quinta-feira, 16 de dezembro de 2021

O CORPO E O TEMPO

O sumo do instante atravessa o corpo
na confusão  do eu e das coisas.
A percepção torna-se vertigem
entre a duração e a matéria. 
Inventa um sempre no quase de um segundo
contra  a fatalidade do esquecimento. 
O  tempo
é a inconstância dos arranjos do corpo
a margem da finitude
e no absoluto do instante.


segunda-feira, 13 de dezembro de 2021

SOBRE O INCONVENIENTE DE EXISTIR

Pensar, sentir, querer,
pouco importa.
A vida é uma vontade cega
formada pelo embate
de forças que me ultrapassam.

É do conflito que nasceram as estrelas
no negrume do céu. 
Mas eu não sou uma estrela,
e meus pés não sabem do céu.

Em mim se autodevora gratuitamente
o finito infinito
de um provisório arranjo de matéria.
Nada mais além disso.

Pensar, sentir, querer,
pouco importa.

 

sábado, 11 de dezembro de 2021

EPITÁFIO PARA UM ILUMINISTA

Prisioneiro de conceitos,
verdades e enunciados,
morreu despido de vida,
sufocado na bolha
do seu mundo imaginário. 
Sabia de razões, fatos,
causalidades e resultados,
mas ignorava a si mesmo
e os absurdos que nos inspiram os atos.


sexta-feira, 10 de dezembro de 2021

CONTRA CULTURA URBANA

Adivinhe intensidades não humanas
contra a realidade tosca
que nos prende a cidade. 
Procure segredos nos becos
e converse com os animais de rua.
Escute as árvores,
o capim contra a calçada. 
Nada é o que parece  ser,
 nada é humano.
Tudo é selvagem.
Persiga o vento
entre os carros
contra a miséria da realidade.

terça-feira, 7 de dezembro de 2021

DESEJO SELVAGEM

Devir desejos
onde tudo escapa
e as horas morrem
 nas ruinas da eternidade!

Em todos os tempos o desejo explode a prisão das vontades
e se faz novamente selvagem
contra a razão iluminada e viril
que aprisionou todos os sonhos e delírios.
Ainda existimos no início do mundo.


quinta-feira, 2 de dezembro de 2021

SOBRE O ILEGÍVEL DA VIDA

A vida que há dentro da palavra
falada ou escrita
contém qualquer coisa além 
da vida vivida.
Algo intenso, desconhecido,
que nos aguça a intuição do ilegível,
 que nos cala a própria existência,
e qualquer definição unilateralmente humana de vida
Contra a própria vida.


quarta-feira, 1 de dezembro de 2021

DESENCANTO NIILISTA

Desaprendi o mundo.
Agora sei a vida
através dos olhos de uma criança.

Na liberdade da ignorância 
e do desencanto das coisas
através do assombro do sublime,
enxergo o nada como um devir absoluto.

Tudo é livre e provisório, 
um mudar cego e constante,
na estética viva da incerteza de Ser.


terça-feira, 30 de novembro de 2021

PASSADO & EXISTÊNCIA

 

O passado é a realidade transfigurada em sonho através da ficção da memória. É o que nos situa no tempo e espaço do agora, estruturando nossa existência.

Mas o que é a existência além de um fluxo descontínuo de experiências impessoais através das quais o mundo se apresenta e se re-apresenta como íntimo enígma?

O passado é o ausente em relação ao qual nos reconhecemos como parte de qualquer totalidade cindida. Como Ulisses experimentamos o desconhecido como nostalgia da origem. Mas, ao contrario do guerreiro mitico, jamais regressaremos a Ítaca.



sábado, 27 de novembro de 2021

O ENÍGMA DO ETERNO INSTANTE

Neste instante,
 estou aqui,
 ainda não nasci,
e também já morri.

A indeterminação do ser e do não  ser 
desfaz a finitude como questão.
A eternidade é um eterno agora
onde existir é mera ilusão. 

sexta-feira, 26 de novembro de 2021

TEMPO E MUNDO

O mundo tornou-se um labirinto em linha reta,
um progresso de restos
na vertigem do correr dos anos.

A vida agora é finitude absoluta
no corpo que não suporta o peso do tempo.

Tudo passa.
Não há duração, 
criação de sentidos
que  transcendam
o imediato da informação. 

Há apenas esquecimento,
memória efêmera de uma vida 
despida de grandes acontecimentos.

Impera a rotina, a inércia.
onde desaparecem
 palavras e atos.

A vida é um acento de ruinas
que não para de crescer ante nossos pés cansados e incertos.