segunda-feira, 8 de março de 2021

METAMORFOSE

 

Não nos basta ver e entender.

Tudo é sempre outra coisa.

Mudança, ambiguidade,

releitura.

Toda aparência é profunda.

A realidade é sempre

um caos de possibilidades

além da estagnação do Ser.

quarta-feira, 3 de março de 2021

ZERO

O redondo do zero
é um dizer do nada
dentro do infinito.
Ele define o vazio
como alguma coisa
que nos transborda,
que transforma a linha
numa curva de 360°.

O FUTURO DA REVOLTA

O influxo do mistério do não fundamento do mundo, deveria despertar em nós um espanto absoluto, uma revolta contra a vida e todos os valores estabelecidos, certezas de rebanho, e necessidades  da espécie, que, uma vez inventadas, pela insanidade coletiva, nos foram impostas como duvidosa condição da sobrevivência comum.
Nada é como podemos ou sabemos dizer. Há um caos crescendo dentro de nós como a fagulha de um grande incêndio que um dia será visível contra todas as gramáticas de ser.

TRANSGRESSÃO

É preciso que o familiar nos cause estranhamento,
que a margem se faça caminho,
e que silêncio transcenda o indizível.

É urgente enxergar além do visto,
pensar o impensável.
Experimentar o infinito sem rosto
e os abismos do sem sentido.

É preciso morrer em si mesmo
na experiência do caos profundo
que sustenta a vida inumana
do nosso mais intimo desconhecido.


A ARTE DE DESAPARECER

 

Não vivo da ilusão de futuros possíveis.

Sei que o amanhã pertence aqueles que ainda irão nascer.

Da minha parte, busco o porvir,

o vir a ser impertinente de um eterno retorno

que me ensina a vertigem do desaparecimento constante.

segunda-feira, 1 de março de 2021

AFORMAÇÃO

Já faz muito tempo
que não sei o mundo
de outra forma,
que meu corpo não conhece
outros lugares de saber o viver
como experiência outra de acontecer entre as coisas.

palavras novas não escavam a garganta grávida,
nem os gestos inventam outra dança
na arte de viver contra a roupa rota do mero existente.

Mesmo assim,
nenhuma formação me define .
Sigo inacado,
reinventado no incerto de cada momento,
na criatividade do nada e do devir,
o avesso do espelho de um rosto em permanente desabamento de si . 

FILOSOFIA DO FATO

 

O fato acontece,

aconteceu,

acontecerá,

e se tornará pensamento,

interpretação.


O fato, simplesmente,

não existe como tal.

É memória, palavra,

que se faz acontecimento

além do fato,

é uma quase ilusão.

 

O fato é seu registro,

seu duplo,

seu signo,

e nunca para de acontecer.


quarta-feira, 24 de fevereiro de 2021

MOVIMENTO

 

Não há caminho.

Apenas o ponto,

a linha,

e um rabisco.

 

O percurso é quase ilegível.

Todo lugar é lugar algum,

sem longitude ou latitude.

 

Existe apenas o deslocamento,

sem propósito ou destino,

no lápso de um dia vazio.

 

Seguimos todos perdidos

para lugar algum...


 


ETERNO RETORNO

Dança sempre e novamente
a novidade antiga
das cirandas de múltiplas infâncias.
Dança a eternidade
e o retorno do instante.
Dança a musica cega da vontade,
onde o trágico inventa o mais que humano.
O tempo ri de nossos limites.
O tempo é sempre outro
contra si mesmo.
Através dele tudo é vontade,
potência e intensidade
do ser e do não ser,
contra toda ilusão de verdade.

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2021

OS RESPIRANTES

O grande problema
é que ainda respiramos.
Mesmo onde o ar é pesado,
a esperança doente,
e a paisagem é um deserto...

Mesmo onde a vida agoniza,
onde tudo é impossível,
teimosamente respiramos,
até o limite do insuportável.

Respiramos o mal cheiro do mundo,
banalizamos a morte,
e sobrevivemos,
apesar de tudo.

compartilhamos um riso asmático 
um abraço de monóxido,
e seguimos em sempre em frente.
Afinal, não somos flores,
somos algo ignóbil chamado gente
e nos sentimos prepotentemente eternos.