sexta-feira, 22 de junho de 2018

A LINGUAGEM COMO GEOGRAFIA




Habito um hábito,
Na palavra como geografia de signos e símbolos.
Mas não me abrigo no significado,
Procuro o campo aberto dos paradoxos,
Das intensidades e experiências
De um dizer imanente
Onde a linguagem se confunde com o corpo,
E os atos, abstratos e concretos,
se transformam em enunciados.

quinta-feira, 21 de junho de 2018

O EU DENTRO DO MUNDO



Existe um ponto hipotético onde não é mais possível separar o eu do mundo. 

É quando o dizer se faz fazer e o significado apresenta-se como movimento incerto entre o corpo e as coisas.
Tal plenitude do sentido anula qualquer ilusão subjetiva. É quando o devir domina o tempo e inventa lugares dentro da experiencia.  

A intuição do indeterminado redimensiona todos os atos. Somos, então, meras testemunhas de nossos próprios pensamentos.

segunda-feira, 18 de junho de 2018

SOBRE INTERCESSORES E A CRIAÇÃO DA REALIDADE



Para Deleuze, a verdade não é algo pré existente. É algo que a falseia ideias pré concebidas. A potência do falso produz o verdadeiro. A verdade, enquanto uma construção social,  pressupõe a ação de intercessores,

“O essencial são os intercessores. A criação  são os intercessores. Sem eles não há obra. Podem ser pessoas- para um filosofo, artistas ou cientistas; para um cientista, filósofos ou artistas- mas também coisas, plantas, até animais, como em Castaneda. Fictícios ou reais, animados ou inanimados, é preciso fabricar seus próprios intercessores. É uma série. Se não formamos uma série, mesmo que completamente imaginária, estamos perdidos. Eu preciso de meus intercessores para me exprimir, e eles  jamais se exprimiriam sem mim: sempre se trabalha em vários, mesmo quando isso não se vê. E mais ainda quando é visível: Felix Guattari e eu somos intercessores um do outro.” (Guilles Deleuze. Conversações 1972-1990. RJ: Editora 34, 1992, p.156)

Os intercessores nos permitem dizer, exprimir, fabular, criar. São essenciais a prática discursiva e aos fluxos de pensamento. Jamais estamos sozinhos no fragrante delito de fabular, de criar o real. Não há verdade que não pressuponha um sistema simbólico e um esforço inventivo.

SOBRE O ANTI ÉDIPO E MIL PLATÔS


Quando se escreve recusando o significate, procura-se escapar  a lei da sobrecodificação despódica. Como Deleuze & Gattari em o Anti Édipo e Mil Platôs, busca-se uma concepção dos agentes coletivos de enunciação que ultrapasse o corte entre sujeito de enunciação e sujeito do enunciado. Os fluxos contínuos de conteúdo e expressão em seus agenciamentos maquinicos prescindem de significante. Eles apenas funcionam em linhas de descodificação absoluta que se opõem a cultura.

Esquizo livros, livros máquinas, livros uso. É assim que o Anti Édipo e Mil Platôs se tornam leituras do quase ilegível, onde a linguagem e o texto acontecem como musica, ganham velocidades e ritmos, timbres e melodias... intensidades.

Há coisas clandestinas dentro da escrita através dos conceitos que dizem acontecimentos.


quinta-feira, 14 de junho de 2018

ESPAÇO E PENSAMENTO

O espaço é onde tudo está disposto.
É o meio do movimento.
Existimos em coordenadas.
A própria palavra é um lugar.
Dizer é definir territórios.
O corpo é espaço dentro de outros espaços.
O pensamento é uma forma de estar fora do lado de dentro.

quarta-feira, 13 de junho de 2018

O AVESSO DA ONTOLOGIA


A realidade é como um sonho.
Não passa de uma fantasia.
Mas nela estamos contidos
Através das imaginações que nos atravessam.
Há sempre um dentro no que existe fora,
Um silêncio que nos surpreende.
Somos exteriores a nós mesmos
Inventando uns aos outros.
Precisamos sempre de novo
Transbordar a realidade
Na constância de um só momento
Que sempre nos surpreende outro.
Mas toda eternidade é apenas um ponto
Que define o estático correr do tempo
Enquanto a realidade inverte a si mesma
Revelando o devir contra a consciência.
Neste exato momento já estou onde estive antes do meu nascimento.
Cada lugar é parte da totalidade de lugar nenhum.





segunda-feira, 11 de junho de 2018

UMA IMAGEM DE PENSAMENTO




Há uma zona de caos em meus pensamentos.
Um lugar de dúvidas e incertezas
Onde  crescem silêncios.
Por lá fantasias vagam atônitos
Buscando a forma de  conceitos,
Enunciados e significados,
Procuram alcançar algo que vive em segredo
Entre os afetos, as vontades e os gestos.
Nesta zona de caos os abismos são planos,
Tudo é incerto e provisório.
Não há razão ou verdade,
Nenhuma forma de eternidade.
Mas algo de impreciso acontece
Como um lado de fora do pensamento
Nesta zona indecisa entre o real e o virtual  de abstratos acontecimentos.




domingo, 10 de junho de 2018

A VIDA DOS LUGARES

Os lugares possuem sua própria história e sua própria vida. Mesmo quando os convertemos em território, quando os habitamos,  não passamos de nada além de um ponto na paisagem. Não importa o quando moldados em função de nossos usos e necessidades, os lugares sempre nos ultrapassam.
 
Neste ponto onde estou agora, por exemplo, quantas pessoas viveram em outras ambientações e tempos esta mesma espacialidade? poderia responder que este mesmo lugar era outro... que ele não me pertence como nunca pertenceu a ninguém antes de mim em seu devir morfológico.

A vida da paisagem não é biológica. Ignora o sentido, os artifícios do pensamento, os edifícios e transformações que lhe impomos. A terra não é a cidade. Embora a cidade seja a terra.
É preciso fugir a familiaridade da paisagem para redescobri-lá em sua silenciosa existência e movimento. Ela sempre existe além de suas configurações de momento.

O CAOS E O DESERTO

O deserto cresce
Enquanto o nômade
Contempla a estepe
Imóvel em seu movimento
Até desaparecer na paisagem.
Agora o Ser do silêncio é linguagem.
O caos avança trazendo o novo no vento.
Ele acontece informe em todas as partes.

quarta-feira, 6 de junho de 2018

APENAS MAIS UM


A experiência escapa a subjetividade.
Ela não me define como indivíduo,
mas me afirma como parte dos outros, me confirma como um número. 

Estou confinado à rótulos e identidades.
Tudo que posso dizer ou fazer,
Apesar das minhas escolhas,
Encontra-se pré definido.

Experimento o momento
Aprendendo sempre de novo
A ser como os outros.