terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

NOTA SOBRE A CONSCIÊNCIA HUMANA

O horizonte da consciência humana define-se por uma elementar imprecisão e ambivalência. Poder-se-ia dizer que, apesar de nossa capacidade de codificar o real como um processo contínuo e coerente, de produzir e viver a realidade como uma totalidade teleológica e orgânica, no fundo, a consciência de nossa existência personifica tal “ordenamento das coisas” apenas parcialmente.

Em certa medida, o caos e o ilegível fazem parte da consciência e condicionam muitas de nossas reações, formulações, atos e hábitos cotidianos, manifestando-se através de inseguranças, medos, frustrações, desejos e afetos.

Não se deve, portanto, subestimar o quanto o domínio da afetividade molda o estar-ciente- do mundo e a autoconsciência. Redundante afirmar o irracional que influencia à consciencia depois de mais de um século de psicologia profunda.

O que me parece novidade é o modo como os condicionantes irracionais de nossa consciência das coisas adquirem hoje uma dimensão nova na medida em que a relativa desconstrução da tradicional objetividade do mundo dá lugar a uma espécie de virtualização do real que nos desconstrói como sujeito e reinventa a objetividade de um mundo que nos escapa na exata medida em que nos apropriamos dele como concreta abstração de coisas cotidianas.

A consciência das coisas hoje pressupõe a incorporação dos artefatos, da técnica, à própria consciência de um modo que extrapola a antiga relação do homem com seus utensílios e instrumentos a ponto da própria condição humana já não ser uma referência suficiente para determinar o lugar da consciência.

sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

PIADA EXISTENCIAL

O extraterritorial da gramatica é o que nos inventa, o que nos permite saber o mundo na ilusão de uma realidade que de tão absurda torna-se fato.

De que outra forma poderia aqui eu definir a mente que se cria através de mim em cada pensamento e palavra?

Somos todos brinquedos de nossos próprios pensamentos...

A JANELA DO TEMPO

As janelas abertas do tempo



Miram sempre paisagens ausentes


Onde a imaginação


Nos busca os olhos


Até o limite de todas as coisas.


Tudo que somos


E não somos


Revela-se no mirar


Daquelas janelas


Que por dentro de nós


Abrem as portas do nada...





quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

DESENCONTRO

Apanhe o vento e siga em frente



Não pense em qualquer coisa


Apenas siga


Até que a vida diga o contrário


Deixando, então, apenas o vento


Nas Infinitas distâncias


Que diariamente inventamos


Para escapar um ao outro


Sem qualquer motivo.





quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

MINIMA MORALIA

Mínimo é o mundo



No qual sustento meu rosto,


Um roto pedaço de caos


Que mal abriga


Meus pensamentos.






Mas sei que lá fora


Tudo me ultrapassa


A existência


E a própria vida...,





domingo, 15 de janeiro de 2012

RESIDUO DA FELICIDADE ( CITAÇÃO)


“Há uma espécie de pesadelo acordado que, às vezes, se manifesta depois que a gente passa uma ou duas noites em claro- uma sensação, que surge com a extrema fadiga e com o nascer do sol, de que a vida, em torno da gente,se modificou. Instala-se na gente a plena convicção de que, de certo modo, a existência que está levando é apenas um galho nascido da vida, e que se relaciona à vida somente como um filme de cinema ou um espelho: que as ruas,as casas, não passam de projeções de um passado muito vago e caótico.” 
Fragmento do conto O RESÍDUO DA FELICIDADE by F. Scott Fitzgerald

sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

APOLOGIA DO EFÊMERO

Sei hoje
Que não existe qualquer receita
De saúde e felicidade
Nos descaminhos da vida,
Que não sabemos 
E nunca saberemos
Os passos  da sorte
No acontecer dos dias...
Melhor por isso viver de acasos
Sem  planos
ou ilusões de futuro.
Nos  prazeres possível de cada momento. 

segunda-feira, 2 de janeiro de 2012

AFORISMAS SOBRE O ABSURDO HUMANO

Os neurônios não podem sobreviver sem as células gliais, mas tudo indica que eles são a unidade cerebral fundamental para o comportamento da mente”
Antônio R. Damásio in E O CEREBRO INVENTOU O HOMEM
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Somos limitados para avaliar nossas auto imagens no espelho da realidade convencionalmente estabelecida... O apego as nossas limitadas auto representações são a medida de nossas ilusões...
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A vida é um sonho estranho que sofremos como realidade.
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A vida é cega...Por isso vemos o que existe.
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Existir é um estranho ato de imaginação...                                                        

NOTA SOBRE MENTE HUMANA E NEUROCIENCIAS


Não duvido de que mesmo diante do avanço cada vez maior das neurociências o conceito de mente permaneça obscuro e controvertido.



Mesmo assim já se pode dizer que hoje em dia é cada vez mais difícil a qualquer um sustentar serenamente a antiga tese de uma identificação abstrata entre mente , “alma” ou “espírito” contraposto ao físico e ao corpo.


Conhecemos hoje com tal precisão a fisiologia humana que não é muito fácil hoje em dia , para os partidários da teoria dualista distinguir a mente humana ( aqui sumariamente entendida como capacidade de reflexão acrescida à consciência de si e do mundo exterior) do próprio funcionamento do corpo humano recorrendo a qualquer abstração metafisica.


Evidentemente nada disso nos aproxima de qualquer suposta “natureza” ou “essência” do humano uma vez que tais conceitos não passam de construções arbitrárias e a própria idéia de humano só é crível na medida em que a aceitamos coletivamente como convenção para dizer nossa presença no tempo e espaço. Logo, não é a busca de verdades ultimas ou novos dogmas que me anima o discurso. Mas um horizonte mais complexo de investigação.


Defendo que quando mais despidas nossas investigações de tradicionais e falsas premissas (representações e formulações do intelecto sejam filosóficas e religiosas que mitificam a idéia de mente), mais nos aproximamos de uma nova e ainda incerta codificação da realidade e deste paradoxal fenômeno verdadeiramente nonsense que é a mente humana através das neurociências.







NOTA SOBRE O PASSAR DAS COISAS

O tempo que passa



É sempre o mesmo...


Nós é que nos fazemos


Constantemente outros


No impreciso de nós mesmos


Dispersos em dias, noites


E acasos...