domingo, 24 de dezembro de 2023

O MUNDO NÃO MAIS EXISTE

O mundo já não existe
dentro ou fora de nós
em um jogo vazio
entre objetividade e subjetividade.
Ele se quer sobrevive
na ordem da linguagem.

Mesmo assim, precariamente persiste
em nossa imaginação,
em nossos atos e condicionamentos,
despido de objetivos,
carente de uma solução ou de um pouco de razão.


O mundo é a miséria, a guerra e a exploração.
O mundo é nossa impotência.
É a morte que nos espera.
Nossa extinção.

O mundo já não existe
e não sabemos mais
o que somos
através dele
ou dentro de nós.
Tudo existe como simulacro,
quase ilusão.

quinta-feira, 21 de dezembro de 2023

METAFÍSICA DA TELA

A tela transcende o mundo,
a linguagem e a representação.
Ela ultrapassa toda comunicação.

A tela  é o vazio que tudo contém,
o paradoxo e o simulacro
do eu e dos outros
através das coisas
organizadas em caos.

A tela é mais do que os deuses,
a natureza e toda ficção/definição de absoluto.

A tela é tudo que devora
e é devorado.
A tela é  assignificante 
na realidade  de todas as coisas
que lhe atravessam
como imagem e imaginação.


terça-feira, 19 de dezembro de 2023

QUANDO NADA IMPORTA

Nada me importa.
Ignoro todos os discursos,
instituições, valores,
rebanhos e mundos.

Sigo cego, surdo e mudo
pelo tempo que me consome e me falta,
pelas inúteis palavras que me restam
além do bem e do mal,
sem reconhecer autoridades,
poder, vaidade ou eloquência 
maior do que minha indiferença.

Tudo é pó
e nada me importa,
pois também sou pó
 e ninguém me intimida,
fascina ou governa
na indiferença da minha presença
tão sinceramente niilista.





domingo, 17 de dezembro de 2023

INDIVIDUAÇÃO

Individuar-se ,
é desaparecer em si
através do mundo
até o limite da realidade,
da palavra, do corpo
e da verdade.

A vida é nada
e isso nos move,
faz a liberdade ser
como indeterminação e movimento,
como um fora que nos surpreende dentro de círculos.

Individuar-se é despersonalizar-se,
é vir a ser como singularidade.

DO SILÊNCIO DOS OLHOS

A realidade das telas impõe silêncio aos olhos famintos de sentido
que recusam o texto,
a imagem e o gesto.

Em silêncio,
os olhos já não enxergam.
Apenas sabem ver e esquecer.
São capazes de crer,
mas ignoram o saber
e desistiram, de vez, de compreender o mundo ou buscar sentido.

Há  olhos a deriva na tela
perdidos em seu próprio silêncio,
fugindo ao vazio da escrita e ao determinismo do verbo.

Mudos seguimos
entre o silêncio dos olhos
e os ruídos do mundo
despidos de compreensão 
e de qualquer sentido
que nos embriague de razão.

sábado, 16 de dezembro de 2023

DA MORTE DE DEUS A MORTE DO HOMEM

Há entre nós um mundo que  escapa,
uma linguagem que nos pensa,
e uma moral que nos castra.

Mas não há mais, entre nós ,
nenhum absoluto.
Nada é Uno, Único ou universal.

É impossível agora 
estar inteiramente no mundo
embora o tempo, ainda, 
exista através de nós.
Continuamos existindo no tempo
mas o mundo é simulacro.
Nada é racional.
Nada é em nós.
Nem mesmo o tempo e o espaço....

A conclusão é que Deus está morto
e o Homem é um animal
que não existe.

Há apenas o céu,
a terra, o mar,
 o Tártaro e a Morte.
Amanhã, é fato,
nada será além do humano.





quinta-feira, 14 de dezembro de 2023

ENTRE SER E NÃO SER

Existimos como corpo,
mas vivemos como consciência
e o mundo nos transcende
como experiência.

Tudo em nós é mudança,
movimento,
ou, simplesmente,
tempo que nos devora.

O Ser do mundo escapa a nossa existência
enquanto inventamos a alma das coisas.

Existir, para nós,
é essencialmente não Ser.

quinta-feira, 7 de dezembro de 2023

DA REALIDADE CONTRA A CONSCIÊNCIA

Quando a realidade ultrapassa a existência,
o tempo morre dentro da gente,
e a vida se vê reduzida
a uma prisão abstrata
entre as incertas paredes da percepção.

A morte é o absoluto que nos supera.
Através dela, nada faz sentido,
Tudo despensa razão.

Que estranha ilusão é a consciência,
para qual a realidade se apresenta sempre como uma estranha doença
que nos ameaça a existência.

A realidade é desrazão.


quinta-feira, 30 de novembro de 2023

DESENRAIZAMENTO

Todos os nossos lugares de ser 
foram desfeitos
 e uma noite cobriu os atos, pensamentos e afetos,
 que nos definiam a existência do mundo. 

A Razão está morta.
Nada é inteligível,
Inteligente e reconhecível.

 O que existe agora
 não tem mais efeito 
sobre a estrutura das coisas, 
corpos, palavras e alucinações,
 que substanciam a existência do mundo. 

 Em parte alguma ainda é possível ser, 
habitar uma precária e incerta consciência
 que provisoriamente nos abriga no tempo
 através dos ingênuos discursos de nossa tosca inteligência.

O fato é que nos falta ser,
não há mais onde acontecer.
Viver é um des-razoavel deserto.



quarta-feira, 29 de novembro de 2023

O DESAFIO DA VOZ E A PREGUIÇA UNIVERSAL

O corpo em movimento
através da voz
desafia a inércia dos objetos
que persistem em silêncio
enquanto o mundo desloca-se de si mesmo.

O corpo supera a percepção,
a consciência,
mas se deixa vencer
pelo cansaço que transcende o som e a voz.
Ao final, tudo termina com o  triunfo da preguiça universal.
Ela supera o corpo, o som, a voz,
o mundo e a vida.
Tudo terá um fim através da preguiça.