sexta-feira, 1 de fevereiro de 2019

SOBRE O CORPO DO TEXTO



Existem pequenas curvas na trajetória das frases encadeadas. É verdade que quase não percebemos isso através do ritmo das palavras, das vírgulas e pontos, ou das escolhas secretas que inventam o sentido que extrapola o significado. Mesmo assim existem desvios, combinações abortadas, censuras, cuidados, escolhas e muitos silêncios.... a maior parte de um texto é definida pelos seus silêncios. o texto é povoado por muitos eus.

O que é dito é sempre pouco diante da riqueza do que foi escrito, de todas as interpretações, alucinações anônimas, que o próprio texto inventa para fugir ao autor que ele mesmo criou.
Por isso todo texto é inacabado e não comporta a ilusão de um livro.

Todo texto é labirinto...

CONSIDERAÇÕES NIETZSCHEANAS SOBRE O HOMEM DE PENSAMENTO


O homem de pensamento, desde Platão, mantem a cabeça nas nuvens. Evita a terra, o cheiro da vida. Julga-se qualquer aberração além de sua elementar animalidade. Sonha mesmo uma elevada ordem universal que aprisiona toda natureza e tudo que é manifesto.

O homem de pensamento possui máximas e formulas para tudo. O artificio moral lhe proporciona todas as armas necessárias a defesa de sua sagrada verdade.
Ele é  como cadáver do verdadeiro, escravo de gramáticas e abstrações.

Quase não enxerga o corpo que é, evita as artes...

Homens de pensamentos são definitivamente criaturas patéticas e sem alma.

quinta-feira, 31 de janeiro de 2019

AUTO RETRATO


Sou apenas uma pessoa viva
Falante e falada,
Afetante e afetada,
Perdida na paisagem.
Os usos do mundo me escapam
Através dos atos.
Existo profundamente
Onde não sou.
Tudo é intenso e diverso
Na intuição de um caos imenso.
A vida me ultrapassa através de cada palavra.

sexta-feira, 25 de janeiro de 2019

PALAVRA E SILÊNCIO



Gosto da palavra que nada informa.
Dos versos e frases que nada ensinam,
Que dispensam a farda da verdade,
E brincam com o ser das coisas
Em franco desatino.

Um pouco de confusão, por favor,
E alvoroço de letras dispersas.
Quero esconder minha voz na sensualidade das paisagens,
Inventar meu corpo dentro da cidade.

Gosto de palavras que visitam silêncios,
Que transbordam caladas de experiências.


INTENSIONALIDADE E TELEOLOGIA


Mesmo aqueles que buscam um destino ou um objetivo fixo não sabem o que vão encontrar através do caminho, se permanecerão fies ao seu objeto ao longo de sua busca e da invenção de suas narrativas e confissões de verdade.

Afinal, a experiência de viver é sempre imprevisível e todos os arranjos existenciais são provisórios e incertos. Dogmas e certezas podem nos definir um rosto, qualquer identidade. Mas não esclarecem este complexo fluxo de realidades que nos definem como um corpo através do mundo.

Habitamos processos e descobertas na medida em que socialmente inventamos a realidade. O chão sempre se move sob nossos pés. A questão é saber se mudamos com as coisas, ou mudamos as coisas, ou, ainda, se a própria mudança é este processo de encontro com as coisas mediante movimentos espirais de criação e recriação constante de formas de existência. Neste ponto confrontamos grandezas impessoais que nos atravessam e, ao mesmo tempo, nos configuram.


quinta-feira, 24 de janeiro de 2019

HIPERMODERNIDADE


Na hipermodernidade tudo é hybris,
tudo é exagerado,
Tudo transborda.
Tudo é excessivo.
Só há simulacro.
Onde há sentido
Existe o vazio.
Acontecem silêncios
Diante de um abismo pós moderno.

segunda-feira, 21 de janeiro de 2019

O CORPO NA NUDEZ DOS SIGNIFICADOS

O corpo não diz o eu. Ele é seu oposto.  Se o eu é um viver para si, o corpo é um viver para falta, para tudo que lhe transcende como conceito, para tudo que ele não é mas é através dele. Um sem número de bactérias e vermes definem um corpo. Ele é um arranjo múltiplo e provisório do mundo. 

O corpo transcende a linguagem. 

O corpo é mudo....

CORPO, MUNDO E SUBJETIVIDADE


É através do corpo que habitamos o mundo, que inventamos a nos mesmos mediante diversas estratégias de internalização do exterior. A subjetividade se produz neste processo que pressupõe sempre a pluralidade de um eu e de um outro. O próprio corpo afirma sua identidade móvel, múltipla, na medida em que se nutre de mundo, que é ele mesmo uma diversidade de coisas em uma unidade de arranjos provisórios, de interações permanentes. O subjetivo é sempre dialógico e condicionado a impessoalidade da linguagem, da circulação de signos e símbolos, dos seus arranjos de significado que sempre remetem a uma exterioridade.

Essa composição entre o corpo que  sou no movimento de estar contido e conter em si mesmo o mundo como experiência de si mesmo é o grande paradoxo que inventa a subjetividade em sua prossessualidade.

quinta-feira, 17 de janeiro de 2019

ESBOÇO DE UM TEXTO IMPOSSÍVEL


Pretendia apenas o vazio de uma incoerência textual que inventasse uma narrativa nômade estabelecendo uma moldura para o silêncio. Queria produzir através da linguagem um dizer que não pudesse ser reduzido a informação, a prisão de qualquer discurso disciplinar, normativo ou racional.

Trata-se aqui da busca do relato de um mundo nu, sensorial e imediato. Um mundo que de tão vasto é, ao mesmo tempo, particular, intimo. Um mundo que habita subjetivamente outros mundos em estado de indeterminação e mutação permanente.


Um mundo que é palavra, mas acontece nas entranhas da terra como experiência abstrata de tudo aquilo que experimento no plano orgânico e inorgânico da imaginação.

Este mundo que é o próprio corpo envolto pelo ambiente. Que estabelece um dentro e um fora coincidentes como um se fazer mudo e ilegível, mas que guarda as intensidades, plasticidade e movimentos de uma melodia. Esse mundo é a própria vida irredutível a si mesma, indiferente a tudo que é vivo. Mas isso é apenas linguagem.... A vida não esta no se fazer destas linhas.

AMBIENTAÇÕES


Gosto de dias de chuva,
De frio,
De paisagens antigas,
De vento, verde e de mar.

Gosto da casa desarrumada e vazia,
Do silêncio que atravessa os objetos
Quase gritando meu nome.

Gosto da cama desfeita,
De livros e discos.

Gosto do que parece sonho,
De ambientes que embriagam.