Meus dias não cabem no tédio do aqui e agora.
São vastos imateriais territórios
dos meus passados presentes.
Pois sou na coincidência de tempos
que me transcendem e formam,
entre a memória e o sonho,
de muitos urgentes antigamentes.
Agora mesmo, há um brilho de infância na mesa do almoço,
um sabor dos outros,
que me preenchem de ausências.
Nos gestos indiferentes de algum intimo desconhecido,
surpreendo, por exemplo, a sombra de um velho amigo.
O tempo foge ao espaço
e se espalha livre como um vento bravo
que me embriaga os sentidos
no sentimento de um instante movente pelo labirinto das épocas.
Há algo desfeito de mim
na sombra de uma árvore que me viu crescer,
na música do tempo dos meus avós
que me rouba os ouvidos.
Tenho muitas idades no fundo do corpo,
mas nenhuma delas me explica
ou reduz a inércia de uma identidade qualquer.
Persisto desfeito em natureza,
além das certezas do humano,
no eterno retorno do informe
onde dorme minha finitude.
É sempre em todos os tempos
que tudo se transforma no agora.