MINHA VOZ

Minha voz é pequena.

Nunca pretendeu multidões de ouvidos,

aplausos e ovações.

Ela procura apenas

saber o encanto do próprio eco,

o tamanho do próprio silêncio 

e o alcance de sua ilusão.

VERDADE E MENTIRA

A verdade não mora na cabeça dos sábios,

na letra morta dos livros,

nos sermões da montanha

ou nos decretos de Estado.

A verdade, simplesmente, não existe.

Não passa de um velho e desgastado mito.

Já a mentira está por todas as  partes.

Cada um tem a sua favorita,

a que melhor se adequa a sua vã vaidade

e que precariamente sustenta

 sua mais suportável  versão da realidade.

META FILOSOFIA DA EXISTÊNCIA

A existência é feita de coisas indiferentes a consciência...

Mas a existência é também a manipulação das coisas por um  corpo vivo.

É introspecção, teleologia e paciência.

Ela é a distância que comunica coisas e corpos através do sonho da consciência. Mas nada disso cabe na linguagem  ou vira filosofia...

LIBERDADE NIILISTA

Não sou escravo de convicções,

verdades e identidades.

Sou minha própria causa,

a medida do nada

que me inventa livre,

incerto e provisório.

O mundo é meu lado de fora,

o vazio é meu lado de dentro.

Sou apenas um corpo

embriagado de consciência

entre o céu, a terra

e a escuridão do universo.

MINHA CAUSA

"Há tanta coisa a querer ser a minha causa! A começar pela boa causa, depois a causa de Deus, a causa da humanidade, da verdade, da liberdade, do humanitarismo, da justiça; para além disso, a causa do meu povo, do meu príncipe, da minha pátria, e finalmente até a causa do espírito e milhares de outras. A única coisa que não está prevista é que a minha causa seja a causa de mim mesmo! "

Max Stirner

Minha causa é a liberdade

de viver a radicalidade de ser um corpo

livre de alma, espírito, razão 

ou de qualquer forma de absoluto e ilusão.

Falo da liberdade de ser nada

e me saber tudo,

de dizer não 

enquanto o mundo passa

e a vida acaba em um segundo.

Minha causa é a causa de nada,

parafraseando Goethe

e lembrando Stirner

ultrapassando os limites da simples razão.

NA ERA DA INFORMAÇÃO

Flivolidades e modismos 

dão o tom da modernidade.

Nada tem profundidade,

real efeito de verdade,

em tempos de algoritmos,

simulacros e hiper realidade.

Tudo é circunstancial e perecível,

comportamento de manada,

informação rasa.

É tempo de quase absoluta banalidade

em tempos de opiniões massificadas.

SOBREVIVER

Tudo que importa é sobreviver.

Simplesmente sobreviver.

Sem grandes objetivos.

Sobreviver conforme a natureza,

acumulando saudades e perdas, 

aprendendendo a morrer todo dia.

Sobreviver apenas existindo,

obediente aos instintos,

até o limite do eu, do corpo e da vida.

Sobreviver para desaparecer,

deixar de ser,

mas, talvez, por um segundo,

VIVER,

enquanto tudo termina.

AFORISMO SOBRE A ARTE DE ESCREVIVER

Escrever é lapidar a existência, até desaparecer nela através de uma palavra embriagada, sincera e incerta.

Escrever é evadir-se , construir estratégias de não ser, calar o tempo, trans-viver.

Esquecer....

A ARTE DE APRENDER

Aprender não é repetir

o que se viu ou ouviu,

mas criar, transformar,

reinventar a própria experiência,

redefinindo o devir da existência

a partir do que foi visto, ouvido e sentido.

Aprender é saber  viver e morrer.

É transcender o tempo,

a verdade e a rotina,

abandonar rebanhos,

negar autoridades e  recusar obediências.

Aprender é, acima de tudo,

uma prática  de vida e liberdade.

.

POR VIR

O mundo esta sempre em processo, 

em vias de ser. 

Nada termina de acontecer,

 de mudar,

 buscar, perder,

 e não ser...