quinta-feira, 1 de julho de 2021

A IMPORTÂNCIA DO INÚTIL

Interessam-me, demasiadamente,
as coisas que não  levam a nada,
que são gratuitas e ridiculas.

Gosto de me perder do mundo
na superfície do ordinário
sem me importar com a vida.

Gosto do inumano,
de tudo que é  estranho ao pensamento e convenções.

Não  reconheço a soberania do eu,
a causalidade ou a necessidade
como matriz da realidade.
Não  sou seduzido por convicções 
verdades prontas e coletivas.
Detesto pactos sociais.

Sou livre de humanismos
e não domestico a natureza
com a teleologia da razão  e do sentido.

É nas sensações que existo,
que me desfaço e persisto
contra a consciencia das coisas,
alheio as modas e modos da sociedade.

Discontínuo e inconcluso
duvido de mim mesmo
e desacredito no mundo.
Sou sempre um outro que me olha, 
que me sabe do lado se fora
Moranda dentro de mim.

Não tenho objetivos.
Tudo em mim leva a nada.
Como neste instante em que me misturo com uma folha
que agora a pouco
caiu de um galho de àrvore. 






A PALAVRA

É  certo que a palavra é  signo,
símbolo,
imagem.

Mas ela também  é  som,
garganta, boca, língua e ouvido
que escapa ao texto
contra o livro,
contra o poder e o saber de dizer,
fazer , sofrer,
domar e escrever o real
que nos lê em silêncio.

Ela é  antes de tudo delirio,
imaginação, lugar e corpo do ser.

A palavra é  ação, 
verbo, criação, 
guerra e destruição
de um "eu"que existe sempre
como um "nós"
e contra tudo.

A palavra é  paradoxo, 
simulacro,
duração 
real ilusão.



quarta-feira, 30 de junho de 2021

O TRIUNFO DA EXPERIÊNCIA SOBRE O PENSAMENTO

É cada vez mais fácil viver sem o tormento de profundas reflexões sobre o significado da vida ou o sentido das coisas.
Neste século de novas sensibilidades e tecnologias gognitivas,  o imediato e o banal ocupam o centro de nossa experiência corpórea do real.
Somos  formatados pelo efêmero e o estantâneo, indiferentes ao Ser e a verdade. Platão  e Aristóteles nunca foram tão despreziveis em seu amor a razão. Esvaziados do universal e do ideal humanista ousamos provar a nudez da existência indiferentes a qualquer profundidade. Trata-se de um ganho existencial sem precedentes, de uma abertura  ao Impensável da experiência de si  como embriaguez do vivente.
o eu se desolve no mundo indiferente a capacidade de pensar. Torna-se, ao contrário,  parte da multiplicidade de extensões e condições inumanas que nos definem dentro do mundo.
Já não  importa dizer as coisas em palavras na materialização do pensamento. Experimentar -se no limite de si mesmo como parte do em torno que nos engole é  agora o que realmente importa.

segunda-feira, 28 de junho de 2021

FILOSOFIA DA LEITURA

Nego a página como superficie de inscrição
para afirma-la como plano de ação. 
O olho pensa e age,
o corpo veste-se de mundos,
através da potência dos enunciados,
além do significante e do signigicado.

sexta-feira, 25 de junho de 2021

O TEMPO DO NÃO TEMPO

 


Há um tempo escondido

no simulacro do presente,
um tempo que não  tem tempo,
que é  puro movimento e extensão
no misto do inédito e do antiquíssimo.

Dentro dele o impossível já é  visível
nas metamorfoses do desejo
e não  existe mais céu ou chão.

É um tempo onde tudo é  retorno
e transformação,
onde o passado ainda é futuro
na incerteza do presente.





quarta-feira, 23 de junho de 2021

PARDAIS


 

Não há mais pardais

nos céus da velha cidade

e as ruas não tem mais gosto de pintura.

Há apenas pessoas indo e vindo de lugar nenhum

nas paisagens mortas da ordem vigente.

Mas ainda há rebeldes inventando a praça,

rasgando o céu em sol e revolta.

Ainda não é tarde para o futuro.

Os pardais hão de voltar um dia.

terça-feira, 22 de junho de 2021

ESPIRAL DO TEMPO



O depois sempre esclarece o ontem através da ação,  do corpo em movimento, movendo o tempo e o mundo, através dos atos e acontecimentos.
 
Viver é  levar  em mim, as últimas consequências,  o extemporâneo e o inatural através das composições organicas da matéria.
 
 É realizar a opus alquimica que une o micro e o macro cosmos,  o dentro e o fora, em duração e imaginação criadora, que me ultrapassa como consciência e vivência, transfiguando o ontem, revelando-o como inacabado destino do amanhã, na ilusão da palavra mutante e assignificante. 
 

segunda-feira, 21 de junho de 2021

DA REALIDADE DO ABSURDO

Sei que o presente foi o impossível de ontem como o amanhã é o improvável do hoje.
O real é por definição incerto e movediço.
Enquanto nos perdemos em nós mesmos somos sementes do inesperado na falência de toda certeza e identidade.
Só há novidade onde acontece o absurdo como assignificante vivência da intensidade do corpo.


domingo, 20 de junho de 2021

CORPO EM MULTIPLICIDADES

Cabem em um só corpo,
em suas multiplicidades,
mais afetos ,
sensações, 
intensidades,
e movimentos,
que o pensamento
pode saber.

Em um só corpo  cabe todo universo,
o infinito e o infimo,
em um só sentimento 
de terra, vento,
e liberdade de se fazer ser
na imaginação  criadora
e suas sincronicidades,
diversidades do viver.



sexta-feira, 18 de junho de 2021

NOVO PROMETEU

Indiferente aos deuses,
descrente dos homens, 
sigo rebelde
nos caminhos da liberdade.

 Embriagado hei de enfrentar o mundo,
destruir tradições,
rasgar o céu, 
e afirmar a terra,
a materia viva e etérea do fogo
despida de toda ilusão metafisica.