terça-feira, 7 de dezembro de 2021

DESEJO SELVAGEM

Devir desejos
onde tudo escapa
e as horas morrem
 nas ruinas da eternidade!

Em todos os tempos o desejo explode a prisão das vontades
e se faz novamente selvagem
contra a razão iluminada e viril
que aprisionou todos os sonhos e delírios.
Ainda existimos no início do mundo.


quinta-feira, 2 de dezembro de 2021

SOBRE O ILEGÍVEL DA VIDA

A vida que há dentro da palavra
falada ou escrita
contém qualquer coisa além 
da vida vivida.
Algo intenso, desconhecido,
que nos aguça a intuição do ilegível,
 que nos cala a própria existência,
e qualquer definição unilateralmente humana de vida
Contra a própria vida.


quarta-feira, 1 de dezembro de 2021

DESENCANTO NIILISTA

Desaprendi o mundo.
Agora sei a vida
através dos olhos de uma criança.

Na liberdade da ignorância 
e do desencanto das coisas
através do assombro do sublime,
enxergo o nada como um devir absoluto.

Tudo é livre e provisório, 
um mudar cego e constante,
na estética viva da incerteza de Ser.


terça-feira, 30 de novembro de 2021

PASSADO & EXISTÊNCIA

 

O passado é a realidade transfigurada em sonho através da ficção da memória. É o que nos situa no tempo e espaço do agora, estruturando nossa existência.

Mas o que é a existência além de um fluxo descontínuo de experiências impessoais através das quais o mundo se apresenta e se re-apresenta como íntimo enígma?

O passado é o ausente em relação ao qual nos reconhecemos como parte de qualquer totalidade cindida. Como Ulisses experimentamos o desconhecido como nostalgia da origem. Mas, ao contrario do guerreiro mitico, jamais regressaremos a Ítaca.



sábado, 27 de novembro de 2021

O ENÍGMA DO ETERNO INSTANTE

Neste instante,
 estou aqui,
 ainda não nasci,
e também já morri.

A indeterminação do ser e do não  ser 
desfaz a finitude como questão.
A eternidade é um eterno agora
onde existir é mera ilusão. 

sexta-feira, 26 de novembro de 2021

TEMPO E MUNDO

O mundo tornou-se um labirinto em linha reta,
um progresso de restos
na vertigem do correr dos anos.

A vida agora é finitude absoluta
no corpo que não suporta o peso do tempo.

Tudo passa.
Não há duração, 
criação de sentidos
que  transcendam
o imediato da informação. 

Há apenas esquecimento,
memória efêmera de uma vida 
despida de grandes acontecimentos.

Impera a rotina, a inércia.
onde desaparecem
 palavras e atos.

A vida é um acento de ruinas
que não para de crescer ante nossos pés cansados e incertos.








INSTANTE E DISTÂNCIAS

 

Muitas distâncias decoram o instante.

Sejam elas físicas, abstratas,

ou somente imaginadas.



A própria vida parece distante,

ausente de si,

mergulhada em mudanças e

vazia de mundos,

enquanto o tempo,

que muitos dizer que passa,

é sempre o mesmo,

que nos vê morrer lentamente

entre distâncias e saudades.



Agora mesmo,

me aperta o peito

um vazio de infância,

uma morte íntima,

que me conduz ao longe.



quarta-feira, 24 de novembro de 2021

CORPO SEM MUNDO

Falta a cabeça 
um mundo
que proporcione realidade
ao corpo
na expressão viva do inumano.

Falta verdade no agir das mãos,
no gesto de um abraço,
no morder dos dentes,
no silêncio das palavras,
e percepção das bactérias
que me habitam a boca e a pele.

Que a intensidade de qualquer angustia
me conduza a carne da alma
da mãe natureza,
ao transbordamento de todas as ausências que  me preenchem
como uma chama.


domingo, 21 de novembro de 2021

A ARTE DE ESPANTAR

Espantar é nosso modo de esperançar,
de superar o quebranto,
de sonhar um mar,
para perder de vista a terra firme e seca
que hoje nos rouba os pés.

O Espanto é um afeto que nos arranca do agora,
que nos faz fugir,
buscar, qualquer outro lugar ou forma,
de viver e fazer viver.

Existir é constantemente
Espantar, assombrar, afetar, e
afastar, tudo que impaca,
que inventa  inércias,
e regras, 
nos impedindo de criar.

Espantar é o melhor modo de protestar, lutar, tentar avançar
e estranhar o mais intimo de nós nos outros.

Espantar é ser estranho 
ao que é distante
e paradoxalmente familiar.




sexta-feira, 19 de novembro de 2021

DETERMINAÇÃO

Ainda que eu seja finito,
que meus dias sejam de pedra,
e minha vontade fragil e incerta,
quero provar tempestades,
perder o pé na beirada de abismos,
inventar outra realidade.

Quero provar o sabor de uma estrela,
pintar a noite de vermelho,
e correr com lobos pelo labirinto de uma antiga floresta.

Quero ter a saúde dos lunáticos,
o desejo livre dos desatinados.

Ainda que eu morra amanhã
ou que o mundo termine ao ritmo de um tango argentino.