domingo, 10 de setembro de 2023

APÓSTOLO DO NADA

Meu lema é  sempre des-esperar,
buscar o nada que nos abraça
na contramão do progresso e da esperança.

Sou matéria viva que se desfaz
entre a memória e a ausência,
entre o mar e a terra,
contemplando as estrelas,
adivinhando a queda do céu,
contemplando o caos como premissa de toda e qualquer  forma possível de existência.

Um dia nada mais será.
Não existirá mais terra,
nem acontecerá o mar.

Será a hora da  queda do céu,
do fim definitivo de toda forma de fé,
de toda possibilidade de escravidão e Império.

Tudo ficará em suspensão,
sem o alívio de qualquer  conclusão.




terça-feira, 29 de agosto de 2023

SANGUE, CARNE E CONSCIÊNCIA

Sou matéria, corpo e individuo.
 Sangue e carne. 
Fogo, talvez.
Já que sou devorado pela minha própria fome
 que com o passar dos anos 
 Cresce ao infinito e a mim mesmo consome. 

 Existir é  uma angustia que se expande como percepção,
como consciência do vácuo que esclarece o silencioso frio do universo
 contra o planeta que nos abriga,
que nos define como terrestres,
como sangue e carne,
contra toda ilusão de espírito e infinito
que nos nega como processo e matéria.


Parte de mim é terra
e existe como transfiguração da realidade
através da minha mais íntima e impessoal consciência.

CONTRA EDUCAÇÃO NATURAL

Tudo muda. 
Não temos tempo 
Para aprender ou ensinar nada.

 A consciência é éter,
 Algo que não se prende 
No tempo ou no pensamento. 

 Tudo muda e não cabe na prisão das escolas, 
Morre, envelhece e transforma.

 Estar vivo é buscar-se, 
 perder-se 
Em tudo que se esvai
e nunca se escreve
como verdade ou norma.

MICRO REALIDADES

Quanto menor uma coisa,
maior é o labirinto de detalhes
que lhe definem como matéria e tempo.

Todas as coisas pequenas
são barrocas e tristes
até o limite da angústia.

Todas as coisas pequenas
são imensas em nossos silêncios,
desejos e reminescências.

Todos nós somos coisas pequenas
a deriva no vácuo universal
desaparecendo lentamente e com estóica paciência,
em um universo que só nos oferece
sua monstruosa indiferença.

Como são gigantes as coisas insignificantes que ninguém sabe ou vê.


domingo, 27 de agosto de 2023

CONFISSÃO NIILISTA



Nunca me conformei as autoridades,
verdades, sociedades, deuses e Estados, que decoram a pobre imaginação das épocas.
Nunca obedeci a qualquer tábua de leis.

A civilização é uma prisão da qual cada um foge a sua própria maneira no  labirinto biográfico que lhe foi imposto.

Assim, fiz minha consciência livre dos grilhões da humanidade no infinito universo que me rodeia o umbigo.
Inventei minha própria natureza.

Jamais aceitei o jogo de qualquer forma de dominação ou relação de poder,
Nem me deixei ser escravo dos outros ou  das minhas próprias necessidades.

Nada jamais para mim esteve acima de nada.
Soube a liberdade como a intuição desesperada de uma descrença absoluta.

Não  sucumbi a ilusão de qualquer ideal abstrato de vida reta ou me rendi a vertigem da vaidade dos meus pensamentos.
Não frequentei idealistas ou materialistas.
Não pretendi  ciências ou sabedorias.

Sou neste mundo apenas  incerta matéria de esquecimento.
Mais nada.
Nunca pretendi colonizar vontades e  consciências.
Jamais quiz ser mais do que um efêmero momento.


UM SONHO DENTRO DE UM SONHO

A vida é como um sonho
dentro de um sonho
que nunca alcança seu lugar
no mundo.

Já a realidade, é menor que o sonho
dentro do sonho.
Nela quase não cabe a vida.

Já a morte é a paz que nos falta.
Pois não nos basta sonhar
e não é suficiente a vida,
o tempo e o lugar.

A vida precisa sempre escapar,
se perder, circular entre as coisas,
para que se possa sonhar contra tudo que existe.




sexta-feira, 25 de agosto de 2023

TEMPO DE ADEUS

É no passado que a vida se faz
carne, sangue e verbo.
Que existimos plenos entre os mortos
e o ser floresce sobre a  pele .

A vida é o que foi,
o que passou,
e não aquilo que
que contra nós será 
ou ainda acontece.

A morte e o presente, 
inventam um futuro luto
que nos supera.

É sempre tempo de adeus.

quinta-feira, 24 de agosto de 2023

ESPÍRITO GREGÁRIO

Somos , antes de tudo,
tristes animais gregarios.
Tudo que nos importa é a segurança de algumas verdades,
a certeza dos outros que nos conformam a realidade de um rebanho,
ou, simplesmente , 
algum tolo ideal de felicidade comum.

Almejamos ao tédio, a rotina,
a mesa farta, a disciplina
e a segurança do chão que nos sustenta os pés.

Somos animais que buscam,
como qualquer outro,
sua mera sobrevivência
em um mundo de incertezas
onde a morte  governa.

Mas estamos, entretanto, 
todos condenados.
Seremos superados pelo tempo e os  fatos
que exigem o parto de um novo mundo.


segunda-feira, 21 de agosto de 2023

VIVER SEM MOTIVO

Vivo porque sou movimento,
porque me faço passagem,
caminho e silêncio.

Vivo porque morro,
Porque nunca conclui 
meu nascimento,
e nunca saberei minha plena existência.

Vivo porque provisoriamente existo,
sem demandar razão ou motivo.

Até o dia da minha morte 
persistirei
como tempo, espaço, assombro e riso.
Permanecerei assignificante e ilegível
até o limite do infinito.

domingo, 20 de agosto de 2023

O PARADOXO DA CONSCIÊNCIA

Não cabe em nossa percepção
a imaginação que anima
todas as coisas vivas.

Nossa compreensão não passa de uma confusão criativa,
de uma ilusão produtiva.

Nossa consciência das coisas
é apenas um modo de ser nas coisas
quando nada é em si mesmo
na coincidência do verdadeiro e do falso
através do simulacro de nossa existência incerta.