Não quero
recorrer à erudição filosófica para falar sobre a linguagem e sua experiência
concreta. Afinal, seja em qualquer perspectiva possível, falar sobre linguagem
através da linguagem, é no mínimo uma espécie de paradoxo cognitivo. Mas infelizmente
não existe um plano exterior a seu exercício ou analise. O ser da linguagem nos
escapa, pois não se identifica com o conteúdo de qualquer texto ou narrativa possível
que lhe tome como objeto. Não é algo representável. Sua própria significação
como experiência de letramento, como exercício normatizado do uso de signos e símbolos
que se entrelaçam em significados, que se afastam dos ritos e recursos da fala,
não pode ser satisfatoriamente definido conceitualmente.
O ser da
linguagem antecede o texto, problemática exaustivamente explorada por Foucault
ao longo dos anos 60 do século passado. Retomar o tema é constatar que a experiência
da linguagem é a interiorização de exterioridades, é a desconstrução de
qualquer noção de sujeito ou de interioridade. Desta forma, nos afastamos do
segundo Wittigenstein e seus jogos de linguagem. Não é seu funcionamento que
nos interessa, que nos esclarece qualquer coisa. Também recusamos a linguística
e qualquer psicologia da linguagem. Ela escapa ao campo de qualquer saber e, ao
mesmo tempo, perpassa todos.
Nada de
conclusivo é possível dizer sobre o tema. Seu exercício é uma busca, um labirinto,
que remete a questão da imaterialidade e indeterminação do sentido que encanta
qualquer enunciado.
O que podemos afastar, é a ideia de que a linguagem destina-se a comunicação. Ela não é um meio utilitário ou um instrumento mecânico.