sexta-feira, 14 de junho de 2013

MENOS QUE O MUNDO



Cada vez menor
É o meu mundo,
Minhas possibilidades,
Meus sonhos
E minhas vontades.
Pouco cabe em mim
De realidade.
Tenho aos poucos
Ficado
Pelo caminho.

TRISTE POR DO SOL

Contemplando
O sol borrado
Que decorava
Uma tarde fria,
Revirei a vida
Através da memória.
Quase não me reconhecia
Em cada lembrança.
Habitava agora
O avesso de todas
As esperanças,
De todas as possibilidades,
No mais profundo
Desencontro de tempo e mundo...

DISTÂNCIA

Me faltam palavras
Para dizer
O mais obvio
De mim mesmo
Pois o essencial
Do fato de viver
Escapa
Na banalidade de tudo
Que existe
E me queima o peito.

quarta-feira, 12 de junho de 2013

NOVÍSSIMO QUIXOTE

A vida me deu
Apenas
O risco,
O grito,
O cisco no olho
E o horizonte fechado...
Apenas isso
Para enfrentar os dias
E sobreviver aos fatos
Como infante
E solitário sonhador.



segunda-feira, 10 de junho de 2013

EFÊMERO COTIDIANO

Torna-se
Cada vez mais
Difícil
Distinguir
O depois
Do ontem
Nas urgências fugazes
Do sempre igual
Do agora.


Consumido
Pelas minúncias cotidianas
Quase não respiro
O tempo...

PAISAGENS PERDIDAS

É triste
Quando os olhos
Procuram perdidos
Aquilo
Que já não pode
Ser visto,
Tudo que o tempo
Roubou da gente
Contrariando as urgências
Do querer e da vontade.
Hoje a antiga paisagem
Já não é mais a mesma,
Não nos conforta
Ou abriga,
Se quer nos reconhece...

quinta-feira, 6 de junho de 2013

AFORISMAS SOBRE POETICA



Assim como a vida cotidiana a poesia é um fato linguístico.
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Pode-se dizer que a poesia só acontece quando o sujeito se torna objeto da coisa que se transcende como objetetividade nas imaginações das palavras,  transfigurando-se em imanente PRESENÇA.
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O extrateritorial da vida é o que melhor define as imagens poéticas, cuja premissa básica é a ruptura do real e do  convencionalmente estabelecido.
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A poesia fala onde o eu se cala.

Estudos Semióticos - número três (2007) ZERBINATTI, B. P. ( citação)

Estudos Semióticos - número três (2007) ZERBINATTI, B. P.
www.fflch.usp.br/dl/semiotica/es


"Em seu último livro individual, Da Imperfeição, publicado em 1987, Greimas
trabalha com a noção de estesia. Levando em conta que nossa vida é pautada no
cotidiano, esse cotidiano que cria o hábito é dessemantizado; uma “fratura”, um
inesperado que irrompe traz a essa vida um novo sentido, uma espécie de estado de
graça no momento do encontro com o objeto. Temos assim o que se denomina
experiência estética.
A propósito dos elementos constitutivos da apreensão estética, em um
fragmento do romance Sexta-feira ou Os limbos do Pacífico de Michel Tournier,
analisado neste mesmo livro, Greimas aponta “a inserção na cotidianidade, a espera, a
ruptura de isotopia, que é uma fratura, a oscilação do sujeito, o estatuto particular do
objeto, a relação sensorial entre ambos, a unicidade da experiência, a esperança de uma
total conjunção por advir” (2002, p.30). Mais adiante é colocada a idéia da “espera do
inesperado” na qual o sujeito fixado em sua cotidianidade seria portador dessa espera de
algo extraordinário que traria o deslumbramento, um novo sentido, ainda que sob o
risco da própria anulação do sujeito que, na fusão com o objeto, já não encontrará mais
sentido para sua busca. Por isso também o momento da apreensão estética não dura
muito e, em seguida, o sujeito se vê mais uma vez devolvido a seu estado anterior,
munido agora de certa nostalgia, a nostalgia da perfeição.
Podemos ainda verificar que os recentes estudos relacionados ao andamento
são de grande valia para nosso propósito visto que, como afirma Zilberberg, “o
andamento é senhor, tanto de nossos pensamentos, quanto de nossos afetos, dado que
ele controla despoticamente os aumentos e as diminuições constitutivas de nossas
vivências.” (2006, p.168) Temos, assim, estreitas relações entre o andamento e os
elementos da apreensão estética, tanto no que se refere à cotidianidade quanto à própria
duração estética. É possível notar que os hábitos do cotidiano trazem uma espécie de
lentidão, um andamento que poderia ser considerado lento, enquanto o momento da
apreensão estética, no que concerne à duração, é rápido. A respeito disso, citamos mais
uma vez Zilberberg (2006, p.171):
“O andamento rege a duração por uma correlação inversa, na medida em que
a velocidade, para os homens, abrevia a duração do fazer: Quanto mais elevada é a
velocidade, menos longa é a duração – apresentando-se o ser unicamente como um
efeito peculiar à lentidão extrema.”
Assim, se o ser é um efeito peculiar à lentidão extrema, podemos então
observar como se constitui no poema “O mínimo do máximo” de Paulo Leminski,
publicado no livro Distraídos Venceremos em 1987"

A DISTÂNCIA ENTRE O EU E AS COISAS

Existe uma imprecisa distância entre o eu e as coisas que não cabe em qualquer palavra. É este insólito vazio que nos define todo o pensar possível sobre a condição humana. Trata-se de qualquer forma de angustia, de falta, que não se explica ou justifica. Apenas se expressa como inquietude que nos inspira os atos mais tresloucados e indispensáveis.
Isso é o que nos torna tantas vezes ridículos, cômicos de uma tragicidade  bizarra...

quarta-feira, 5 de junho de 2013

DESCONSTRUINDO O CONHECIMENTO

Recusar toda “metafísica essencialista”, todo suposto fundamento último das coisas, é confessar que já não é mais possível possuir ou ser possuído por uma concepção forte de “verdade”. Tudo que podemos é surpreender o mundo no imediato das aparências na exata medida que o inventamos coletiva e individualmente através de nossas codificações lingüísticas. Mas o mundo que representamos já não é mais “mundo”, lugar de significados,  é apenas o que somos capazes de dizer no jogo vazio da linguagem que se assume como uma fraca  resposta ao abismo estabelecido entre as palavras e as coisas. 
Assim sendo, cumpre pensar a possibilidade de entender o acontecer do mundo como uma meta abstrata, um duvidoso empreendimento. A cultura contemporânea anuncia a  duvida sobre qualquer “ possibilidade  de saber”  uma realidade cada vez mais pautada pelo ilegível, cada vez mais opaca a cognição e a codificação simbólica.
Apenas construímos castelos de areia gramaticais no dizer vazio do mundo....