segunda-feira, 23 de janeiro de 2023

ENTRE OS CONVICTOS, NÃO DIALOGUE

Gosto de ter alguns silêncios guardados comigo.
Nunca sei quando poderão ser úteis
para refutação de tagarelices.

Ignorar certos discursos é um sinal claro de lucidez
 quando as línguas dançam insanas nas bocas fanáticas  dos convictos .

 Contra elas o silêncio é sempre o melhor argumento. Pois não se deve perder tempo com os obsessivos amantes da verdade. 
É preciso evitar  o contágio, a armadilha de falsos diálogos.

PASSEIO NA PRAIA

Saturado de informações, 
Opiniões e conclusões, 
Foi passear na praia, 
 Beber o mar, 
deitar no colo de uma preguiça 
e esquecer o mundo. 

 A ignorância, 
afinal, é um dos nomes do paraíso. 
As vezes tudo que importa 
É não ter nada a dizer, 
Não pensar,
Não querer, 
Não ser,
viver as ondas do mar.

domingo, 22 de janeiro de 2023

O PENSAMENTO COMO NATUREZA CONTRA O PESADELO DAS ALMAS ELEVADAS

Pensar é uma forma de imaginar,
uma modalidade do sonhar,
de ser mundo, terra e natureza.

Todo bom pensamento deve dançar descalço,
aprender a intimidade de um chão.

Afinal, a  realidade é tudo aquilo que escapa
a nossa elevada e abstrata ilusão de humanidade,
a vertigem de céu dos nossos sublimes discursos,
a nossa aversão a carne e a morte,
que nos manteve, por séculos ,
reféns do abstrato pesadelo anti natural das almas.

Apenas as crianças sabem pensar.
Pois pensar não passa de um modo de brincar.

domingo, 15 de janeiro de 2023

MITO, VIDA E MEMÓRIA

A vida acontece além de nós,
in illo Tempore,
como uma marca,
um padrão,
que em sua singularidade
sempre retorna impessoal 
como um outro de si
através da singularidade
de cada organismo vivo.

A vida está sempre do lado de fora do tempo
e na inconstância do espaço.

Ela é consciência,
ação do espírito sobre a matéria
ou, simplesmente, memória
intercalando eternidades e sonhos.

A vida é mitologia,
criação e ato,
uma imaginação que nos inventa
na medida que se reinventa incerta.

A vida, talvez, não exista.


A VIDA DE HOJE

Todas as coisas que hoje definem a vida
são inexatas, provisórias e detestáveis.
Alguns dirão que assim sempre foi e será 
através das épocas
demonstrando uma sensibilidade duvidosa
para as questões últimas do devir humano.

Hoje, como nunca antes, somos governados pelo efêmero e o particular.
Deus está morto
e fomos condenados a liberdade.

As leis e as autoridades não convencem ninguém,
não acreditamos na razão moderna
e soa ridículo todo poder e hierarquia.

Aos que repelem as opiniões de manada,
a realidade revelou-se a mais sofisticada forma de ficção.
Poucos sabem aprecia-la como se deve
e rindo de tanta ilusão.




quinta-feira, 5 de janeiro de 2023

CONTRA A VERDADE, A RAZÃO E A FÉ

Transcendi,
Sem grande esforço,
o peso das identidades,
convicções e tradições
que me definiam o mundo.

Troquei o possível pelo imprevisível.
Provei a liberdade dos mendigos
e a sensibilidade de um deus vadio.

Descartei toda mania de poder,
toda ilusão de verdade
e dogmática miséria de qualquer forma de fé.

Aprendi o acaso como caminho
e me abriguei no silêncio mais sublime
para nunca mais me perder
na prisão abstrata
da afirmação leviana
de alguma  certeza universal e sem graça. 


sábado, 24 de dezembro de 2022

A MORTE DA REALIDADE

A crise é um modo de ser
em tempos em que tudo
é linguagem,
informação,
e todos os valores
estão em colapso
tornando precária
toda significação.

A maior parte de nós
é inconsciente
e não configura
modos de subjetivação.

O tempo é o espaço do agora
onde quase existimos
em nossa delirante imaginação.

O mundo se torna,
cada vez mais,
uma metáfora impossível.



sexta-feira, 23 de dezembro de 2022

ANTI MONOTEÍSMO

Em algum ponto
entre a respiração e a imaginação
toda palavra é inútil.
Não há lugar para significação,
E o desvalor afirma o silêncio
além da vida e da morte.

Em algum ponto
onde o corpo
apaga o mundo
e tudo é sensação,
existir se faz ilusão.

Não há mais um eu
e os outros,
apenas matéria crua,
composição,
além da percepção.

O múltiplo se faz infinito
onde o uno é impossível.

quarta-feira, 14 de dezembro de 2022

MUNDO CORPO

Existir é devir corpo e mundo
 No dentro e no fora
 Do movimento 
Que me projeta
 Como consciência e verbo, 
Que me faz acontecimento em curso 
Nos outros que me observam mudos
 Em qualquer canto escuro.

segunda-feira, 12 de dezembro de 2022

O CORPO QUE NOS INVENTA

O corpo despido de alma,
des-subjetivado,
Indisciplinado,
Transborda a própria presença
na negação do universo.

Reinventa o espaço,
 criando o mundo,
Como processo,
imanência,
Hedonismo,
além do conceito e do verso.

O corpo é medida de todos os verbos.
Plural, diverso e singular acontecimento
ele é natureza em movimento
que nos atravessa e supera
em seu modo de ser frágil e efêmero.