É impossível separar consciência e existência na
produção da vida através de seus efeitos. A consciência inventa a existência na
mesma medida em que a existência inventa a consciência. Ambas se fundem em memória,
em sentimento e ação. São expressão do corpo, do meio, em suas múltiplas intercessões
de processos vitais, arranjos e metamorfoses.
No grande mosaico da natureza, há apenas encontros
dentro de encontros até o infinito das conjunções hipotéticas. Tudo se
interpenetra.
Cada um de nós é um ponto de interseção, um improvável
arranjo que se inventa e reinventa a todo momento. Não sei o efeito de ser o
que sou, pois sofro o efeito de tudo que me compõem como detalhe e paisagem,
dentro e fora. Não há, portanto, propósito em definições sobre o eu ou o
intelecto isolado do meio. Existir é ser a vontade que circula e age através de
cada coisa. É ser tudo e não ser nada. É saber um mundo no grão de areia que
sofre a praia. Cada arranjo provisório de coisas da natureza é um efeito e um
micro universo de coisas em transição.
Tudo isso nos deixa perplexos diante da vida. Afinal, nenhuma
definição de vida da conta da experiencia de viver. Nada vive em si mesmo. A vida escapa a linguagem na composição de existências, na interseção do orgânico e do inorgânico.