sexta-feira, 30 de agosto de 2024

ENSAIO DE REBELDIA

Minha imaginação 
despreza o absurdo da realidade
como um cativo odeia
as grades de sua prisão.

Juntem seus sonhos,
suas silenciosas desistências
e dolorosas  resistências.

Organizem a raiva.
Juntem suas misérias,
angústias e renúncias 
contra o mundo morto
que nos obriga, sempre de novo,
ao conformismo da mais cega sobrevivência.

Lutem contra o medíocre resto
de suas tristes e inúteis existências.
Imaginem um mundo novo,
qualquer  outra experiência 
que transcenda a desigualdade e a miséria.






A VIDA, O ACASO E IMPONDERÁVEL

Lidamos o tempo todo
com o inevitável
 e o indeterminado
que nos ultrapassa.

A vida não é feita de escolhas,
opiniões e certezas.
Mas de fatos brutos,
 acontecimentos incontroláveis
e incomensuráveis grandezas.

A vida é o que foge ao controle,
é o que transborda,
o incontrolável e o imponderável 
de um caprichoso acaso
que nos molda.







quarta-feira, 28 de agosto de 2024

A VIDA PERDIDA

Enquanto vivia
ele procurava
uma vida
que lhe faltava.

Ele pescrntia outros dias,
explorava noites e madrugadas,
através de frestas, avessos
e buracos.

Procurava...
insistia.
Queria muito 
Uma vida
que nunca encontrava,
algo que se perdia,
que morreria.
Mas em lugar algum
estava.
Havia apenas ele
enquanto aquele
que morria.



sexta-feira, 23 de agosto de 2024

SOBRE LIBERDADE

Liberdade é, antes de tudo,
movimento. 
Como tal, é,
 um mudar permanente,
um incessante deslocamento,
que extrapola todo acontecimento.

Liberdade é saber sempre um outro
de si e dos outros.
É não limitar-se a identidades,
verdades,
ou sucumbir a hierarquias 
e autoridades.

Liberdade, meus amigos,
é ir além da necessidade.




segunda-feira, 19 de agosto de 2024

DESPERTAR


É preciso avançar contra o passado,
sonhar outros futuros,
antes que seja tarde
para qualquer amanhã.

É preciso acordar às crianças 
do pesadelo do mundo.
Saber o intempestivo,o devir
a falta de sentido,
e a angústia que nos move
contra os dias e seus absurdos.

É preciso provar  um  silêncio profundo...


SABER NIILISTA

Tudo que sei 
é a concretude viva da terra,
a materialidade de um chão
que não é humano,
nem divino.

Tudo que sei
é que o universo não sabe  razão,
não se conforma a verdades.
O universo, simplesmente, é,
na contramão de toda filosofia e religião.

Tudo que sei
é que nada é definitivo,
 que não importa o que eu sei
e que tudo que é humano
é irrelevante.





sábado, 17 de agosto de 2024

O QUE NOS CONFORMA

O que nos conforma
é a degradada lembrança 
dos anos de infância,
a ilusão de que um dia
tivemos esperanças,
que éramos felizes
sobre a tutela dos pais
e toda alegria do mundo
 cabia dentro de casa.

O que nos conforma
é a mansidão que nos ensinaram
nos anos em que tudo era quase sonho e nada nos ameaçava.

O que nos conforma é lembrar a TV,
o rádio e o jornal diário 
que nos inventavam a mentira de um mundo mágico,
mais do que suportável.

O que nos conforma
é o que fomos, lembramos,
 e nos faz hoje
querer de volta o passado
para sobreviver ao futuro.

O que nos conforma
é a intensidade de nossas primitivas ilusões.




terça-feira, 13 de agosto de 2024

SOBRE ESCREVER E MORRER


Escrever deve ser um ato de transgressão,
Deserção.
Jamais um tributo a gramática,
a erudição ou um divertimento de salão.

Escrever é um agir solitário   em revolta
contra o cotidiano,
a modernidade, a cidade,
a moral vigente
e o poder de Estado.

Escrever é querer destruir
todos os limites de ser
no morrer que sempre nos visita
através da escrita.




sábado, 10 de agosto de 2024

REDE SOCIAL

Nas redes sociais a imagem é a realidade de um tempo sem substância.
Tudo é passado, tudo é presente,
na persistência do efêmero.

Não há sentido em nenhuma lembrança 
pois nada vale um vestígio,
um indício,
do que nunca mais será.

A vida é o abismo de um momento
que não se sustenta
Ana prisão de um dispositivo.



 


quarta-feira, 31 de julho de 2024

IMPESSOALIDADE

A vida é sempre outra
 enquanto as pessoas nascem,
 morrem
 e quase não são notadas. 

 Há sempre outros rostos e vozes
 proliferando em uma infinita ilusão biográfica. 

 Quem sou eu, 
quem são os outros, 
quem fala por todos 
ou por ninguém, pouco importa. Somos apenas rostos sobrepostos, misturados e desfocados em um formigueiro.