Realizado na França, em 1902, com roteiro e direção de George Méliès, mágico e ex-ator de teatro, auxiliado por seu irmão Gaston Méliès, A Viagem a Lua ( Le Voyage
dans a lune), que tem apenas, aproximadamente, 13 minutos de duração, é considerado o primeiro filme de ficção científica
da história do cinema e também o primeiro a usar técnicas de efeitos especiais.
Ainda hoje, sua famosa cena do homem pousando no olho
da lua, frequenta o imaginário popular dos cinéfilos, apesar da estética e
linguagem da arte das imagens em movimento ter mudado muito desde o inicio do século
XX.
Mas, apesar de suas pioneiras inovações técnicas, o filme pode
ser interpretado como uma critica ao cientificismo e uma ridicularização dos
valores “modernos” que naquele limiar de século sustentavam em muitos um
otimismo desmedido em relação a razão e ao progresso científico e tecnológico.
É muito verossímil que a imagem de cinco astrônomos
sendo lançados a lua em uma capsula de canhão, atingindo em cheio um de seus
olhos, mesmo naquela época de
sensibilidades ingênuas, deveria parecer um pouco bizarro aos entusiasmados frequentadores das salas do cinematrógrafo. Até porque, estavam eles até então, acostumados a um cinema mais realista e
direto.
Especulações a parte, trata-se aqui de uma mera peça
de entretenimento sem grandes pretensões filosóficas ou reflexivas. Mas é impossível
vê-la hoje em dia sem adivinhar nela um certo humor anárquico em
relação ao otimismo de sua época que,
diga-se de passagem, não duraria muito tempo. Um pouco mais de uma década
depois, afinal, a Europa mergulharia na barbárie sem precedentes de sua primeira guerra de nações comprometendo o
ufanismo pós iluminista no potencial emancipatório da razão humana.
Em uma leitura retrospectiva a “modernidade” da experiência
cinematográfica tecnificava a magia e inaugurava a época do simulacro que
agora, mais de um século depois, parece prestes a ser levada as suas ultimas
consequências, através da possibilidade do “pós cinema” das novas tecnologias
de realidade virtual que prometem por de vez a perder nossa convencional noção
de realidade.