segunda-feira, 6 de junho de 2011

MORNA MEMÓRIA URBANA


Neste familiar espaço



Não mais encontro


Aquela cidade que nos conheceu


Enquanto nos perdíamos


Em seus vivos labirintos de embriaguês.






Já não vejo vestígios de nossos passos


Naquelas estreitas ruas


Que nos eram tão intimas


Nos vívidos dias em que


Brindávamos a esperança.






Percebo, então,


Que as coisas sofrem o passar do tempo


Tanto quanto as pessoas;


Apenas não o lamentam


Ou se escondem


No frágil abrigo de etéreas memórias


Como as que agora


Nos levam a acontecer


No eco de quem


Um dia fomos...

O SUBTERRANEO DO DIA


Enterrado nas horas



E rotinas


adivinho um céu


rasgado em vontades


reciclando o sentimento


dos fatos,


reinventando as vazias certezas de mundo,


no mais destilado desejo


de explorar os subterrâneos


desta manhã de outono


mergulhando mudo


nas sombras das coisas


abandonadas ao sol.

domingo, 5 de junho de 2011

MEMÓRIAS DE JOHN LENNON by YOKO ANO



Originalmente publicado em 2005 nos USA, a coletânea MEMÓRIAS DE JOHN LENNON, editada por Yoko Ono e reunindo testemunhos diversos de pessoas que conheceram o ex beatle, como Pete Townshend, Elton John, Jean Baez, Jello Biafra, Mick Jagger e Carlos Santana, apenas  para citar alguns nomes do universo do rock, pode ser considerada mais do que uma mera compilação de pequenos ensaios biográficos ou simples homenagem póstuma.
Nas páginas desta cândida brochura é a contemporaneidade do legado de Lennon que se esboça em múltiplas vozes, desenhando sua imagem como um mito do nosso tempo, como a personificação do “grande indivíduo”, ou herói mitológico que nos inspira a ação e a individuação. Lennon personifica um arquetípico constelado na cultura ocidental, o eterno rebelde em sua melhor definição, ou, simplesmente, nossa incapacidade enquanto singularidade para adaptar-se as situações coletivamente estabelecidas no plano privado e social.
Dentre as várias narrativas reunidas uma das que mais me fez pensar foi a de Townshend, do the Who, em sua “cela de compor”. Reproduzo-a aqui em fragmento:

“... Mais tarde eu vi Yoko, a quem eu conhecia por sua ligação com o meu mentor na escola de artes, Gustav Mentger, que, com Malcom Cecil- tinha me inspirado a usar a destruição como parte do meu manifesto artístico no palco. Ela estava realizando “happenings” nem vários locais do entorno de Londres em 1967. Ela era chocante, desafiadora, inspiradora e aparentemente insana. Foi uma das primeiras terroristas da arte, combinando uma profunda moralidade com o confrontamento e o impacto. Ela também era envolvente e profundamente erótica.
Não me surpreendeu que ela e John descobrissem um ao outro. Ela e eu não nos encontramos cara a cara até 1993, ou por ai, quando Bob Dylan foi homenageado pela CBS em uma cerimônia em Nova York. Ela estava com o filho, Sean, que agora é meu amigo. Lembro que fiquei impressionado de ver como Yoko parecia ainda tão jovem e como tinha se tornado particularmente bonita.
O papel social e artístico de John foi acentuado pela parceria que acabou tendo com Yoko. Acho muito difícil imagina-lo sem uma mulher independente, poderosa e eficiente em sua vida.
Yoko nunca desviou John de sua atividade principal. Ele esteve entre os principais de nós a perceber que, em 1967, as composições pop, para serem especiais, exigiriam mais do que a habilidade de entreter e fazer refletir: as musicas  tinham que mudar o mundo e aguçar nossas percepções sobre ele, sua maravilha e suas falhas. Nada de novo, talvez para Bob Dylan, escorado como discípulo de Pete Seeger, mas para jonh e seus colegas, como eu, aquilo era uma coisa para a qual não tínhamos sido preparados nem treinados. A musica era “pós-guerra”, para dançar e como ajuda para esquecer. Nós dois tínhamos freqüentado a escola de artes é claro, e tenho certeza de que isso ajudou. Um dos professores de arte de John foi Donald Pass, o pintor visionário de anjos e da “colheita de almas”, algo que Donald afirma ter testemunhado. Essa inspiração e ambição ( de recriar uma revelação divina) deve ter inspirado o jovem John quase tanto a  noção de vestuário de alguns de seus amigos de  Hamburgo- a roupa supercool da Rive Gauche, influenciada pelo Elvis.
Ao ouvir “Strawberry Fields” pela primeira vez, e depois “ A Day in the Life” de Sgt. Pepper e “I Am Walrus” de Magical Mistery Tour, eu soube que John era também um gênio tocado pela mesma revelação. Ele tinha encontrado um caminho para se comunicar comigo em charadas, abstrações e vinhetas divinas bde impressionismo musical. Foi quando ele começou a trabalhar com Yoko que sua composição se tornou mais específica, inclinando-se menos para o alucinógeno poético de Alice no Pais das Maravilhas e mais para consciência social de  Woody Guthrtie. No caso de John, a reconciliação desses dois mundos gerou uma das mais incríveis musicas pop já compostas.”

Yoko Ono. Memórias de John Lennon/ editado e apresentado por Yoko Ono; tradução de Peine e Dalroney  Nóbrega. SP: Spiringer Publicações 2010, pg. 250-251      

quarta-feira, 1 de junho de 2011

A FAVOR DA INDIVIDUAÇÃO RADICAL!



Na cultura contemporânea o “transformar o mundo” ( Karl Marx) e o “transformar a vida” ( Rimbaud) tornaram-se premissas antagônicas do questionamento da ordem estabelecida a partir do momento em que a individuação passou a ser o grande referencial de qualquer recodificação possível da realidade cotidianamente vivida...

Hoje, mais do que nunca, podemos ir mais longe no questionamento do absurdo humano , jogando por terra toda caduca tradição cultural e cânone ocidental.

Podemos descontruir as  premissas de “sociedade” em nome do pouco de nossa múltipla singularidade em qualquer pequena arte de privada reinvenção do devir em que singularmente somos nas exigencias do corpo...

terça-feira, 31 de maio de 2011

IN TIME



Ontem vivia
Em meu amanhã.

Hoje invejo os futuros
Que se perderam
No passado
Em alguns desvios
De inesperado presente.

Através deles          
O tempo se faz quimera
Em meus teimosos
Sonhos
De  amanhãs infinitos...

ABSTRAÇÃO DO EU E DO OUTRO


Meus pensamentos



Dormem


Em sua lembrança,


Falam teu rosto,


Inventam sonhos


Em cada encontro


No qual escapamos


Um ao outro


Ausentes dos futuros


Que nos adivinham


Em silêncio.



sábado, 28 de maio de 2011

PARA ALÉM DA EPISTEMOLOGIA DA MODERNIDADE



Desde Galilleu, Newton e Descartes a epistemologia moderna  sustentou-se sobre a premissa de uma realidade objetiva, na correspondência direta entre as palavras e as coisas em matemática formula linguistica, ou na frágil e utópica tese de ujma verdade em si mesma oculta passível de desvelamento embora independente das codificações humanas do real.

Foi apenas ao longo do ultimo século que o intelecto, através da fenomenologia, da filosofia da linguagem, do existencialismo  e do relativismo filosófico começou a desconstruir este positivismo racionalista recusando a falácia pós religiosa de um conhecimento objetivo das coisas, reduzindo a realidade a uma invenção humana.

Em outros termos, hoje já é possível transcender os fundamentos epistemológicos da modernidade formulando múltiplas gramáticas do real que já não pressupõe a verdade em seu sentido tradicional.

A objetividade da realidade não é mais um dogma universal     

terça-feira, 24 de maio de 2011

A ERA DOS INDIVIDUOS



“Mas nem uma pessoa, nem qualquer número de pessoas, tem permissão de dizer a outro ser humano de idade madura, que ele não deve fazer com sua vida para seu próprio benefício aquilo que escolhe fazer com ela.”

John Stuart Mill in ENSAIO SOBRE A LIBERDADE 

A mais crucial questão da contemporaneidade é a afirmação dos direitos individuais contra os arbítrios coletivos inspirados por princípios ou valores pretensamente universais ou de natureza “coletivista”.
Parto da premissa que em um cenário cultural definido pelo multiculturalismo e por uma pluralidade cada vez maior das escolhas e possibilidades de estratégias de construções biográficas, já não é mais aceitável que o individuo deva dar explicações “ a sociedade” sobre suas ações desde que estas não inviabilizem a fluidez latente  do jogo das sociabilidades que caracterizam o convívio humano.   
As “sociedades” pós industriais do sec. XXI alcançaram um estágio inédito civilizacional onde pela primeira vez tornou-se possível que a sociedade adéqüe-se ao individuo em vez do individuo adequar-se a “sociedade”... Nos encaminhamos cada vez mais para a transfiguração de todos os valores.