quinta-feira, 6 de junho de 2013

Estudos Semióticos - número três (2007) ZERBINATTI, B. P. ( citação)

Estudos Semióticos - número três (2007) ZERBINATTI, B. P.
www.fflch.usp.br/dl/semiotica/es


"Em seu último livro individual, Da Imperfeição, publicado em 1987, Greimas
trabalha com a noção de estesia. Levando em conta que nossa vida é pautada no
cotidiano, esse cotidiano que cria o hábito é dessemantizado; uma “fratura”, um
inesperado que irrompe traz a essa vida um novo sentido, uma espécie de estado de
graça no momento do encontro com o objeto. Temos assim o que se denomina
experiência estética.
A propósito dos elementos constitutivos da apreensão estética, em um
fragmento do romance Sexta-feira ou Os limbos do Pacífico de Michel Tournier,
analisado neste mesmo livro, Greimas aponta “a inserção na cotidianidade, a espera, a
ruptura de isotopia, que é uma fratura, a oscilação do sujeito, o estatuto particular do
objeto, a relação sensorial entre ambos, a unicidade da experiência, a esperança de uma
total conjunção por advir” (2002, p.30). Mais adiante é colocada a idéia da “espera do
inesperado” na qual o sujeito fixado em sua cotidianidade seria portador dessa espera de
algo extraordinário que traria o deslumbramento, um novo sentido, ainda que sob o
risco da própria anulação do sujeito que, na fusão com o objeto, já não encontrará mais
sentido para sua busca. Por isso também o momento da apreensão estética não dura
muito e, em seguida, o sujeito se vê mais uma vez devolvido a seu estado anterior,
munido agora de certa nostalgia, a nostalgia da perfeição.
Podemos ainda verificar que os recentes estudos relacionados ao andamento
são de grande valia para nosso propósito visto que, como afirma Zilberberg, “o
andamento é senhor, tanto de nossos pensamentos, quanto de nossos afetos, dado que
ele controla despoticamente os aumentos e as diminuições constitutivas de nossas
vivências.” (2006, p.168) Temos, assim, estreitas relações entre o andamento e os
elementos da apreensão estética, tanto no que se refere à cotidianidade quanto à própria
duração estética. É possível notar que os hábitos do cotidiano trazem uma espécie de
lentidão, um andamento que poderia ser considerado lento, enquanto o momento da
apreensão estética, no que concerne à duração, é rápido. A respeito disso, citamos mais
uma vez Zilberberg (2006, p.171):
“O andamento rege a duração por uma correlação inversa, na medida em que
a velocidade, para os homens, abrevia a duração do fazer: Quanto mais elevada é a
velocidade, menos longa é a duração – apresentando-se o ser unicamente como um
efeito peculiar à lentidão extrema.”
Assim, se o ser é um efeito peculiar à lentidão extrema, podemos então
observar como se constitui no poema “O mínimo do máximo” de Paulo Leminski,
publicado no livro Distraídos Venceremos em 1987"

Nenhum comentário: