O aforismo 610 de Humano, demasiadamente humano, de Nietzsche é um convite a qualquer sabedoria de crepúsculo:
" Os seres humanos como maus poetas- Assim como na segunda metade do verso, os maus poetas buscam o pensamento que se ajusta a rima, na segunda metade da vida, tendo se tornado mais receosas, as pessoas buscam as ações, atitudes e situações que combinem com as de sua vida anterior, de modo que exteriormente tudo seja harmonioso: mas sua vida já não é dominada e repetidamente orientada por um pensamento forte; no lugar deste surge a intenção de encontrar uma rima."
Na segunda metade da vida buscamos continuidades impossíveis, manter a rima de nossos atos e atitudes onde já não há mais do que uma sombra de quem fomos.
Mas sem forças para carregar o tempo acumulado no corpo, optamos pelo teatro de velhas posturas para que tudo pareça bem, pelo menos exteriormente.
Não nos aceitamos. Negamos a vida a poesia do crepúsculo celebrando um sol que já não é mais radiante como na manhã da infância.
C G Jung consagrou sua psicologia analítica a este período da vida onde somos confrontados com a finitude, com a fragilidade do ego e das certezas cotidianas.
É neste último período do ciclo biológico que o cuidado de si se faz uma exigência da existência e cada um é desafiado pelo seu próprio abismo.