domingo, 24 de setembro de 2023

DEFINIÇÃO DE FUTURO

O futuro é aquilo que fizemos ontem na ausência do amanhã.
Ele é o que jamais será,
o que morre com a gente
e escapa a prisão da memória dos outros.

O futuro é nosso fim,
 nossa desesperança,
nosso silêncio
e a ruína de todas as infâncias.

sexta-feira, 22 de setembro de 2023

INSIGNIFICÂNCIA ONTOLÓGICA

Não sou senhor da minha vida, 
Da minha morte, 
Da minha vontade, 
Dos meus pensamentos,
 Ou, ainda, 
da minha própria sorte. 

 Meu corpo e meu tempo 
Não me pertencem. 
Como não são minhas 
As memórias da minha própria existência.

 A prisão de uma identidade 
Me impõe a ilusão de duração e essência 
Contra a experiência de acontecer Provisório 
e desfeito em mundo 
Até o silencioso fim dos meus dias inuteis.

sábado, 16 de setembro de 2023

ANTI HISTÓRIA

Não somos livres para sermos livres
em um mundo de escravos e mortos vivos.
A liberdade ainda está para ser inventada
e a vida aguarda ser sonhada,
transfigurada,
levada as últimas consequências da natureza e do planeta.
Absolutamente nada ainda aconteceu 
desde o início dos tempos.
Somos animais que nunca terminam de nascer.

terça-feira, 12 de setembro de 2023

A VIDA É NADA

Não há eternidade,
nenhum futuro para nossos egos.

 Somos no tempo que passa
apenas um nada.
 Sempre seremos nada, 
e um dia não existirá ninguém
 para ler Shakespeare na escola.
Um dia, nem mesmo existirão escolas...
Haverá apenas o silêncio
onde se apaga tudo que passa.
A vida é nada.



O DEVIR DE EXISTIR

A prisão de si mesmo
mata a imaginação.
Pois existir é ser outro,
saber o mundo
e se perder nas coisas.

Existir é uma experiência
 de devir e indeterminação.
É ser e não ser,
além da verdade, 
do tempo e da ilusão 
de em si mesmo viver, 
saber, morrer e esquecer.


domingo, 10 de setembro de 2023

APÓSTOLO DO NADA

Meu lema é  sempre des-esperar,
buscar o nada que nos abraça
na contramão do progresso e da esperança.

Sou matéria viva que se desfaz
entre a memória e a ausência,
entre o mar e a terra,
contemplando as estrelas,
adivinhando a queda do céu,
contemplando o caos como premissa de toda e qualquer  forma possível de existência.

Um dia nada mais será.
Não existirá mais terra,
nem acontecerá o mar.

Será a hora da  queda do céu,
do fim definitivo de toda forma de fé,
de toda possibilidade de escravidão e Império.

Tudo ficará em suspensão,
sem o alívio de qualquer  conclusão.




terça-feira, 29 de agosto de 2023

SANGUE, CARNE E CONSCIÊNCIA

Sou matéria, corpo e individuo.
 Sangue e carne. 
Fogo, talvez.
Já que sou devorado pela minha própria fome
 que com o passar dos anos 
 Cresce ao infinito e a mim mesmo consome. 

 Existir é  uma angustia que se expande como percepção,
como consciência do vácuo que esclarece o silencioso frio do universo
 contra o planeta que nos abriga,
que nos define como terrestres,
como sangue e carne,
contra toda ilusão de espírito e infinito
que nos nega como processo e matéria.


Parte de mim é terra
e existe como transfiguração da realidade
através da minha mais íntima e impessoal consciência.

CONTRA EDUCAÇÃO NATURAL

Tudo muda. 
Não temos tempo 
Para aprender ou ensinar nada.

 A consciência é éter,
 Algo que não se prende 
No tempo ou no pensamento. 

 Tudo muda e não cabe na prisão das escolas, 
Morre, envelhece e transforma.

 Estar vivo é buscar-se, 
 perder-se 
Em tudo que se esvai
e nunca se escreve
como verdade ou norma.

MICRO REALIDADES

Quanto menor uma coisa,
maior é o labirinto de detalhes
que lhe definem como matéria e tempo.

Todas as coisas pequenas
são barrocas e tristes
até o limite da angústia.

Todas as coisas pequenas
são imensas em nossos silêncios,
desejos e reminescências.

Todos nós somos coisas pequenas
a deriva no vácuo universal
desaparecendo lentamente e com estóica paciência,
em um universo que só nos oferece
sua monstruosa indiferença.

Como são gigantes as coisas insignificantes que ninguém sabe ou vê.


domingo, 27 de agosto de 2023

CONFISSÃO NIILISTA



Nunca me conformei as autoridades,
verdades, sociedades, deuses e Estados, que decoram a pobre imaginação das épocas.
Nunca obedeci a qualquer tábua de leis.

A civilização é uma prisão da qual cada um foge a sua própria maneira no  labirinto biográfico que lhe foi imposto.

Assim, fiz minha consciência livre dos grilhões da humanidade no infinito universo que me rodeia o umbigo.
Inventei minha própria natureza.

Jamais aceitei o jogo de qualquer forma de dominação ou relação de poder,
Nem me deixei ser escravo dos outros ou  das minhas próprias necessidades.

Nada jamais para mim esteve acima de nada.
Soube a liberdade como a intuição desesperada de uma descrença absoluta.

Não  sucumbi a ilusão de qualquer ideal abstrato de vida reta ou me rendi a vertigem da vaidade dos meus pensamentos.
Não frequentei idealistas ou materialistas.
Não pretendi  ciências ou sabedorias.

Sou neste mundo apenas  incerta matéria de esquecimento.
Mais nada.
Nunca pretendi colonizar vontades e  consciências.
Jamais quiz ser mais do que um efêmero momento.