sexta-feira, 26 de abril de 2019

A PALAVRA E A LETRA


A letra e a palavra nunca ocupam o mesmo lugar. O silencio da leitura nunca será como o texto capturado pelo dizer da voz.

Escrita e oralidade, individuo e coletividade, eis o grande dilema das letras ocidentais. Mas, tomando como referência a cultura letrada que define a época moderna, onde predomina a leitura silenciosa, não se trata aqui de uma oposição, é o modo como o silêncio se insurge contra qualquer texto que agora se coloca como questão.

O leitor é sempre um autor quando existem ouvintes. Mas quando só há o leitor em sua solidão e silêncio, o livro se apresenta como objeto de experiência. A linguagem já não é expressão de um dizer verdadeiro, mas simulacro, um outro lugar do humano que ganha corpo através da literatura (ficção). Esta última invenção moderna que se coloca a margem dos saberes formais, na fronteira do real,   escapa, entretanto,  a experiência do livro, como prisão do discurso. A literatura é devir, fluxo, obra. Sua natureza é o inacabamento, o indeterminado.

Escrever é um trabalho contra a linguagem e seus usos, algo que não se esgota em qualquer livro ou discurso. Escrever é uma forma do corpo exercer sua soberania contra a consciência e o império do eu existo. Escrever é servir-se das letras contra o uso cotidiano e racional das palavras.

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