sexta-feira, 25 de janeiro de 2019

PALAVRA E SILÊNCIO



Gosto da palavra que nada informa.
Dos versos e frases que nada ensinam,
Que dispensam a farda da verdade,
E brincam com o ser das coisas
Em franco desatino.

Um pouco de confusão, por favor,
E alvoroço de letras dispersas.
Quero esconder minha voz na sensualidade das paisagens,
Inventar meu corpo dentro da cidade.

Gosto de palavras que visitam silêncios,
Que transbordam caladas de experiências.


INTENSIONALIDADE E TELEOLOGIA


Mesmo aqueles que buscam um destino ou um objetivo fixo não sabem o que vão encontrar através do caminho, se permanecerão fies ao seu objeto ao longo de sua busca e da invenção de suas narrativas e confissões de verdade.

Afinal, a experiência de viver é sempre imprevisível e todos os arranjos existenciais são provisórios e incertos. Dogmas e certezas podem nos definir um rosto, qualquer identidade. Mas não esclarecem este complexo fluxo de realidades que nos definem como um corpo através do mundo.

Habitamos processos e descobertas na medida em que socialmente inventamos a realidade. O chão sempre se move sob nossos pés. A questão é saber se mudamos com as coisas, ou mudamos as coisas, ou, ainda, se a própria mudança é este processo de encontro com as coisas mediante movimentos espirais de criação e recriação constante de formas de existência. Neste ponto confrontamos grandezas impessoais que nos atravessam e, ao mesmo tempo, nos configuram.


quinta-feira, 24 de janeiro de 2019

HIPERMODERNIDADE


Na hipermodernidade tudo é hybris,
tudo é exagerado,
Tudo transborda.
Tudo é excessivo.
Só há simulacro.
Onde há sentido
Existe o vazio.
Acontecem silêncios
Diante de um abismo pós moderno.

segunda-feira, 21 de janeiro de 2019

O CORPO NA NUDEZ DOS SIGNIFICADOS

O corpo não diz o eu. Ele é seu oposto.  Se o eu é um viver para si, o corpo é um viver para falta, para tudo que lhe transcende como conceito, para tudo que ele não é mas é através dele. Um sem número de bactérias e vermes definem um corpo. Ele é um arranjo múltiplo e provisório do mundo. 

O corpo transcende a linguagem. 

O corpo é mudo....

CORPO, MUNDO E SUBJETIVIDADE


É através do corpo que habitamos o mundo, que inventamos a nos mesmos mediante diversas estratégias de internalização do exterior. A subjetividade se produz neste processo que pressupõe sempre a pluralidade de um eu e de um outro. O próprio corpo afirma sua identidade móvel, múltipla, na medida em que se nutre de mundo, que é ele mesmo uma diversidade de coisas em uma unidade de arranjos provisórios, de interações permanentes. O subjetivo é sempre dialógico e condicionado a impessoalidade da linguagem, da circulação de signos e símbolos, dos seus arranjos de significado que sempre remetem a uma exterioridade.

Essa composição entre o corpo que  sou no movimento de estar contido e conter em si mesmo o mundo como experiência de si mesmo é o grande paradoxo que inventa a subjetividade em sua prossessualidade.

quinta-feira, 17 de janeiro de 2019

ESBOÇO DE UM TEXTO IMPOSSÍVEL


Pretendia apenas o vazio de uma incoerência textual que inventasse uma narrativa nômade estabelecendo uma moldura para o silêncio. Queria produzir através da linguagem um dizer que não pudesse ser reduzido a informação, a prisão de qualquer discurso disciplinar, normativo ou racional.

Trata-se aqui da busca do relato de um mundo nu, sensorial e imediato. Um mundo que de tão vasto é, ao mesmo tempo, particular, intimo. Um mundo que habita subjetivamente outros mundos em estado de indeterminação e mutação permanente.


Um mundo que é palavra, mas acontece nas entranhas da terra como experiência abstrata de tudo aquilo que experimento no plano orgânico e inorgânico da imaginação.

Este mundo que é o próprio corpo envolto pelo ambiente. Que estabelece um dentro e um fora coincidentes como um se fazer mudo e ilegível, mas que guarda as intensidades, plasticidade e movimentos de uma melodia. Esse mundo é a própria vida irredutível a si mesma, indiferente a tudo que é vivo. Mas isso é apenas linguagem.... A vida não esta no se fazer destas linhas.

AMBIENTAÇÕES


Gosto de dias de chuva,
De frio,
De paisagens antigas,
De vento, verde e de mar.

Gosto da casa desarrumada e vazia,
Do silêncio que atravessa os objetos
Quase gritando meu nome.

Gosto da cama desfeita,
De livros e discos.

Gosto do que parece sonho,
De ambientes que embriagam.


quarta-feira, 16 de janeiro de 2019

CARTOGRAFIA AFETIVA



Sei meu corpo no mundo e o mundo em meu corpo.
Tudo é em um só momento dentro e fora.
Paisagem e passagem
Sempre movimento.

Atravessa o corpo
O múltiplo em dispersão.

Há muitos tempos,
Inúmeras errâncias,
Pulsando como meu coração.

Desertos dispersam no vento
No vertiginoso  fluxo
Que define tudo.

A EDUCAÇÃO COMO PROBLEMA


O otimismo iluminista (ou socrático) de que a educação pode nos conduzir ao melhor dos mundos ou, seja, a emancipação ou maioridade da própria humanidade, ainda frequenta nosso imaginário contemporâneo. Talvez isto se deva ao fascínio pela “verdade” que orienta desde os gregos a chamada civilização ocidental. A mitificação do saber e do conhecimento, da razão, seja como traço divino no homem, como na Idade Media, ou como instrumento de transcendência da natureza, como na época moderna, nos conforma a modos de vida profundamente influenciados por uma suposta autoridade ou superioridade do conhecimento sobre a vida. O viver, o bem viver, não é tido como um valor, como uma estratégia pessoal de auto desenvolvimento.  A introjeção de  saberes formais, canônicos e hierarquizados é o parâmetro para definição daqueles cuja fala é ou não é pertinente em termos sociais.  Desta forma, a educação se reduz a um mecanismo de seleção e adequação a norma, a "verdade", e ao conformismo social. Ela não nos proporciona qualquer potencial emancipatório, como propagado pelas narrativas dominantes. 

segunda-feira, 14 de janeiro de 2019

ENTRE O EU E O MUNDO

Internalizar o mundo e saber a existência através das coisas define a vida. A consciência é sempre um deslocamento, um modo de escapar a si mesmo  através de cada gesto, de cada abstrato ato de pensamento. Quem sou eu é uma pergunta que não faz sentido. Não passo de um vazio que se inventa na fronteira incerta entre o eu e o mundo.