quarta-feira, 8 de janeiro de 2020

A SOMBRA DO FUTURO



Busco um futuro livre de qualquer passado,
limpo do peso morto das humanidades,
das ilusões da razão na história.

Um futuro que  transborda sempre o presente
através da potência do virtual,
da indeterminação do inatual,
que recusa toda teleologia racional,
todo pragmatismo.

Busco um futuro onde a vida
evite o agora
e se faça sempre presente
através do inatingível,
do inacabamento  de viver na margem
de qualquer miragem de posteridade.


MEU NÃO SER



Meu não ser
é saber terra,
viver animal,
desfeito em natureza
e afeto.

Meu não ser
é devir
contra a história,
eterno retorno,
cosmovisão redentora,
impessoal.

Meu não ser
é um existir natural.

A PALAVRA MOVENTE


Sou escravo desta palavra torta que me liberta de mim mesmo, que nega o mundo e  se escreve no corpo, como afeto, movência, que alimenta imaginações profundas na superfície da consciência que rasga livros. 

Esta palavra que não respeita a gramática de qualquer moral ou verdade, é  expressão radical da vida impossível latente no vento de enunciados aberrantes. Ela é a intimidade de um niilismo que não  reconhece qualquer autoridade e nasce no ventre das agonias mais cotidianas e urgentes como abstrata e existencial paisagem.

terça-feira, 7 de janeiro de 2020

O BÁRBARO



O bárbaro é por definição o estrangeiro,
O outro que recusa o jogo de nossa gramática, do nosso sistema de signos, colocando-se do lado de fora do nosso mundo, da história, e da significação corrente das coisas. 

Ele é o avesso de nossa identidade,  aquele que nega o sentido,  o verdadeiro e o falso.

O bárbaro é  quem nos ignora, quem não  nos reconhece como destino, quem expressa o informe da natureza primordial de uma existência nua.


segunda-feira, 6 de janeiro de 2020

PALAVRAS EM MOVIMENTO



Palavras espalham vertigens,
organizam verdades, certezas,
ilusões e duvidas.
Criam divindades, autoridades,
inventam seus próprios sujeitos.

Algumas palavras invocam respeito,
outras debocham, ensinam,
ou, simplesmente, informam.
A palavra é signo, símbolo e simulacro.

Mais do que qualquer outra coisa,
entretanto,
palavras alimentam o silêncio,
transbordam significados,
moldam nosso comportamento
revelando tudo que existe
como simulacro.

Palavras dizem sempre prisões.

quarta-feira, 1 de janeiro de 2020

NÃO HÁ TEMPO

Não há tempo.
Apenas extensão, 
Corpos em movimento,
Corpos dentro de corpos,
Espaço vivo concreto e abstrato,
Pleno de afetos, vazios
E metamorfoses. 

NÃO 
há  tempo.
Tudo é  movimento,
Encontros.

É sempre o mesmo momento
Transfigurado
Desde o início dos tempos.

Partículas dançam dentro de tudo
Através do mundo.
Só não  escutamos a música
Que nos desfaz no movimento.



sexta-feira, 27 de dezembro de 2019

DESEDUCAÇÃO EXISTENCIAL

Renunciei a mim mesmo para realizar o improvável, para me banhar no absurdo, até  tornar possível todos os meus desvios e transgressões. 
Ousei sondar o desconhecido que me fita do fundo dos  abismos das imaginações aberrantes.
Soube o sabor de paradoxos e dissonâncias. 
Soube intensamente um mundo no qual nunca acreditei,
Onde tudo é  impossível.
Aprendi o nada e a contra razão dos fatos.
Desaprendi tradições e convenções,
Soube o não ser
Através de tudo que existe.

quinta-feira, 26 de dezembro de 2019

O PENSAMENTO


O pensamento ultrapassa a consciência nas entranhas do corpo.
O pensamento nos pensa através do corpo que pensa.
O pensamento está onde não existo...
Ele acontece através dos signos.



GEO ACONTECIMENTO



Meus pés sabem ler o chão.
escrevem caminhos,
idas e voltas
entre algumas inercias.
Produzem no tempo
o geo acontecimento
desta minha quase existência.

A paisagem ensina aos meus pés
a gramática dos lugares,
o sabor dos espaços,
onde sou apenas detalhe.

viver é uma questão de longitude,
latitude, e velocidades....


quarta-feira, 25 de dezembro de 2019

SOBRE O NIILISMO CONTEMPORÂNEO


Questionar tudo aquilo que nos torna possíveis como sujeitos ativos e passivos da circulação  de signos e símbolos de uma dada consciência social e histórica. 

Questionar o que somos, sentimos e fazemos cotidianamente, na invenção  desta abstração  tão  concreta que é  o mundo e sua constante re-significação.

Eis o desafio do niilismo contemporâneo:
É preciso levar as últimas consequências nosso latente desconforto com o que coletivamente fizemos da vida sob a opressão das verdades  e tradições, nossos assujeitamentos e subjetivações.

É preciso ultrapassar a própria ilusão de ser, de uma positividade da vida e dos fatos sociais. Afinal, a existência é  mais intensa  na vertigem de seu desvalor.