa sociedade e  a modernidade tardia em seu cotidiano mais sutil. Por isso é preciso ao indivíduo ocupar-se sempre do exercício do seu egoísmo.


sábado, 10 de outubro de 2015

PENSANDO O VIVIDO


O fluxo do vivido me conduz em pensamentos
Ao acontecer das coisas.
Minha consciência é a abstrata fronteira
Onde tudo se encontra
E a realidade nasce
Da articulação da simultaneidade
Das coisas.
Tudo é um grande mosaico,
Um labirinto
Que me embriaga os sentidos.
Existir é como um estado instável

De constante agonia.

quinta-feira, 8 de outubro de 2015

O INTEIRAMENTE OUTRO DE MIM

Enterrado em mim mesmo
Sonhei a vida que seria
Caso eu fosse aquele
Acho que sou
No virtual dos meus silêncios.
Fora do teatro dos atos cotidianos
Sou um outro qualquer
Que a existência deixou de lado.
Acredite:
Não sou eu quem escreve estas linhas.
Estou em outra parte dos pensamentos
Que me definem,
Respiro em palavras que nunca foram escritas
Ou ditas,
Em coisas que ainda não vivi ou tive.
Não se deixem enganar.

Eu sou outro....

terça-feira, 6 de outubro de 2015

A MISÉRIA DOS DICIONÁRIOS

Algumas pessoas são tão ingênuas que acham que o significado das palavras esgotam-se nos verbetes de um dicionário. Carecem de critica e imaginação e acham que o nome coincide com as coisas. Mas é atualmente impossível  hoje em dia confiar inteiramente em qualquer definição das coisas. Definir tornou-se um ato arbitrário  que muitas  vezes esconde a imprecisão e pluralidade de significações possíveis.

As palavras enganam e muitas vezes uma coisa só pode ser entendida por aquilo que ela não é. Podemos dizer que sabemos muito bem o que é uma cidade. Mas pode-se entender uma cidade sem também entender o que são pessoas, sociedades,  e que a palavra cidade em determinados contextos históricos tinha outros significados e vivencias que se perderam para nós?  Além disso, uma metrópole ainda é uma cidade? Cidade é mais do que um território político administrativo, embora tal definição nos pareça demasiadamente aceitável. 

O MAR


Fiquei ali sozinho
Contemplando o mar
Por um longo tempo.
As ondas me diziam agonia
E me apavorava aquela imensidão
Que definia o horizonte.
Me sentia apenas um grão de areia.
Não sou capitão de navio.
Sou destes que lutam sem armas.
Para mim o mar era feio.
Apenas isso...

segunda-feira, 5 de outubro de 2015

SOBRE O FUTURO DA ARTE DE ESCREVER

As vezes fico me questionando se ainda cabe escrever. Quem escreve quer comunicar qualquer coisa. Mas eu só escrevo por necessidade, para me sentir alguma coisa e ainda sentir alguma coisa.  Não escrevo para agradar ninguém. Não espero que as pessoas me entendam. Escrevo apenas porque é muito chato falar sozinho.  Mas tenho medo de não ser o único. Talvez venha por ai uma geração inteira de novos escritores vazios escrevendo a ermo por mera questão de sobrevivência. Escrever pode  estar se tornando uma forma de se suportar a existência. Escrever pode ser a única coisa que ainda nos resta. Não há no mundo leitores suficientes para aguentar ou saber de tantos escritores. Então desista de qualquer sucesso e apenas escreva.... antes que seja tarde.

PARA COMPREENDER A NOVA BARBÁRIE

Um dos feitos culturais mais impactantes da modernidade sob o cotidiano pós revolução industrial, foi tornar as pessoas cada vez mais invisíveis umas as outras. Já não nos percebemos como parte das vivencias coletivas acumuladas e compartilhadas através daqueles que convivemos. Pouco sabemos, por exemplo, sobre o conjunto de experiências e realidades que configuraram ao menos duas gerações  das famílias as quais pertencemos. E não digo isso vislumbrando o resgate de qualquer ideal caduco de comunidade ou pertencimento de mundo fundado pela vivencias de tradições abstratas. Trata-se de outra coisa.  Falo de termos plena consciência do quanto a contemporaneidade nos distancia cada vez mais vertiginosamente do passado, o quanto a experiência de poucas décadas põe a perder hábitos e protocolos de existência. O mundo se tornou um acumular  de ruínas que se multiplicam mais rapidamente do que nossa capacidade de apreender a realidade.

Do mesmo modo, as ruas e os lugares que frequentamos já não detém vestígios ou referências realmente instáveis. Tudo se perde, inclusive as marcas que deixamos em nos objetos, em nossas casas.  O individuo liberta-se do peso do processo histórico e da própria ideia teleológica de que “tudo faz sentido”.  Ao mesmo tempo já não conta mais com a promessa oitocentista  da construção de um universo privado, consagrado a sua subjetividade e longe do olhar dos outros.


Vivemos, para ser breve e nada conclusivo, tempos de decadência de toda consciência diferenciada do coletivo.  Apenas seguimos com a avalanche. 

INDIVIDUALIDADE E ESTÉTICA


A felicidade é um veneno ao qual sou imune.

Isso me garante aptidão para buscar sempre a realidade e não cair na armadilha de nenhuma ilusão. Tenho por objetivo alguma concepção estética de vida onde sejam transpostas as fronteiras entre arte e existência no mínimo cotidiano do acontecer do meu eu.

Não me importo muito com o destino do mundo. Minha matéria prima é o raso da realidade e as possibilidades afetivas  dos atos mais pragmáticos.

Através dos artificialismos da cultura estamos sempre buscando nos evadir de nossa pequena condição humana, acrescentar significados ao raso acontecer concreto que possam tornar nossas vidas individuais  relativamente significativas.

Estou cada vez mais convencido de que é apenas isso que importa.

domingo, 4 de outubro de 2015

AS AVENTURAS DO PENSAMENTO

Era senhor de minhas dúvidas
E vítima de minhas certezas.
Tentava fugir
A qualquer armadilha da fé.
Não tinha tempo para conformismos,
Seguranças   ou fáceis caminhos
Que não me levariam a nada além
Do comodismo de qualquer convicção.
Estava disposto a estar sempre perdido
Em meus labirintos.
O que eu buscava ainda não tinha nome

Nem havia sido inventado.

sexta-feira, 2 de outubro de 2015

A LITERATURA E A DESCONTRUÇÃO DO REAL


Uma das virtudes da literatura contemporânea  é a possibilidade de escrever contra a realidade, a partir justamente daquilo que nos incomoda nela.  Tendemos a ser hoje em dia antirrealistas e levar as ultimas consequências a ideia de  ficção.

Já não se trata apenas de inventar histórias e personagens. Nossa matéria prima mais desafiadora é o próprio real enquanto conceito.  Trata-se de perseguir uma intuição: Há algo de muito errado no jeito como o mundo e as pessoas se comportam e socialmente inventamos  a realidade. Interpretações possíveis a parte, o fato é que a fronteira entre o real e a fantasia tornam-se duvidosas.


Talvez o mundo só exista como representação e a realidade seja apenas uma modalidade defeituosa de ficção.