segunda-feira, 19 de julho de 2021

CORPO-COISA

Não quero ser o outro dos seus enunciados,
nem o herói dos meus discursos.
Não pretendo ser sequer mais um humano.
Pretendo me desaprender como ente
no saber do corpo-coisa
em natureza e ato
de desaparecer no correr do tempo do meu desapego.

domingo, 18 de julho de 2021

SOBRE LIVROS

Cada livro é um acontecimento.
Alguns me inventam contra o mundo,
outros me roubam o rosto,
mas poucos guardam enunciados
que se escrevem na minha pele
vestindo meus pensamentos.

CONTRA IDENTIDADE

Conformar-se a qualquer identidade diminui a criatividade subjetiva, estabelece o conformismo e a norma de um sujeito marginal de direito que busca novas formas de poder e não  o inédito  da liberdade como criação ou arte de inventar a si como experimentação.
É preciso pensar/fazer um novo asceticismo.

quinta-feira, 15 de julho de 2021

NEO PRIMITIVISMO

Cansei de ser narciso,
de fazer da vida biografia,
aventura de um eu capenga,
efêmero, 
imagem e semelhança 
do ser de um homem sem fundamento.

Cansei de fazer sentido,
de habitar discursos,
conformismos e estruturas.

Daqui pra frente serei natureza.
Seguirei errante,
sem explicações e soluções,
em intensidades e imanência.

quinta-feira, 8 de julho de 2021

CULTO A PROMETEU

 

Devir contra as certezas do homem

nas mutações do inumano assignificante

é o que nos resta contra todos os deuses,

contra toda moral e valor sedentário.



O intempestivo brilha como relâmpago

no peito da tempestade

iluminando a natureza selvagem.



Apaga-se o brilho da velha razão.

Acende-se o fogo primordial.


 

ULISSES PÓS MODERNO

 

Nunca em seus olhos as lágrimas secavam, e ia-se sua doce vitalidade, chorando pelo retorno…
(Canto V – A Odisseia)



A dor de perder-se

do lar e dos outros,

de seguir sozinho

na contramão dos anos,

sem jamais retornar

a casa antiga,

fez dele

um Odisseu pós moderno.



Itaca está morta

e a terra gira.

Não há mais origem

para o navegante nômade.

Sua vida agora

é um trabalho da morte.




quarta-feira, 7 de julho de 2021

VIDA

Toda vida é  pública,
participativa, impessoal,
e perecível
em sua singularidade.

Toda vida é  finita,
intangível,
desconhecida,
em sua abissal banalidade.

Vida é  um atributo da espécie
alheio a nossa pessoal mortalidade.
A vida não tem rosto,
é corpo,
que não se mede no espaço do tempo. 
 
Vida é matéria.
 



terça-feira, 6 de julho de 2021

DAS NUVENS NO CÉU

A arquitetura das nuvens na amplidão azul do vazio do céu  fere meus olhos .

Percebo-me subtraido de mim mesmo diante do firmamento.

Sei que o céu é ateu e debocha em silêncio  da nulidade do humano.

Ele nos assombra com a indiferença da natureza,
com a insignificância da vida,
frente a imanência da imensidão silenciosa.

A imaginação  das núvens não  tem limites
e não sabe nenhuma razão.
Pois o céu é o domínio do caos e do vento
e as nuvens um brinquedo do acaso.

As halturas das asas dos pássaros
não  sabem o mais profundo do céu. 

 



quinta-feira, 1 de julho de 2021

A IMPORTÂNCIA DO INÚTIL

Interessam-me, demasiadamente,
as coisas que não  levam a nada,
que são gratuitas e ridiculas.

Gosto de me perder do mundo
na superfície do ordinário
sem me importar com a vida.

Gosto do inumano,
de tudo que é  estranho ao pensamento e convenções.

Não  reconheço a soberania do eu,
a causalidade ou a necessidade
como matriz da realidade.
Não  sou seduzido por convicções 
verdades prontas e coletivas.
Detesto pactos sociais.

Sou livre de humanismos
e não domestico a natureza
com a teleologia da razão  e do sentido.

É nas sensações que existo,
que me desfaço e persisto
contra a consciencia das coisas,
alheio as modas e modos da sociedade.

Discontínuo e inconcluso
duvido de mim mesmo
e desacredito no mundo.
Sou sempre um outro que me olha, 
que me sabe do lado se fora
Moranda dentro de mim.

Não tenho objetivos.
Tudo em mim leva a nada.
Como neste instante em que me misturo com uma folha
que agora a pouco
caiu de um galho de àrvore. 






A PALAVRA

É  certo que a palavra é  signo,
símbolo,
imagem.

Mas ela também  é  som,
garganta, boca, língua e ouvido
que escapa ao texto
contra o livro,
contra o poder e o saber de dizer,
fazer , sofrer,
domar e escrever o real
que nos lê em silêncio.

Ela é  antes de tudo delirio,
imaginação, lugar e corpo do ser.

A palavra é  ação, 
verbo, criação, 
guerra e destruição
de um "eu"que existe sempre
como um "nós"
e contra tudo.

A palavra é  paradoxo, 
simulacro,
duração 
real ilusão.