terça-feira, 7 de janeiro de 2020

O BÁRBARO



O bárbaro é por definição o estrangeiro,
O outro que recusa o jogo de nossa gramática, do nosso sistema de signos, colocando-se do lado de fora do nosso mundo, da história, e da significação corrente das coisas. 

Ele é o avesso de nossa identidade,  aquele que nega o sentido,  o verdadeiro e o falso.

O bárbaro é  quem nos ignora, quem não  nos reconhece como destino, quem expressa o informe da natureza primordial de uma existência nua.


segunda-feira, 6 de janeiro de 2020

PALAVRAS EM MOVIMENTO



Palavras espalham vertigens,
organizam verdades, certezas,
ilusões e duvidas.
Criam divindades, autoridades,
inventam seus próprios sujeitos.

Algumas palavras invocam respeito,
outras debocham, ensinam,
ou, simplesmente, informam.
A palavra é signo, símbolo e simulacro.

Mais do que qualquer outra coisa,
entretanto,
palavras alimentam o silêncio,
transbordam significados,
moldam nosso comportamento
revelando tudo que existe
como simulacro.

Palavras dizem sempre prisões.

quarta-feira, 1 de janeiro de 2020

NÃO HÁ TEMPO

Não há tempo.
Apenas extensão, 
Corpos em movimento,
Corpos dentro de corpos,
Espaço vivo concreto e abstrato,
Pleno de afetos, vazios
E metamorfoses. 

NÃO 
há  tempo.
Tudo é  movimento,
Encontros.

É sempre o mesmo momento
Transfigurado
Desde o início dos tempos.

Partículas dançam dentro de tudo
Através do mundo.
Só não  escutamos a música
Que nos desfaz no movimento.



sexta-feira, 27 de dezembro de 2019

DESEDUCAÇÃO EXISTENCIAL

Renunciei a mim mesmo para realizar o improvável, para me banhar no absurdo, até  tornar possível todos os meus desvios e transgressões. 
Ousei sondar o desconhecido que me fita do fundo dos  abismos das imaginações aberrantes.
Soube o sabor de paradoxos e dissonâncias. 
Soube intensamente um mundo no qual nunca acreditei,
Onde tudo é  impossível.
Aprendi o nada e a contra razão dos fatos.
Desaprendi tradições e convenções,
Soube o não ser
Através de tudo que existe.

quinta-feira, 26 de dezembro de 2019

O PENSAMENTO


O pensamento ultrapassa a consciência nas entranhas do corpo.
O pensamento nos pensa através do corpo que pensa.
O pensamento está onde não existo...
Ele acontece através dos signos.



GEO ACONTECIMENTO



Meus pés sabem ler o chão.
escrevem caminhos,
idas e voltas
entre algumas inercias.
Produzem no tempo
o geo acontecimento
desta minha quase existência.

A paisagem ensina aos meus pés
a gramática dos lugares,
o sabor dos espaços,
onde sou apenas detalhe.

viver é uma questão de longitude,
latitude, e velocidades....


quarta-feira, 25 de dezembro de 2019

SOBRE O NIILISMO CONTEMPORÂNEO


Questionar tudo aquilo que nos torna possíveis como sujeitos ativos e passivos da circulação  de signos e símbolos de uma dada consciência social e histórica. 

Questionar o que somos, sentimos e fazemos cotidianamente, na invenção  desta abstração  tão  concreta que é  o mundo e sua constante re-significação.

Eis o desafio do niilismo contemporâneo:
É preciso levar as últimas consequências nosso latente desconforto com o que coletivamente fizemos da vida sob a opressão das verdades  e tradições, nossos assujeitamentos e subjetivações.

É preciso ultrapassar a própria ilusão de ser, de uma positividade da vida e dos fatos sociais. Afinal, a existência é  mais intensa  na vertigem de seu desvalor. 

domingo, 22 de dezembro de 2019

ENXERGAR



Algumas coisas vejo,
Mas não enxergo.
Outras não reconheço,
E ainda há  aquelas
Que não  aceito ou entendo.


Só  sei o que me permite saber o pensamento,
Todos os naturais mecanismos de reconhecimento cognitivo,
Dispositivos semióticos de entendimento.

Há também o que permite a vontade,
O comodismo sedentário das certezas cristalizadas.

Enxergar é  muito difícil...
É  quase impossível a quem não  se permite
delírios & vertigens.



quinta-feira, 19 de dezembro de 2019

LATA DE LIXO


Não quero viver como um depósito.
como qualquer coisa vivente
acumulando informações,
ansiedades, dividas e frustrações.

Não quero ser como a lata de lixo
no final da rua.
Mas isso é tudo que sempre esperam da gente.

terça-feira, 17 de dezembro de 2019

O ESTRANHO SILENCIO DO DEVIR COTIDIANO CONTRA O DIZER DAS COISAS

A mudez do devir cotidiano desafia o dizer das coisas através das palavras e discursos que vagam entre nós.
Queremos a carne do verbo contra a metafísica dos saberes e dizeres eruditos.

Queremos a metapoesia anti discursiva das intensidades, a vida inteira em delírio quebrando a sobriedade da frase corriqueira, rasgando o texto do noticiário e  o livro da escola.

A mudez do devir cotidiano grita a anti matéria da linguagem, a vida em sua muda e indeterminada plenitude.