Considero o conceito de complexos afetivos autônomos desenvolvido por
Jung, a partir dos testes de associação de palavras, realizados de forma
experimental no inicio de sua carreira psiquiátrica, uma das contribuições mais relevantes da
chamada psicologia analítica para cartografia da psique. Afinal, quem pode
negar que os deuses tornaram-se doenças? Quem pode evitar o espinhoso tema das
interseções destas afetividades personificadas nas nossas opções e práticas
mais cotidianas? Conteúdos constelados nos invadem como uma possessão. Não
somos senhores do que sentimos, do que pensamos e, muito menos, somos o que
somos. Afinal estamos falando sobre entidades psíquicas que gravitam em torno
da consciência, mas inexistem atuando como uma espécie de extra ser. Jung nos
possibilita dizer, na contramão do iluminismo, que as ideias pensam através de
nossas emoções.
Este Blog é destinado ao exercicio ludico de construção da minima moralia da individualidade humana; é expressão da individuação como meta e finalidade ontológica que se faz no dialogo entre o complexo outro que é o mundo e a multiplicidade de eus que nos define no micro cosmos de cada individualidade. Em poucas palavras, ele é um esforço de consciência e alma em movimento...entre o virtual, o real, o simbolo e o sonho.
quarta-feira, 15 de agosto de 2018
terça-feira, 14 de agosto de 2018
TEMPO E MEMÓRIA
O cultivo de nossas lembranças nos definem no tempo virtual de nossa consciência, orienta nossa existência no sentido de identidades. Mas a verdade é que não passa de uma didática de perdas e transformações que nos lança ao desabrigo de nossa singularidade. Onde sei quem sou má defino mundo, alheio a mim mesmo é passageiro de pessoas e lugares que desenham acontecimentos. Mas não há substância no acontecer das coisas.
segunda-feira, 13 de agosto de 2018
DIFERENÇA E CONTEMPORÂNEIDADE
“No ser, a profundidade e a
intensidade são o Mesmo - mas o mesmo que se diz diferença. A profundidade é
intenidade do ser ou inversamente. E dessa profundidade intensiva, desse
spatium, saem ao mesmo tempo, a extensia e o extensum, a qualitas e o quale.”
Guilles Deleuze in Diferença e Repetição
O que é a diferença? Seguindo os passos de Deleuze podemos responder de
forma complexa a esta questão falsamente simples partindo da premissa de que
ela é o oposto da identidade. Como disse Nietzsche em Verdade e mentira do ponto de vista extra
moral, “Nunca uma folha é inteiramente igual a outra.” Contrariando o mundo
verdade da identidade da razão representativa, o ser é diferença e multiplicidade. Este é o afeto
que nos transforma através de novos agenciamentos e maquinações de um
pensamento nômade, que foge ao jogo dos significantes e dops significados.
Percebemos que somos em multiplicidades, que no além do saber verdade
das praticas discursivas tradicionais, nos confrontam com a univocidade do
acontecimento dos seres. Somos, assim, cada um de nós, o lugar do não lugar que
percorre todas as coisas, inventando-se como singularidade entre diferenças e
repetições.
É a diferença e não a identidade que nos define em um mundo cada vez
mais descentrado. Ela nos lança, através do pensamento, no abismo
indiferenciado das singularidades impessoais, onde não existem sujeitos a
priori. O ser é, em poucas palavras, um produto do caos. A diferença é
basicamente simulacro que nos situa em um espaço descodificado, liso, que nos
conecta a exterioridade de nós mesmos através das coisas, onde somos meros
estetas de nossas próprias vidas.
Parafraseando Deleuze em Logica do Sentido, imersos na dupla direção do
mundo, vivemos o paradoxo daquilo que destrói o bom senso como sentido único,
mas, em seguida, o que destrói o senso comum como designação das identidades fixas
em um devir sempre inacabado.
O mundo contemporâneo é o mundo dos simulacros onde as identidades são
simplesmente simuladas subvertendo seus próprios modelos. Pensando em Platão,
cabe dizer que a diferença começa a sair de sua caverna e deixa de ser um
monstro.
sexta-feira, 10 de agosto de 2018
quinta-feira, 9 de agosto de 2018
A EXPERIÊNCIA DO MUNDO
A distinção entre o sensível e o inteligível é um equívoco da razão representativa, do falso jogo do Ser e do devir. A experiência da existência é diluir-se entre coisas e processos múltiplos e simultâneos, em micro e macro processos e experiências de ver e dizer. Mas é através do nada de nossas praticas discursivas que toda a realidade é inventada como consciência e significado, como o acontecer de um sentido que nos consome e ultrapassa. Cada um de nós é incapaz de dar conta da experiência do mundo, das diversas manifestações do nada que preenche de existência tudo que se faz possível como realidade vívida.
terça-feira, 7 de agosto de 2018
O QUE É LIBERDADE?
A liberdade não é um fundamento ontológico da condição humana. Em nossa relação com o mundo somos definidos pela necessidade.
A liberdade é uma construção, um artificio, que se confunde com uma ética e uma estética de vida. Desta forma ela modifica o modo como interiorizamos o mundo como acontecimento, como fluxo constante de experiências diversas.
Liberdade é elevar a imaginação e a arte a condição de afeto mediante diversas estratégias de des subjetivação
segunda-feira, 6 de agosto de 2018
O QUE SOMOS NÓS? SOBRE FOUCUALT E A HERMENEUTICA DO PENSAMENTO
Uma passagem de Paul Vayne em
Foucault: O Pensamento, A Pessoa, nos instiga a pensar as formações históricas
e as práticas discursivas que circulam e configuram uma época e sociedade:
“ Em cada época, os contemporâneos encontram-se assim fechados em
discursos como em aquários falsamente transparentes, ignoram quais são e até
que existe um aquário. As falsas generalidades e os discursos variam através do
tempo; mas, em cada época, passam por verdadeiros. De tal modo que a verdade é
reduzida a dizer a verdade, a falar conforme o que se admite ser verdadeiro e
que fará sorrir um século mais tarde.”
A originalidade da pesquisa
foucaultiana está em trabalhar sobre a verdade no tempo sem, entretanto, cair
em qualquer forma de relativismo. O sujeito do conhecimento não é soberano, já
o sabemos desde Freud e Nietzsche, tal premissa inspira em Foucault uma hermenêutica
das práticas discursivas ou estabelece o domínio de uma espécie de “inconsciente do saber”
no além dos universais antropológicos.
O discurso se impõe como um a
priori histórico configurado por dispositivos de saber/poder, estabelece um
regime de verdade que define, em todos os níveis das praticas cotidianas, o
verdadeiro e o falso, o possível e o impossível. A ontologia diferencial de nós
próprios torna-se neste contexto, parafraseando Paul Vayne, uma exegese histórica
de nossos limites, nos permite ousar pensar diferente, em vez de legitimar
aquilo que já se sabe.
Trata-se aqui de pensar a atualidade
da Filosofia como um trabalho critico do pensamento sobre si mesmo, como uma
critica permanente da precariedade de nosso ser histórico.
Afinal, o que somos nós?
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