sábado, 12 de fevereiro de 2022

META IMAGINAÇÃO

Imagens nos criam
na invenção do mundo.
Imagens sem tempo,
infinitas,
e quase intraduziveis.
São elas que nos decifram
na trama dos pensamentos.


Metamorfoses de imagens
embriagam a percepção
além dos sentidos
e tudo se faz movimento
e indeterminação.




quinta-feira, 10 de fevereiro de 2022

TERRA EM TRANSE



A America não é ocidente, nem oriente.
A América é um em devir inumano onde jamais fomos modernos, onde o intempestivo nos surpreende na gaia ciência de um existir intensivo, incerto, além do telúrico e a luz de um céu profundo.

quarta-feira, 9 de fevereiro de 2022

DESPERSONALIZAÇÃO E NEO PRIMITIVISMO FANTÁSTICO

Talvez "eu" seja apenas um traço constante de percepção e consciência, um organismo abstrato e despersonalizado, exteriorizado em mundo, movimento, e linguagem.
Existimos impessoalmente ao sabor dos afetos, na sucessão da variação, na duração de um único instante mutante.
Talvez eu seja nos outros um outro de mim mesmo no indeterminado exercício de estar provisiriamente vivo.
Talvez, toda matéria semiótica que nos significa a vida seja a  realidade de nossa ilusão primaria, ou, ainda, seja a desnaturalização civilizacional da sobrevivência, da persistência, que me faz animal vivente, imerso em natureza e alienado dela no exercício do verbo que aprisiona o corpo.
Talvez eu seja um uivo encarnado e silenciado de um outro ser perdido em multiversos.


domingo, 30 de janeiro de 2022

MILITANTE NIILISTA

Vi a morte
onde todos
buscavam vida.
Logo, rasguei minha sorte,
as palavras e seus significados.
Agora sou livre de todos os discursos,
de tudo aquilo que se pretende  verdade.
Existo a margem da sociedade,
entre a revolta e o niilismo.

FUGA N° 0

Desencantado do mundo,
decepcionado com o humano,
e doente de vida,
passei meu passado a limpo
no limbo dos futuros perdidos.

Sofri todos os destinos amargos e imaginaveis
para depois desaparecer em um grito,
transgredindo todos os limites
de nossa triste condição humana.

Desfeito no intempestivo,
roubei, então, do nada o infinito,
para abrigar meus vazios
nos incertos cumes do niilismo.

quarta-feira, 26 de janeiro de 2022

PASSADO FUTURO

O passado sempre fala ao futuro.
Pois o amanhã, 
de alguma forma,
já é passado.
Tudo está sempre a escapar
na perenidade dos atos
que me transformam
e transportam a um futuro
que me lança constantemente ao passado.

ANTI DEFINIÇÃO DE VIDA

 

A vida é qualquer coisa

que eu não sei onde está.

Só sei que não basta

estar vivo

para saber da vida

E cada um segue sua vida

entre vidas

pouco vividas.

a vida é sempre

algo além

de nós mesmos.

Mas não tente

tocar

a vida....

terça-feira, 25 de janeiro de 2022

ÉTICA, ESTÉTICA, E POESIA

O mundo será sempre pequeno para os filhos da poesia.
Pois a arte ensina profanas teogonias, fabulações selvagens, contra a miséria da realidade de todos os dias.
Transvalorizar a vida, transfigurar a palavra, implodir o corpo no devir do ser e do não ser, é o xamânico ofício e o exercício ético estético do saber poético anti moderno em seu doce delírio.

segunda-feira, 24 de janeiro de 2022

MUITO ALÉM DO OCIDENTE

Meus dias não  cabem no tédio do aqui e agora.
São vastos imateriais territórios
dos meus passados presentes.

Pois sou na coincidência de tempos
que me transcendem e formam,
entre a memória e o sonho,
de muitos urgentes antigamentes.

Agora mesmo, há um brilho de infância na mesa do almoço, 
um sabor  dos outros,
que me preenchem de ausências. 
Nos gestos indiferentes de algum intimo desconhecido,
surpreendo, por exemplo, a sombra de um velho amigo.

O tempo foge ao espaço 
e se espalha livre como um vento bravo
que me embriaga os sentidos
no sentimento de um instante movente pelo labirinto das épocas.

Há algo desfeito de mim
na sombra de uma árvore que me viu crescer,
na música do tempo dos meus avós
que me rouba os ouvidos.
Tenho muitas idades no fundo do corpo,
mas nenhuma delas me explica 
ou reduz a inércia de uma identidade qualquer.
Persisto desfeito em natureza,
além das certezas do humano,
no eterno retorno do informe
onde dorme minha finitude.
É sempre em todos os tempos
que tudo se transforma no agora.






 




OS DES-SENTIDOS DO TEXTO

 

Cada texto é uma ferida rasgada na pele da realidade.

Um procedimento evasivo, agressivo,

contra tudo aquilo que existe,

além do nome, da palavra,

e do sentido.


Cada texto é um exercício de calculada violência

contra a mudez do mundo,

contra o branco do papel e da tela.

É uma busca pela nervura incerta do real

que transcende o encadeamento das frases.