domingo, 7 de junho de 2009

STEPHEN HAWKING E UMA BREVE HISTÓRIA DO TEMPO


“O progresso da raça humana em compreender o universo estabeleceu uma pequena área de ordem num universo crescentemente desordenado.”
Stephen W. Hawking

Quando li pela primeira vez UMA BREVE HISTÓRIA DO TEMPO do já lendário físico de Cambridge Stephen W Hawking, no inicio dos anos 90, tinha um pouco mais de 18 anos e apenas começava a definir meus interesses de estudo e eleger caminhos possíveis de vida e pensamento.
O tema pouco acessível, somado a popularidade do livro, que então já havia se convertido em um dos grandes best sellers de fins dos anos 80 e inicio dos 90, aguçou minha curiosidade. Através dele acabei, então, realizando meu primeiro contato com o denso universo da ciência contemporânea, sua linguagem e imagens vivas de significação de mundo. Posso hoje em retrospecto classificar como decisiva tal experiência em meus anos de formação como indivíduo. Pois esta foi uma das vivencias bibliográficas que alimentaram meu senso critico e radicais questionamentos em um momento de profundo questionamento das seguranças de fé e certezas metafísicas que o senso comum ingenuamente me oferecia.
É bem verdade que o livro em questão era ( e ainda é em grande parte) ilegível para o leigo no assunto que sou, mesmo que, como prudente obra de vulgarização não contenha aquelas cansativas e complicadas formulas matemáticas inerentes ao raciocínio de um físico teórico. Em que pesem meus limites de leigo, entretanto, creio que fiz na ocasião através dessa singular e ainda hoje clássica brochura uma descoberta deveras importante. Descobri o conhecimento humano como um processo, uma construção e desconstrução constante de teorias que confirmam e renovam em cada nova imagem de mundo que criam as potencialidades quase infinitas do intelecto humano. Em contra partida também aprendi que em nosso cotidiano não entendemos quase nada do mundo mesmo nos beneficiando na vida diária cada vez mais dos produtos do avanço do desenvolvimento técnico-científico.
O fato é que ainda hoje a idéia de um universo em expansão, a teoria dos buracos negros, a teoria da corda e a utopia de uma teoria unificada me fascinam como testemunho do esforço humano de traduzir o universo em linguagem e superar seus mais arraigados limites.
Uma das grandes questões especulativas do livro de Hawking é justamente a busca de uma teoria unificada cuja implicações ele assim esclarece:

“ O que significaria se atualmente se descobrisse a teoria definitiva do universo? Como foi explicado no Capitulo 1, jamais se teria certeza de que, de fato, seria a versão correta, uma vez que teorias não podem ser comprovadas. Mas se fosse matematicamente consistente e sempre fornecesse previsões que concordassem com observações, poder-se-ia ter razoável certeza de que seria a teoria correta. Colocaria um final no longo e glorioso capítulo da luta intelectual da história da humanidade para entender o universo. Mas também revolucionaria a compreensão comum que se tem das leis que governam o universo. No tempo de Newton era possível para uma pessoa culta abarcar todo o conhecimento humano, pelo menos em linhas gerais. Mas desde então, o ritmo do desenvolvimento da ciência tornou esse saber impossível. Dado que as teorias estão sempre sendo mudadas para dar conta de novas observações, não são nunca adequadamente digeridas ou simplificadas para que os leigos possam compreende-las. É necessário ser especialista, e mesmo assim pode-se esperar dominar apenas uma pequena proporção das teorias científicas. Além disso, a razão do progresso é tão acelerada que o que se aprende nas escolas e universidades já é sempre um pouco ultrapassado. Poucas pessoas podem fazer face às fronteiras do conhecimento que avançam rapidamente e é necessário devoção integral e se especializar numa pequena área. O restante da população tem apenas uma vaga idéia dos avanços que estão sendo feitos ou da excitação que eles estão gerando. Setenta anos atrás, acreditando-se em Eddington, apenas duas pessoas compreendiam a tória geral da relatividade. Atualmente cada dez em cem universitários graduados o fazem, e muitos milhões de pessoas tem pelo menos alguma familiaridade com a idéia. Se uma teoria completa unificada fosse descoberta, seria apenas uma questão de tempo até que ela fosse digerida e simplificada da mesma forma e ensinada nas escolas, pelo menos em linhas gerais. Seriamos então todos capazes de ter alguma compreensão das leis que governam o universo sendo responsáveis por nossa existência.”

( Stephen W. Hawking. Uma Breve História do Tempo: Do Big Bang aos Buracos Negros/ tradução de Maria Helena Torres. RJ: Rocco, 19° ed, 1989, p. 229-230 )

VIDA E LINGUAGEM

Há em toda comunicação e diálogo algo de um intraduzível sentimento de mundo, uma involuntária sensação de estar aqui e agora a construir discursos contra os limites da própria linguagem.
Trata-se de uma imprecisa consciência de si mesmo que por trás das palavras escreve involuntários silêncios nas múltipla sensações de compartilhar a experiência de estar vivo...

BLACK HOLE

Vejo a existência espalhada
Na desordem do tempo
Sem qualquer margem
Ou limite,
Livre no inverso do pensamento.

A vida estática
E abastrata
No imaginário de um devaneio
Desloca-se das coisas
Impludindo infinitos
E desvelo
Meu intimo
Lugar nenhum.

sexta-feira, 5 de junho de 2009

ORIGENS DO ROCK AND ROLL


Não é uma tarefa muito fácil falar com alguma precisão ou rigor sobre os marcos de origem do velho rock and roll nos Estados Unidos do pós segunda grande guerra. É mais seguro tomá-lo, enquanto novo estilo musical, como uma construção coletiva da primeira e extremamente criativa geração de rockers. Dentre eles destacam-se nomes como o de Chuck Berry, Elvis Presley, Bill Halley, Litle Richard, Gene Vicent e Jerry Lee Lews, e tantos outros.
Segunda uma versão sacralizada o rock and roll teria sido “inventado” por Chuck Berry e sua certidão de nascimento seria a gravação de Maybellene em 1955. Outra versão, entretanto, toma como seu primeiro marco a gravação do compacto Rocket 88 em 1951 por um conjunto de rhythm & blues chamado The King of Rhythm.
Como em seus primórdios o rock encontrava-se muito próximo de suas matrizes de origem a ponto de pouco diferenciar-se delas, é muito difícil precisar em que momento e através de quem ele se emancipou de suas raízes a ponto de constituir um estilo e personalidade musical própria. Afinal, as raízes do rock and roll são diversas. Suas influencias iniciais compreendem o blues tradicional, o rhythm & blues, a musica country, o folk, o boogie woogie e até mesmo um pouco de gospel. Se podemos defini-lo como uma musica rápida e dançante, baseada em três ou quatro acordes e interpretada de modo alucinado e jocoso, isso não é absolutamente suficiente para distingui-lo sem equívocos, por exemplo, do rhythm & blues.
De um modo ou de outro foi ao longo dos anos 50 que, impulsionado por uma poderosa industria cultural, o rock projetou-se como fenômeno diferenciado em meio ao rico cenário musical do período cativando um público de adolescentes que a partir dele construiu uma identidade e um universo próprio de questões e dilemas. De certo modo o rock reinventou as representações sociais do ser jovem e redefiniu seu lugar e espaço na sociedade ocidental ao relativamente libertá-lo do peso das tradições e costumes convencionais...
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Mesmo sendo uma obra demasiadamente sintética e factual dada sua formatação, o ALMANAQUE DO ROCK: HISTÓRIAS E CURIOSIDADES DO RITMO QUE REVOLUCIONOU A MÚSICA de Kid Vinil é uma referência relevante para os estudiosos do rock na medida em que fornece um panorama da evolução e diversificação gradativa deste singular estilo musical ao longo do tempo. A obra abrange um período relativamente longo que compreende os primórdios nos anos 50 até o diversificado e complexo cenário dos anos 00, discutindo também suas perspectivas de então.
No que diz respeito especificamente ao rock dos anos 50, o autor nos lembra uma influencia normalmente ignorada na formação do rock and roll:o Bebop. Em suas próprias palavras:

“ O Bebop que apareceu com o fim das big bands, foi outra raiz do rock and roll. Era um tipo de jazz misturado ao blues feito pelos jovens negros, mas não era dançante como o som das swing bands. Nomes como o do saxofonista Charlie Parker e do trompetista Dizzy Gillespie destacaram-se nessa onda.”

( Kid Vinil. Almanaque do Rock: Histórias e curiosidades do ritmo que revolucionou a música. SP: Ediouro, 2008, p. 17 )


Ele também resgata o lugar do Doo-Wop como estilo de rock dos anos 50:

“Um estilo importante dentro do rock and roll dos anos 50 foi o doo-woop, uma espécie de exercício vocal feito por grupos de jovens negros e brancos, pobres e, às vezes, ítalos-americanos, que começaram a carreira cantando sem nenhum acompanhamento de instrumentos, naquilo que chamamos a capella. Nessa década, apareceram diversos grupos desse estilo, e alguns conseguiram certo sucesso, como The Crows, The Penguins, The Ravens e The Orioles. Mas outros também merecem destaque, entre eles: The Platters, The Clovers, The Spaniels, Flankie Lymon and The Teenagers, Dion, The Flamingos e The Drifters.
Em 1954, um dos grupos precursores foram os canadenses do Crew Cuts que chegaram ao primeiro lugar em algumas paradas com a musica “Sh’Boom”, que consistia em um arranjo vocal dos quatro integrantes. No ano seguinte emplacaram mais uma: “Earth Angel”, regravação dos The Pingüins.
The Crows foi o primeiro grupo vocal a tocar em rádios de brancos em 1954, com a música “Gee”. Entretanto, um dos grupos mais bem sucedidos foi o The Clovers, que se emplacou 13 sucessos entre 1951 e 1954. Sem contar o The Platers, grupo de dôo-eoop que entrou nas principais paradas com “The Great Pretender” em dezembro de 1955.”

( Idem p. 15)

quinta-feira, 4 de junho de 2009

CONTOS DE VIRGINIA WOOLF


A HAUTED HOUSE AND OTHER STORIES (Uma casa assombrada e outras histórias), segundo livro de contos de Virginia Woolf (1882-1941), organizado e publicado postumamente pelo seu marido Leonard Woolf, é uma peculiar e sedutora amostra do complexo e revolucionário universo ficcional da ilustre e sensível romancista do ciclo de Bloomsbury.
Pode-se dizer que os contos ocupam um lugar menor em sua vasta obra relacionando-se diretamente com a peculiar dinâmica de seu processo criativo. Pelo menos é o que sugere o prefácio de Leonard a coletânea de 1944:

“ MONDAY OR TUESDAY ( Segunda ou terça feira), o único livro de contos de Virginia Woolf a sair enquanto vivia, foi publicado há 22 anos, em 1921.Permaneceu esgotado durante muitos anos. Ao longo de toda a sua vida, vez por outra Virginia Woolf escreveu contos. Quando lhe ocorria alguma idéia para conto, costumava esboçá-lo em forma bastante rudimentar e depois guardava-o em uma gaveta. Posteriormente, quando acontecia que um editor lhe pedisse um conto, e quando ela se sentia disposta a escrever ( o que não era muito comum), tirava um dos esboços da gaveta e o reescrevia, por vezes exaustivamente. Quando julgava, como amiúde fez, que enquanto escrevia um romance precisava de um período de descanso mental através do trabalho de outro texto, escrevia ensaios críticos ou elaborava os esboços de contos.”

(Leonarde Woolof. Prefácio in Virginia Woolf.Uma casa Assombrada/tradução de Jose Antônio Arantes. RJ: Nova Fronteira, 1984, p.7)

Não deve, portanto, surpreender certo “sentimento de esboço ou inacabamento” que a leitura dos contos de Virginia por vezes nos despertam ao fim da leitura. Lidamos aqui na maioria das vezes realmente com elaborados esboços. Nem por isso deixamos de encontrar neles os temas chaves do complexo universo ficcional da autora: o tempo, o fluxo de imagens, percepções e reflexões subjetivas e uma sensibilidade única para as sutilezas do fazer-se cotidiano da existência.

Um dos contos mais interessantes da coletânea é o intitulado “Um Romance não escrito” onde por capricho do acaso penetramos na intimidade da anônima Minnie Marsh em uma aventura pelas paisagens humanas que nos cercam em silêncio no fluxo da multidão ocultando tramas, impasses e dilemas ordinários cuja substância é a de verdadeiros romances jamais escritos, mas dos quais não nos damos conta de tão mergulhados nos impasses de nossas próprias consciências individuais.
O conto inicia-se com uma cena corriqueira e significativa:

“Uma tal expressão de infelicidade por si só bastava para o nobre rosto da mulher-insignificante sem aquele olhar, com ele quase um símbolo do destino humano. A vida é o que se vê nos olhos das pessoas; a vida é o que elas aprendem e, depois que o aprenderam, jamais, embora procurem escondê-lo, deixarão de estar cientes- de que? De que, parece, a vida é assim. Cinco rostos frente a frente- cinco rostos maduros- e em cada rosto a consciência. Estranho, porém, como desejam dissimulá-la! Há sinais de reticência em todos os rostos: lábios cerrados, olhos sombrios, cada uma das cinco pessoas faz alguma coisa para esconder ou anular a consciência. Uma fuma; outra lê; as terceira verifica notas num livro de bolso; a quarta fita o mapa do trajeto no painel em frente; e a quinta – o mais terrível a respeito da quinta é que não faz absolutamente nada. Ela olha a vida. Ah, mas minha pobre e infeliz mulher, participe do jogo-por nossa causa dissimule!”

(Virginia Woolf. Um Romance não escrito in Uma casa Assombrada/tradução de Jose Antônio Arantes. RJ: Nova Fronteira, 1984, p. 15 )

COTIDIANA UTOPIA


Seduzido
Por um perfume distante
De dia novo
Deixo para trás
Posses perdidas,
Paisagens e dores
Para explorar horizontes virgens.

Dou adeus a antiga casa,
A roupa rota
E aos silêncios da vida.

Mendigo de risos
Acompanho uma esperança
Com a inocência de crianças.

Mas tudo,
Eu sei,
Não é mais que um sonho
Do qual em, segundos
Despertarei.

quarta-feira, 3 de junho de 2009

MULTIDÃO

Toda emoção se fez
De repente
Vaga percepção
Das coisas em profusão,
Parcial realização
Do entremecimento da vida
Diante do mundo.

O tempo sustenta a existência
Precariamente.
Quase me vejo em silêncio
Inerte no fluxo da multidão.

Tudo é puro e difuso
Sentimento
Sem objetos, objetivos
Ou futuro...

CRONICA RELÂMPAGO LV


As mudanças e pormenores dos dias passados invadem o momento apagando o presente. Considero todas as possibilidades perdidas em minhas irrefletidas escolhas de ocasião. Percebo que me tornei o incômodo silêncio de apagadas oportunidades somadas.
Assombra-me o fantasma do outro sepultado em meus atos. Mas sei que sou quem deveria ser na virtual paisagem de infinitas alternativas. Sei que me tornei em cada passo de tempo o que de alguma forma sempre fui...

terça-feira, 2 de junho de 2009

CRÔNICA RELÂMPAGO LIV

Respiro uma manhã corriqueira sem grandes planos ou projetos de dia. Tudo corre em rotinas, vãs expectativas e incertezas de futuros que talvez jamais existam como o melhor presente possível de mim mesmo.
Apenas me perderei daqui a pouco na paisagem urbana cumprindo ritos banais de existência indiferente a mim mesmo e diluído entre os outros.
Ao fim do dia voltarei ao ponto de partida, mergulharei no privado da existência comum sem perceber em minha face o consolo de um rosto. Surpreenderei em mim apenas minha auto imagem de fantasia a dizer o ínfimo ponto de oceano humano que involuntariamente sou.

segunda-feira, 1 de junho de 2009

MINUTE

Vejo vazios
Correndo sob o céu estrelado
No corpo do vento,
Transmutando espaços
Na falsa melancolia
Dos silêncios.

Um deserto rebelado
Percorre o frio da noite
Dentro de mim.

Ofereço ao nada
Palavras de sono
Sondando os sentimentos
Vivos
Da madrugada aberta

In a minute...