sexta-feira, 29 de janeiro de 2016

O TEMPO, AS COISAS E A SUBJETIVIDADE

É por intermédio do tempo que nossos atos se encadeiam na construção de uma biografia  que, despida de linealidade temporal , é definida pela consciência que temos de nós mesmos através das coisas.

Assim, um determinado lugar, uma música, filme, e tantas outras pequenas coisas que em algum momento serviram a nossa experiência de estar no tempo e espaço, convertem-se em memória e vinculo com o mundo vivido.

O encontro do eu e do mundo é mediado pelos objetos que, tal como nós mesmos, caracterizam-se pela sua finitude e se convertem em extensão de nosso ser através da consciência.  Estar consciente é sempre um ser consciente de alguma coisa.

Morar em uma determinada casa, participar cotidianamente das rotinas de um  determinado bairro ou cidade, utilizar determinados objetos, é o que define nossa consciência do mundo. Não do mundo objetivo e diverso que  nos circula, mas do mundo particular e limitado de nossa experiência singular.

O que quero aqui afirmar é que somos compostos por uma articulação de micro- realidades socioculturais que interagem para definir as configurações de nossa consciência diferenciada.


quinta-feira, 28 de janeiro de 2016

FERIDAS DE UM DIA

O dia deixou algumas feridas,
alguns vazios e melancolias,
que não me cabem mais
por dentro.

Talvez nem saiba mais de mim,
dos meus restos ,
dos meus gritos,
das minhas vontades despedaçadas.

Tudo é quase nada.
O dia deixou algumas feridas,
no corpo do tempo
e na carne da vida.

Já quase não sei da existência,
neste acontecer que não cabe mais

dentro de mim.

quarta-feira, 27 de janeiro de 2016

AFORISMAS ALEATÓRIOS SOBRE O LIVRE ARBÍTRIO

Caso me fosse possível escolher, acabaria me tornando outra pessoa na realização de alguma representação ideal de mim mesmo.
*
A vontade é uma imposição interna, não uma escolha.
*
Ninguém consegue libertar-se dos outros na realização de si mesmo
*
Não posso escolher o impossível
*

Toda liberdade é virtual. 

SOBRE O DETERMINADO DE NOSSAS ESCOLHAS

Não somos exatamente feitos de nossas escolhas.

Na verdade, as reações de determinada pessoa com a qual compartilhamos o convívio, com o tempo, torna-se bastante previsíveis. Isso porque cada um está preso a um padrão de comportamento ditado pela adesão a determinadas referências coletivas e tendências subjetivas que pouco deixam espaço para espontaneidade,estabelecendo, previamente e compulsivamente, nosso comportamento frente a situações e questões concretas.

Cada um é prisioneiro de seu modo de ser e nem sabe direito porque tende a se comportar e se posicionar no mundo de determinada maneira que o diferencia relativamente dos demais. Mas o que se ressalta aqui é que não se trata exatamente de uma opção consciente. Não importa se por influencia das condicionantes provenientes de vivencias pessoais ou de condições sócio-econômicas  que formatam cada trajetória de vida.


As disposições definem nosso livre arbítrio. Não é possível concebe-lo de modo abstrato e metafísico, a partir de uma vontade livre e incondicionada. Só somos livres na medida em que acreditamos na liberdade como probabilidade, como a capacidade de realizar escolhas pré configuradas.

VERSÕES


Dentro de mim
há várias outras
versões do meu rosto
a espera de um raio
de luz e consciência.

Não há acordo entre elas,
Nenhum equilíbrio
que transcenda o momento.

Existo sempre no futuro
entre meus cacos
abandonados a margem

do abismo.

segunda-feira, 25 de janeiro de 2016

SEGUINDO NO ESCURO

A espera do incerto sigo para o futuro.
Nada é previsível
e a rotina não me engana.
Sei que o amanhã nunca chega,
que o ônibus atrasa
e que o almoço já está frio.
Conforme-se:

a vida segue no escuro.

NIILISMO

Não sei mais o significado do mundo,
a importância das coisas e experiências.
Do que me vale todo conhecimento,
meu mais profundo entendimento?
Já não habita minha palavra
os convencionais sentidos das coisas.
Nem mesmo moro em meu rosto
e desconheço o corpo
de minha existência.


sexta-feira, 22 de janeiro de 2016

ADEUS A TOTALIDADE

A totalidade escapa a percepção, não passa de uma abstração que nos permite lidar com a ilusão de que podemos dizer o mundo com certa “objetividade”. A ideia de uma verdade que extrapola nossas narrativas é o maior equivoco do entendimento das coisas em suas diversas variações cientificas ou não.

Chegamos a um ponto em que o inteligível deixou de ser um porto seguro ao conhecimento. Mesmo que seja, até o momento, ainda o único porto possível. É preciso romper com a ilusão de que nosso dizer o mundo da conta do próprio mundo. O que fazemos ao construir entendimento e conhecimento não passa de teleologia.


PALAVRAS

As palavras seguem seu próprio curso
apesar de mim.
Procuram umas as outras
tecendo significados,
inventando a vida
que quase não vive
em meus atos.

Não procurem entender
meus silêncios.
Não me procurem
em meus textos.

Pois não estou em parte alguma
de qualquer enunciado
que me contem.

quarta-feira, 20 de janeiro de 2016

VIDA E DIALÉTICA


Minha maneira de viver pode dizer alguma coisa sobre aquilo que me tornei através dos anos  em minha experiência do mundo. Mas não revela muito sobre quem sou em consciência e experiência estética das coisas vividas.

Um indivíduo se torna si mesmo através do olhar do outro. Mas quem é capaz de perceber uma outra pessoa em todas as suas nuanças  e descontinuidade de atos e pensamentos? Se quer somos capazes  de explorar nosso próprio rosto e perceber além de nossos desejos infantis e vaidades, aquela confusão intima de contradições que nos faz por dentro e pelo avesso de tudo aquilo que somos sem saber.