quarta-feira, 23 de setembro de 2020

OS OLHOS E AS COISAS

As coisas falam aos olhos.
Compartilham segredos 
Sobre a existência,
O tempo e imanência,
Além de toda possibilidade 
Da linguagem e do pensamento.

Tudo é  dito como imagem e presença.
Tudo são as coisas
Inventando o olhar
Como lugar do outro, 
Do multiplo e do incerto
Das sensações mais concretas.

As coisas habitam os olhos.
Mas não  são o que diz a visão. 
Elas ensinam o informe, 
A indeterminação dos espaços,
Dos corpos,
 Na intuição  de uma quarta dimensão.

As coisas são umas nas outras.
Estão  sempre em fluxo de composições,  de composições.
Elas ensinam aos olhos o primado da incerteza do ser é do estar.

Os olhos são  um apêndice das coisas.
Qualquer pintor sabe disso
Contra a objetividade da fotografia.







sábado, 19 de setembro de 2020

O INUMANO DA VIDA

A vida não  pensa.
Ela acontece na multiplicidade 
E encontro das coisas
Em uma trama insana
De conflitos e composições.

A vida não  tem razão. 
Ela apenas existe
Nas metamorfoses do sensível,
Na afirmação  do terrestre,
Que transcende o humano.

Tudo  coexiste,
Metavive, 
Transborda,
E se transforma
Em um tempo sem história.

A vida não  é  humana.

quarta-feira, 16 de setembro de 2020

NOTAS DE FUGA

DEVIR Mulher
DEVIR criança 
DEVIR pássaro....

Desmistificar,
Desterritoriarizar,
Terrificar, 
Até aterrar
E tocar o inumano,
O esquizo,
Transfigurado
A palavra em rabiscos  oníricos.

Não  ser,
Perecer em um golpe de ar
Entre pensamento e memória,
Fugir a razão  e as normas.
Escrever o corpo inerte
Em sei movimento infinito.

Nunca buscar conclusões, 
Representações. 
Apenas produzir acontecimentos,
Saber afetos,
Antes que seja tarde demais
Para ser ontem. 


GAIA INSURGENTE

A Terra já não  é  mais palavra,
Conceito, signo,
Ou qualquer representação abstrata
De uma natureza escrava
A razão e a técnica 
Do progresso vil do humano.

A Terra é a vida insurgente
Contra a História,
Geo acontecimento violento,
Intenso e insubmisso,
Um novo enigma da revolta.

A Terra é  corpo,
Um absoluto e inumano devir mundo.

domingo, 13 de setembro de 2020

DIZER ESQUIZO

Quero assignificar o dito
Até que a palavra
Fuja do pensamento
E dance no abismo  do não  sentido.

Quero gritar a música de um silêncio,
Revelar todo caos escondido
No fundo raso  da ordem das coisas
E  na agonia dos sentimentos.

Quero escutar o corpo
Em suas múltiplas falas de ser
Sem sentido.

quarta-feira, 9 de setembro de 2020

DESENCANTAMENTO DO MUNDO

Não há mais muita  realidade 
No fundo das palavras
Ou das vivências. 

Nossa consciência não penetra o mundo 
Modelando vazios e acordando potências que atravessam os corpos.

Não sabemos mais as intensidades de uma transbordadante existência,
Movente no imanente 
De um  permanente estado de infância e devir.

A realidade hoje carece de encantos,
De verdadeiros encontros,
Que a livre da prisão das palavras
E das máscaras dos egos,
Reinventando o aberrante
Que assignifica o real
Na indiscrição do eu e do mundo. 

Nós tornamos escravos da falsa liberdade 
De nós  mesmos.






domingo, 6 de setembro de 2020

FILOSOFIA DO SER VIVENTE

Respiro.
Tenho pulso,
Meu coração bate
E minha pele é  quente.

Meu corpo sabe o mundo.
Mas nada disso 
É  suficiente
Para me tornar gente.

Sou apenas vivente,
Extensão,  afeto e angústias,
Perdido em meu querer consciente.



sexta-feira, 4 de setembro de 2020

O DIZER DO NÃO DITO

 

 


 

Todo dizer é coletivo,

impessoal e dialógico.

Pois não há dizer

que não abrigue

os lugares - nuvens

onde habitam

o inumano dentro de nós.

Não existe dizer,

que no avesso da linguagem,

não diga o silêncio de uma sensação,

de um estado ilegível de espírito. 

 

 

 

META LINGUAGEM

 

 


 

Dentro de cada palavra mora um abismo,

um assignificante que corrompe o signo,

que faz lembrar o pensamento

antes da infância,

quando não existiam verdades

ou conceitos,

mas somente intensidades,

densidades e mutações

no informe da experiência.

Tudo era, então,

o corpo dentro das coisas,

através das coisas.

 

 

 

quinta-feira, 3 de setembro de 2020

ESCREVER

O objeto produz o sujeito na onipotência do discurso onde ambos se definem como lugares na paisagem de uma narrativa.
Quem sempre fala é  o próprio texto que é  objeto de si mesmo.
Pois escrever é ser no movimento do dizer que se faz no vazio da escrita.