terça-feira, 5 de fevereiro de 2019

O TEMPO DA MINHA EXISTÊNCIA


Não sou responsável por quem sou,
Nem por aquele que me torno.
Sou culpado por existir,
Por resistir,
Reinventando em segredo um outro mundo.

Tudo para mim é por vir
E habitar em um único segundo
Ontem eu sei que me farei outro,
Pois nasci futuro.

segunda-feira, 4 de fevereiro de 2019

PALAVRA IMAGEM



A palavra inventa uma imagem,
Um lugar de vida,
No fundo da minha imaginação.
Ela acorda uma paisagem arcaica,
Fora do tempo,
Mas que tem gosto forte de existência.

A imagem é um lugar que me habita
E fala em silêncio.
Ela me afeta,
Desperta intensidades e sonhos.
Ela é o fora que me revela por dentro.


sexta-feira, 1 de fevereiro de 2019

SOBRE O CORPO DO TEXTO



Existem pequenas curvas na trajetória das frases encadeadas. É verdade que quase não percebemos isso através do ritmo das palavras, das vírgulas e pontos, ou das escolhas secretas que inventam o sentido que extrapola o significado. Mesmo assim existem desvios, combinações abortadas, censuras, cuidados, escolhas e muitos silêncios.... a maior parte de um texto é definida pelos seus silêncios. o texto é povoado por muitos eus.

O que é dito é sempre pouco diante da riqueza do que foi escrito, de todas as interpretações, alucinações anônimas, que o próprio texto inventa para fugir ao autor que ele mesmo criou.
Por isso todo texto é inacabado e não comporta a ilusão de um livro.

Todo texto é labirinto...

CONSIDERAÇÕES NIETZSCHEANAS SOBRE O HOMEM DE PENSAMENTO


O homem de pensamento, desde Platão, mantem a cabeça nas nuvens. Evita a terra, o cheiro da vida. Julga-se qualquer aberração além de sua elementar animalidade. Sonha mesmo uma elevada ordem universal que aprisiona toda natureza e tudo que é manifesto.

O homem de pensamento possui máximas e formulas para tudo. O artificio moral lhe proporciona todas as armas necessárias a defesa de sua sagrada verdade.
Ele é  como cadáver do verdadeiro, escravo de gramáticas e abstrações.

Quase não enxerga o corpo que é, evita as artes...

Homens de pensamentos são definitivamente criaturas patéticas e sem alma.

quinta-feira, 31 de janeiro de 2019

AUTO RETRATO


Sou apenas uma pessoa viva
Falante e falada,
Afetante e afetada,
Perdida na paisagem.
Os usos do mundo me escapam
Através dos atos.
Existo profundamente
Onde não sou.
Tudo é intenso e diverso
Na intuição de um caos imenso.
A vida me ultrapassa através de cada palavra.

sexta-feira, 25 de janeiro de 2019

PALAVRA E SILÊNCIO



Gosto da palavra que nada informa.
Dos versos e frases que nada ensinam,
Que dispensam a farda da verdade,
E brincam com o ser das coisas
Em franco desatino.

Um pouco de confusão, por favor,
E alvoroço de letras dispersas.
Quero esconder minha voz na sensualidade das paisagens,
Inventar meu corpo dentro da cidade.

Gosto de palavras que visitam silêncios,
Que transbordam caladas de experiências.


INTENSIONALIDADE E TELEOLOGIA


Mesmo aqueles que buscam um destino ou um objetivo fixo não sabem o que vão encontrar através do caminho, se permanecerão fies ao seu objeto ao longo de sua busca e da invenção de suas narrativas e confissões de verdade.

Afinal, a experiência de viver é sempre imprevisível e todos os arranjos existenciais são provisórios e incertos. Dogmas e certezas podem nos definir um rosto, qualquer identidade. Mas não esclarecem este complexo fluxo de realidades que nos definem como um corpo através do mundo.

Habitamos processos e descobertas na medida em que socialmente inventamos a realidade. O chão sempre se move sob nossos pés. A questão é saber se mudamos com as coisas, ou mudamos as coisas, ou, ainda, se a própria mudança é este processo de encontro com as coisas mediante movimentos espirais de criação e recriação constante de formas de existência. Neste ponto confrontamos grandezas impessoais que nos atravessam e, ao mesmo tempo, nos configuram.


quinta-feira, 24 de janeiro de 2019

HIPERMODERNIDADE


Na hipermodernidade tudo é hybris,
tudo é exagerado,
Tudo transborda.
Tudo é excessivo.
Só há simulacro.
Onde há sentido
Existe o vazio.
Acontecem silêncios
Diante de um abismo pós moderno.

segunda-feira, 21 de janeiro de 2019

O CORPO NA NUDEZ DOS SIGNIFICADOS

O corpo não diz o eu. Ele é seu oposto.  Se o eu é um viver para si, o corpo é um viver para falta, para tudo que lhe transcende como conceito, para tudo que ele não é mas é através dele. Um sem número de bactérias e vermes definem um corpo. Ele é um arranjo múltiplo e provisório do mundo. 

O corpo transcende a linguagem. 

O corpo é mudo....

CORPO, MUNDO E SUBJETIVIDADE


É através do corpo que habitamos o mundo, que inventamos a nos mesmos mediante diversas estratégias de internalização do exterior. A subjetividade se produz neste processo que pressupõe sempre a pluralidade de um eu e de um outro. O próprio corpo afirma sua identidade móvel, múltipla, na medida em que se nutre de mundo, que é ele mesmo uma diversidade de coisas em uma unidade de arranjos provisórios, de interações permanentes. O subjetivo é sempre dialógico e condicionado a impessoalidade da linguagem, da circulação de signos e símbolos, dos seus arranjos de significado que sempre remetem a uma exterioridade.

Essa composição entre o corpo que  sou no movimento de estar contido e conter em si mesmo o mundo como experiência de si mesmo é o grande paradoxo que inventa a subjetividade em sua prossessualidade.