segunda-feira, 25 de julho de 2022

O NÃO SENTIDO DA POESIA

A poesia só faz sentido
Como intuição do sem nome da vida,
Como antecipação de um tempo absoluto,
Onde a realidade é um  sonho absurdo.

A poesia exige o corpo refeito em mundo
E o mundo desfeito em corpo.
Ela é a revelação inumana das coisas,
A superação do homem como medida da experiência.

A poesia é a quebra da representação,
A palavra incendiada e des- sacralizada.
Ela é o martelo que nos diz 
Que já é tempo de superar todos os rebanhos,
Enterrar tudo que é gregário,
E assumir de vez a insignificância de todo existir e presença.





quarta-feira, 20 de julho de 2022

O SEM NOME DA LIBERDADE

Liberdade não é uma palavra,
Mas a intuição de outro modo de vida,
De qualquer coisa que escapa ao nome,
A norma, a forma, e a lei.

Liberdade é aquilo que nos arde
Além da realidade,
Que foge ao tempo,
Ao espaço, identidades, poderes e mundos.

É a força de uma imaginação selvagem,
Que transcende os opostos,
Que cria na medida 
Que reduz tudo que existe
A incerteza de um sonho.

Liberdade é a arte,
Breve é a vida:
Solve et coagula.

terça-feira, 5 de julho de 2022

A VELHA ÁRVORE

Sou a velha árvore
Que me viu crescer,
Que soube a morte
Das coisas
Em seu próprio tronco
E cujas raízes
Buscaram o inferno
Para renascer.

O que fez nela o tempo
Que sonha nossas vidas?
A árvore não sabe dizer 
No invisível da memória
Que transcende a geografia.

O quintal vazio
Tem rosto de cemitério.

sábado, 2 de julho de 2022

A VIDA E O MUNDO

Afinal,
o que a vida se torna hoje
no além dos dias e das noites?
O que se faz mundo
enquanto o passado cresce
e algo em nós se insurge
contra o espírito da época?

Na criação do si mesmo
desaparecemos
no processo incerto
de um permanente nascer das coisas.

A arte nos reinventa no jogo de forças
do movimento de uma natureza múltipla
e tudo é transvalorado
na aventura de tornar-se,
ser em devir,
Imersos em um ético e estético exercício de consciência,
onde a vida é um ato contínuo de imaginação e indeterminação do mundo,
onde não cabe mais a ilusão do tempo presente,
nem a conveniência de qualquer segredo.


quarta-feira, 29 de junho de 2022

DES-CONHECIMENTO

Minha percepção e pensamento
não da conta do mundo, 
do universo, 
e nem mesmo do microverso da vida
do meu vizinho.

A realidade escapa ao conceito,
a palavra, ao jornal,
a todo artifício humano
destinado ao desvelamento do ser das coisas.

Pois nada é tal como concebemos.
Nada é real.

Toda realização humana
é um exercício de imaginação
e no raso profundo do mundo
impera a beleza inapreensivel do caos.
Um dia eka será arrebatadoramente visível!



LIBERDADE E IMAGINAÇÃO

Não importa o tamanho
dos meus limites.
Em todo espaço 
onde me faço corpo
invento a aventura
de ser livre.
Nenhuma forma de prisão,
nenhuma força ou opressão, 
diminui a potência de nossa imaginação criadora. 

terça-feira, 28 de junho de 2022

ASSIGNIFICANTE

Tudo em mim
é arcaico,
passado,
e intempestivo
no eterno retorno do futuro.

Nada em mim pertence ao presente
ou se pretende infinito.

Sou essencialmente mudança, 
duração efêmera
que não tem limite ou sentido.


sábado, 25 de junho de 2022

INCONSCIÊNCIA

A existência é questão de imaginação. 
Pois, a realidade,
se existe,
escapa as percepções e convenções humanas.
Tudo em nós é superfície,
ilusão
ou, simplesmente,
signo e símbolo.

sexta-feira, 24 de junho de 2022

ONTOLOGIA LIBERTÁRIA

Minha existência não tolera
tutela estatal ou moral.
É corpo e movimento
no raso abismo de si.

É ato contínuo de potência,
pulsão libertária 
que se inventa memória,
duração e criação de mundos,
entre mitologias e imanências.

Minha existência é liberdade,
singularizada experiência 
do além do humano
em devir natureza.




domingo, 12 de junho de 2022

O PARADÓXO DO SILÊNCIO

Tenho aprendido a saber o silêncio,
a presença muda das coisas
quando despidas de informação,
livres de qualquer exigência de comunicação ou significação. 

Onde não há sujeito e objeto
não se percebe os limites entre as coisas.

Tudo se mistura na composição da experiência do aqui e agora,
na decomposição do eu na inconsciência do sensível em toda sua inconstância. 

Pois no silêncio tudo se torna vivo, incerto e inumano.
Cada coisa participa da outra
tornando a vida incompativel
com a ilusão de nossa condição humana.

O eu e o mundo são uma única coisa em movimento
e as palavras são desnecessárias
onde o mínimo  é infinito e o máximo imperceptível.