segunda-feira, 15 de julho de 2019

A ARTE DE VIVER




Na arte de viver é quase uma regra buscar o extremo. Pois é através dele que acessamos o inesperado, o imprevisível de qualquer novidade. A extremidade é sempre a margem, o ponto de fuga, de algum lugar que nos acomoda. Só progredimos onde há fuga. Que outro sentido pode ter a experiência do devir, do além do agora, como um campo múltiplo definido pela potencia do virtual? Não há conhecimento do viver que não afirme instabilidade e incerteza. Aquele que se conforma a qualquer variação de si mesmo, que se fixa em um dado agora, escapa a sua própria vocação como vivente, perde qualquer possibilidade de experimentar-se como um corpo em constante estado de mutação.   

O DRAMA DO ESCRITOR



Todo escritor pressupõe no ato da escrita um abstrato leitor universal, um fantasma ao qual sua narrativa é destinada. É esta entidade virtual que confere valor ao seu enunciado. Ao mesmo tempo, todo escritor é leitor de si mesmo, pois idealiza, inventa-se como persona, convertendo-se em parte de sua ficção,  do seu exercício narrativo.

Com o advento do modernismo, a  escrita tornou-se  uma cartografia de si, uma apresentação do existir que se faz a margem das normativas cognitivas e epistemes de uma época. A linguagem apresenta-se como exercício selvagem de alienação do eu de si mesmo e do que nos é convencionalmente imposto como regra, como princípio de realidade.

A liberdade de escrever é um encontro sempre frustrado com o ser da linguagem, com sua incerteza, que tem como signo de experiência o vazio da folha em branco. é contra a biblioteca, a livraria e a própria infinitude dos livros possíveis, que o exercício da escrita se insurge sempre de novo, a margem de todo saber formal. 

Escrever é um ato selvagem que transcende o corpo do texto. A própria linguagem é sua matéria prima. É o desespero de escapar a armadilha do previsível das palavras que move o punho, que inventa o dizer sempre a deriva, sempre em busca, de qualquer experiência sem nome e sem palavra.


domingo, 14 de julho de 2019

ESPECULAÇÃO SOBRE O CORPO E O MUNDO

Qualquer experiência do corpo pressupõe  uma identidade sem sujeito com o ambiente. É  assim que uma imagem mundo se torna experiência , apresentação e presença ou, simplesmente, participação, encontro de um dentro e de um fora que nunca se consuma inteiramente. 

Existir é  ser preenchido pelo que nos falta e ultrapassa. Viver é  indeterminação, ausência de ser através  das coisas. O corpo sempre carrega a intuição  do caos  em seu apetite de mundo. O corpo é  um estado de falta extra uterina onde não  há fronteira clara entre o orgânico e o inorgânico,  entre o vivo e o morto.

sexta-feira, 5 de julho de 2019

MARCAS EPIDERMICAS



Guardo na pele cicatrizes antigas.
Experiências impressas,
porém invisíveis,
na alma da pele dos sentimentos.

Guardo a memoria de silenciosas vitórias,
Derrotas, angustias e desafios,
Jamais findados ou concluídos.

Levo em mim o vazio
De ser mudança,
De acontecer mundano,
Provisoriamente inscrito
No limbo do espaço tempo.

quarta-feira, 3 de julho de 2019

A VELHICE DA NOVIDADE


Nascemos para mudar,
Para criar e transformar.
Ou, pelo menos,
Somos educados para isso.

Vislumbramos sempre o novo.
Mas hoje  tudo nasce antigo,
Previsível.

Somos um tipo obsoleto
De reformadores do mundo.
Ainda almejamos o progresso e o futuro
Quando o próprio tempo
Já não diz o infinito do outro
Que escreve o dia seguinte.

sexta-feira, 28 de junho de 2019

ENTRE O PENSADO E O IMPOSSÍVEL


Entre o pensado e o possível,
Invento o infinito,
Abraço o inesperado.

Sei que nada é dado,
Tudo é devir...

O vento visita a hora
Enquanto me fala o espaço
E meu corpo acontece
como coisa entre coisas.

Estou sempre em movimento
No meio da paisagem.
Estou sempre reinventando
O possível e o pensado.