quarta-feira, 3 de julho de 2019

A VELHICE DA NOVIDADE


Nascemos para mudar,
Para criar e transformar.
Ou, pelo menos,
Somos educados para isso.

Vislumbramos sempre o novo.
Mas hoje  tudo nasce antigo,
Previsível.

Somos um tipo obsoleto
De reformadores do mundo.
Ainda almejamos o progresso e o futuro
Quando o próprio tempo
Já não diz o infinito do outro
Que escreve o dia seguinte.

sexta-feira, 28 de junho de 2019

ENTRE O PENSADO E O IMPOSSÍVEL


Entre o pensado e o possível,
Invento o infinito,
Abraço o inesperado.

Sei que nada é dado,
Tudo é devir...

O vento visita a hora
Enquanto me fala o espaço
E meu corpo acontece
como coisa entre coisas.

Estou sempre em movimento
No meio da paisagem.
Estou sempre reinventando
O possível e o pensado.

quarta-feira, 26 de junho de 2019

O ESTRANGEIRO COMO SOMBRA

A consciência é a sombra de um estrangeiro na concretude do vivente em sua corporeidade. Existir, afinal, é ser um corpo. Este é o nosso acontecimento, nossa presença em um mundo de planos e diversidades.

Cada existência é uma micro geografia que extrapola a linguagem, que recusa o estrangeiro que na ignorância do corpo captura a consciência. 

Mas tudo é corpo no dentro e no fora de nós mesmos. Mesmo quando o corpo é prisioneiro deste estrangeiro antropológico que se insinua na consciência.

sexta-feira, 21 de junho de 2019

A HISTÓRIA PELO AVESSO


Fatos e documentos não ensinam o tempo,
Apenas alimentam ilusões historiográficas.
Já o devir não é humano,
Não é teleologia.
É a imprecisão do múltiplo,
Da natureza e das pulsões.
A história não está nos arquivos
Que sacramentam silêncios
Em banal iminência.
Ela está no corpo que definha,
na paisagem que passa,
Inventando vestígios
E alimentando imaginações.
A história é a impertinência do intempestivo.
É o que dura
E o que através de nós persiste.
É tudo aquilo que não é humano
Mas através do homem existe
No virtual da memória e do porvir.

terça-feira, 18 de junho de 2019

GAIA CIÊNCIA



A terra crua e  enfeitada de verde,
Não se conforma  a radiografia dos mapas,
As analises dos especialistas.

Ela é senhora do seu corpo
E dona de sua poesia.

Sua carne é fronteira
Entre o orgânico e o inorgânico,
É movimento, ciclo,
Transformação e multiplicidade de planos,
Texturas e experiências.

A terra viva  inventa tudo aquilo
Que para nós é definido como natureza.
Dela depende tudo aquilo que se inventa,
Todas as nossas ilusões de humanidade
E todas as possibilidades da filosofia.


INSIGNIFICÂNCIA




Tão profundo é o nada,
O efêmero e o pequeno.

Como é nobre a insignificância,
Grande a indiferença,
O anonimato e o alheamento!

Quero ter a consciência de uma formiga,
Ser inteiramente o ambiente
E intensamente na nudez da vida.

PRECARIEDADE EXISTENCIAL




Entre sucatas contemplo a fragilidade da vida,
Apreendo a precariedade das coisas.

Sou corpo dentro de corpos,
Entre corpos,
Na paisagem viva
Que transcende a ilusão do rosto.

A meio caminho do orgânico e do inanimado
Componho atos, inercias
E acontecimentos mudos.

Há quem diga que existo.

Eu, pessoalmente duvido disso.

A MISÉRIA DA MEMÓRIA

Afinal, o que define o tempo é a memória e não o suceder de fatos e deslocamentos de nossa experiência cotidiana.

O amanhã é pleno de ontem. Há muito passado no nosso futuro. 

O passado não para de crescer realizando a brutalidade do esquecimento. 

O tempo é um modo do não ser.